ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  26    CAMPO GRANDE 28º

Comportamento

Porteiro há quase 30 anos no Rádio Clube, Zezão já é vovô entre os sócios

Paula Maciulevicius | 27/12/2013 06:19
Zezão entrou no lugar do tio em 1986 e dele herdou o apelido. (Fotos: Cleber Gellio)
Zezão entrou no lugar do tio em 1986 e dele herdou o apelido. (Fotos: Cleber Gellio)

Dos 90 anos de história, três décadas do Rádio Clube Cidade passaram debaixo do bigode de José Antônio dos Santos. O porteiro Zezão, tem 27 anos de trabalho na esquina das ruas Barão do Rio Branco e Padre João Crippa. Com 1,90m de altura e fala imponente, o tamanho todo vai abaixo quando ele tira do bolso um lenço e enxuga os olhos. As palavras são de carinho para com a família que ele vê diariamente, os sócios.

O clube que já viveu os anos dourados, reuniu a sociedade campo-grandense e foi palco dos melhores bailes que a cidade já dançou, tem uma relíquia à porta, que foi contratada justamente pela altura. Zezão entrou no lugar do tio em 1986 e dele herdou o apelido.

“Eu era segurança, inclusive trabalhei na casa do Lúdio Coelho, quando era prefeito e do Ary Rigo. Aí, o presidente da época, Mohamed Zaher, me chamou para trabalhar na boate porque ele queria um porteiro à altura”, relembra com trocadilho.

Foram dois anos de boate até que foi inaugurada a portaria na Barão do Rio Branco, onde Zezão entrou como porteiro e logo se tornou encarregado de portaria, função que ocupa até hoje.

Quando começou, Zezão ainda tinha cabelos e bigodes escuros.
Quando começou, Zezão ainda tinha cabelos e bigodes escuros.

Em média são mil pessoas que passam por ali das 6h até 22h, horário de encerramento das aulas. Pergunto se são mil bom dias e boas tardes que ele distribui. “Não, não, tem o tudo bem, como vai”, completa.

À época de início na portaria, Zezão ainda tinha cabelos e bigodes escuros. Hoje, só ficou o bigode e o pouco de cabelo, já está todo branco. Ele nega que tenha sido a trabalheira que os sócios dão, prefere dizer que é genética mesmo.

Além da mudança na entrada, Zezão acompanhou o declínio do Rádio. Da carteirinha de sócio com tíquete de manutenção pago, até o cartão magnético que acusa a mensalidade em dia, às lutas para resgatar o que um dia foi o Rádio Clube.

“As lembranças que a gente tem é dos bailes, dos Carnavais, coisa que a gente guarda até hoje” diz. Isso, da alegria com quem os sócios chegam e da espontaneidade que o sorriso largo demonstra, de quem aproveitou a festa.

A maior parte dos sócios ele conhece por nome. Zezão já é vovô da turma. “A gente está aqui para proteger esse povo e como cuidou dos pais, hoje cuida dos filhos. Eles são a minha família”, declara.

Até hoje ele se recorda de Ramez Tebet cruzando a catraca. Nas fotos espalhadas em banners na entrada, estão políticos como o ex-prefeito Nelsinho Trad e o atual prefeito de Corumbá, Paulo Duarte, em partidas de futebol. Do mais alto escalão aos mais simples, não tem quem passe pela portaria sem o seu cumprimento. “Lidar com povo é muito gratificante, eu nem imagino o que estaria fazendo hoje se não estivesse no Rádio, porque a gente mora mais aqui do que em casa e é a minha maneira de conviver com o povo”, comenta.

A casa mesmo do porteiro é lá no conjunto Aero Rancho, de onde ele vem de manhã, de ônibus, carro ou de carona. O horário de expediente é da tarde para a noite, mas como encarregado, ele faz questão de ver tudo de perto.

“O pessoal brinca, nossa Zezão, é só você que trabalha? Eu saí ontem era você que estava aqui, hoje eu chego e é você. É que hoje em dia tem que gostar do que a gente faz e eu gosto”, conta.

Do Zezão tio, ao sobrinho, José Antônio passou a portaria para a segunda geração. O filho, Marcos Antônio dos Santos, já tem mais de 10 anos como porteiro da sede do Rádio Clube Campo. E como não podia de ser, é conhecido como ‘Marcão’.

Se ele vai sair da portaria, nem Zezão sabe dizer. Prefere modestamente dizer “ninguém é insubstituível”.

Do trabalho de porteiro, ele diz que a missão é proteger o povo e que hoje cuida dos filhos de quem cuidou no passado.
Do trabalho de porteiro, ele diz que a missão é proteger o povo e que hoje cuida dos filhos de quem cuidou no passado.
Nos siga no Google Notícias