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Comportamento

Pensar nos bons momentos ao lado de quem partiu ajuda superar luto

O Lado B conversou com algumas pessoas que relataram a experiência de enfrentar a dor da partida, em Campo Grande

Alana Portela | 02/11/2019 07:10
Márcia Aparecida não gosta de tristeza e leva flores para o pai (Foto: Alana Portela)
Márcia Aparecida não gosta de tristeza e leva flores para o pai (Foto: Alana Portela)

É difícil lidar com a dor da partida. A ferida não quer sarar e o único desejo nesse momento é acordar do pesadelo que te faz tão mal. Contudo, o sono é profundo, e o jeito tentar mudar o rumo do sonho.

O Lado B conversou com pessoas que relataram a experiência de enfrentar o período do luto, em Campo Grande. No meio das angústias e tristezas, a saída é recordar os bons momentos ao lado de quem se foi e deixou o rastro da saudade. “Sempre me lembro do beijo no rosto que minha mãe me deu. Fico feliz”, conta Theodoro Parede.

Ele é aposentado, tem 69 anos, mora no Jardim Nhá-nhá. Sempre que pode, percorre mais de 12 quilômetros até chegar ao Cemitério do Cruzeiro para visitar o túmulo da mãe, Fernanda. “Ela faleceu há 25 anos, por conta de problemas no coração. A gente morava na mesma casa, estava ao lado dela quando aconteceu. Ela estava com 90 anos. Sinto saudade, mas tenho que me conformar”, afirma.

Theodoro Parede lembra do beijo no rosto que ganhou da mãe (Foto: Alana Portela)
Theodoro Parede lembra do beijo no rosto que ganhou da mãe (Foto: Alana Portela)
Catarina da Silva Rodrigues se emociona ao chegar no túmulo do marido que faleceu há 25 dias (Foto: Alana Portela)
Catarina da Silva Rodrigues se emociona ao chegar no túmulo do marido que faleceu há 25 dias (Foto: Alana Portela)

Márcia Aparecida é assistente educacional, trabalha numa escola e comenta sobre a ideia que teve para escapar do sofrimento. “Sei que não gostaria de me ver assim, por isso não fico triste. Bate saudade, principalmente quando chego em casa e vejo as coisas dele, sinto o cheiro. Porém, lembro das nossas brincadeiras e risadas. A minha sensação é de que meu pai viajou”.

“Morreu aos 73 anos após um infarto. No dia eu e minha mãe estávamos trabalhando numa feira à noite, quando voltamos pra casa o encontramos sem vida. Foi um choque, mas penso que foi melhor a gente ter visto do que ter recebido a notícia por outros. Chorei, não quis acreditar”, lembra.

O pai era o alicerce da família. “Era tudo pra gente, me ensinou a ser honesta e trabalhadora. A família é alegre. Todo dia era dia de fazer algo que gostava. Recentemente, havia ganha um prêmio em dinheiro de uma aposta e comprado tudo que queria”, diz Márcia.

A perda de Catarina da Silva Rodrigues é mais recente. Há 25 dias disse “adeus” ao marido Orlando. A ficha ainda não caiu, e ela leva flores e velas para “conversar” com seu grande amor. “Não vou deixá-lo aqui. Chamava eu de mulher trabalhadora e me incentivava. Fui casada outras vezes, mas nenhum conseguiu fazer o que o Orlando fez por mim. Construiu uma casa, com laje e tudo, e me deu. Ia ao mercado comprar as coisas pra gente. Gratidão”, diz ela sorrindo.
Mas a morte não é o fim. “Acredito que vamos nos encontrar em outro plano. Vivi mais de 20 anos com ele, o amei muito, aquele moreno dos olhos verdes”, afirma ela.

Catarina conta que viveu bons momentos ao lado do marido (Foto: Alana Portela)
Catarina conta que viveu bons momentos ao lado do marido (Foto: Alana Portela)
Catarina tentando acender as velas em memória do falecido (Foto: Alana Portela)
Catarina tentando acender as velas em memória do falecido (Foto: Alana Portela)

Catarina estava com Orlando quando ele teve AVCs [Acidente Vascular Cerebral] pela quinta vez. “Há mais de dez anos vinha sofrendo com isso. Estava com problemas de saúde e eu quis cuidá-lo. O acompanhava em tudo. Saiu do CTI [Centro de Tratamento Intensivo] quatro dias antes de falecer”.

“No quarto, quando ele acordou ficou me olhando e perguntei o motivo. Falei: Se você pensa que vai se livrar de mim, está muito enganado. Sorriu, fez o joinha com a mão e permaneceu calado. No dia seguinte, enquanto eu dormia na cadeira senti um vento gelado e acordei. Achei que o Orlando estivesse com frio também e fui cobri-lo, vi que estava com a boca aberta e me assustei. Uma enfermeira chamou o médico e falaram para eu ficar fora da sala”, recorda.

Assustada e já pressentindo o pior, ela ligou para uma das filhas. “Depois o médico veio e pedi para não mentir pra mim. Falou para eu ser forte e disse que não conseguiu reanimar o Orlando. Desde então, não quis mais ficar na nossa casa. Prefiro estar com os meus filhos, é minha distração. Tá difícil, porém esse é meu jeito de superar. Gosto de conversar e assim vou lutando e lembro-me da nossa história. Tenho esperança de vê-lo outra vez”.

Catarina levou flores e velas para colocar no túmulo do falecido, que está no Cemitério do Cruzeiro. “Trouxe isso, mas vou mandar fazer uma plaquinha com o nome e comprar uma cruz pela alma dele”. No local, ela “falou” com Orlando. “Oh meu veio, por que me deixou? Não vou te esquecer”.

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No cemitério, Catarina "conversa" com o marido que partiu (Foto: Alana Portela)
No cemitério, Catarina "conversa" com o marido que partiu (Foto: Alana Portela)
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