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Comportamento

Personagem peculiar tem coleção curiosa de 26 anos de campanhas eleitorais

Paula Maciulevicius | 25/09/2014 06:19
Quem se lembra? Brasil teve plebiscito para escolher sistema e forma de governo em 93. (Foto: Marcelo Victor)
Quem se lembra? Brasil teve plebiscito para escolher sistema e forma de governo em 93. (Foto: Marcelo Victor)

Santinhos, adesivos, bótons, chaveiros e até bonés, do tempo em que a legislação permitia. De 1988 até hoje, são 26 anos de material das eleições guardado em pastas. A paixão pela política fez com que Carlos Eduardo Higa, de 41 anos, armazenasse as propagandas dos candidatos das duas últimas décadas.

A coleção é peculiar, de um personagem um tanto "inusitado". Higa é ex-padre, se dedicou ao sacerdócio por 10 anos, há quatro deixou a igreja Católica e hoje estuda para se tornar reverendo da igreja Anglicana. À época da primeira "renúncia", ele pediu exoneração do cargo público federal.

"Tudo parte de uma experiência de fé, pela minha vontade de fazer mudar o mundo, eu segui pela veia religiosa". A mesma experiência que o levou a ser padre, também o fez mudar o caminho. Mas ao contrário do que acontece na maioria dos casos, com Carlos Eduardo, nenhuma mulher foi a causa da transformação. "O que me levou para a igreja, me levou à outras vivências religiosas", justifica. Até ser ordenado, ele segue com a profissão de corretor de imóveis e também estuda a quarta faculdade, de Sociologia.

As páginas da coleção têm, desde Eneas sem barba, ao adesivo do Silvio Santos, que até tentou ser candidato a presidência em 1986. Nas recordações, estão as campanhas de Collor, Mário Covas e também regionais, de candidatos da colônia japonesa. São nomes que deixaram a política e outros que permaneceram até com certa surpresa.

Pelas folhas das pastas, se recorda que o Brasil passou por um plebiscito em 1993, para decidir o sistema e a forma de governo entre monarquia, república, parlamentarismo ou presidencialismo. Os materiais foram colhidos no decorrer do tempo, mas a coleção mesmo começou de 1989 pra cá.

A coleção é peculiar, de um personagem um tanto "inusitado", Higa é ex-padre. (Foto: Marcelo Victor)
A coleção é peculiar, de um personagem um tanto "inusitado", Higa é ex-padre. (Foto: Marcelo Victor)
Cédula oficial ilustrada como "colinha". (Foto: Marcelo Victor)
Cédula oficial ilustrada como "colinha". (Foto: Marcelo Victor)

"Fui juntando, achava legal, quando me dei conta já tinha bastante coisa", diz Carlos. Entre elas, o modelo de cédula oficial, item que ficou obsoleto com a chegada das urnas eletrônicas. "O pessoal hoje nem mais conhece cédula de papel", comenta. Na dele, aparecia "Plínio Barbosa Martins" como candidato a prefeito. O modelo era como uma espécie de "colinha".

Com o tempo, a coleção foi virando souvenir que os amigos traziam de fora, o que justifica o material de campanha do Estado de São Paulo, além dos municípios do interior. "Olha só, de Jânio Quadros quando foi candidato em 86. Foi algo surreal, ele conseguir voltar", pontua.

Cada nome e época contam um pouco do contexto histórico da política brasileira. O material do Partido dos Trabalhadores, por exemplo, não era de distribuição gratuita não, chegava a ser pago pelos militantes na retirada.

Uma das cartilhas que chamam atenção é do ex-deputado Sérgio Cruz. "Veneno contra ratos", era mais ou menos este o slogan dele. "Na época ele dizia ser a solução para a política", recorda o colecionador.

Adesivo do Silvio Santos, quando tentou ser candidato. (Foto: Marcelo Victor)
Adesivo do Silvio Santos, quando tentou ser candidato. (Foto: Marcelo Victor)
"Veneno contra Ratos", era a propaganda de Sérgio Cruz. (Foto: Marcelo Victor)
"Veneno contra Ratos", era a propaganda de Sérgio Cruz. (Foto: Marcelo Victor)

A partir de 1998 que Carlos organizou por campanha e cada pasta tem descrito o ano e quais cargos entraram na disputa. A justificativa para tanto zelo com os santinhos que hoje a gente joga fora é que a política é interessante e transformadora. "Se for olhar como maneira de estudar acaba tendo visão de como ela impacta na vida das pessoas, pode não parecer hoje, mas ela faz sim uma diferença de quatro em quatro anos e às vezes a gente não se dá conta disso".

Diante da memória curta do brasileiro, de não se lembrar para quem deu o voto, o colecionador é uma exceção. "Eu tenho uma linha ideológica que me faz ser mais fiel e eu sempre lembro em quem eu votei".

No panorama geral, a coleção mostra que mudam os candidatos "folclóricos", mas de resto, são sempre os mesmos e mais, que fidelidade partidária parece não existir. "Se sai em vários partidos. Se você juntar, com o tempo vai ter uma noção histórica", sustenta.

Carlos Eduardo aceita doações de materiais de campanha e um dia, futuramente, pretende organizá-la de maneira pública. Pasta por pasta contam a história política do nosso Brasil.

Candidatos "folclóricos" são rotativos. (Foto: Marcelo Victor)
Candidatos "folclóricos" são rotativos. (Foto: Marcelo Victor)
Coleção tem até Eneas sem barba. (Foto: Marcelo Victor)
Coleção tem até Eneas sem barba. (Foto: Marcelo Victor)
Com o tempo, a coleção foi virando souvenir que os amigos traziam de fora. (Foto: Marcelo Victor)
Com o tempo, a coleção foi virando souvenir que os amigos traziam de fora. (Foto: Marcelo Victor)
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