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Comportamento

Porteiro tem de inventar desculpa, ajudar bêbado e ainda fingir que não viu nada

Paula Maciulevicius | 01/08/2013 07:05
Sem nem precisar pedir, o porteiro Isaías inventa desculpas para namorados e depois conta tudo para os moradores confirmarem versão dada por ele. (Fotos: Marcos Ermínio)
Sem nem precisar pedir, o porteiro Isaías inventa desculpas para namorados e depois conta tudo para os moradores confirmarem versão dada por ele. (Fotos: Marcos Ermínio)

Os barracos de família, briga entre namorados, quebra pau com os próprios vizinhos. Chegar bêbado em casa, vomitar em frente ao prédio, esquecer as chaves, entrar cada dia em um carro, ser deixada pelo namorado e 15 minutos depois sair com outro. O que o porteiro do seu condomínio sabe sobre você? Coadjuvantes dos maiores bafos já protagonizados, são eles que se divertem enquanto trabalham, isso se não sobrar nada para estes nobres funcionários.

Porteiro há cinco anos, Isaías Oliveira, de 46 anos, já tem história para um livro. Ele é o cara que qualquer morador de Campo Grande gostaria de ter para abrir e fechar o portão. Isaías vai além da função e sem nem precisar pedir, é ele quem arruma as desculpas pelos próprios moradores. Depois, só passa o que disse adiante para que a pessoa em questão confirme.

“Aqui já aconteceu do cara deixar a mulher, 15, 20 minutos encostar outro carro ou ela sair com o dela mesmo. Aí o namorado volta e eu falo que ela teve que sair, pra socorrer fulano. Os caras ficam meio desconfiados, mas não tem como afirmar nada. Aí quando elas chegam eu digo e elas falam ótimo. Eu passo os dados pra elas só confirmarem, mas isso é pra evitar confusão”, conta.

No tempo em que atende interfone e separa as correspondências ele já teve de dar banho de mangueira em morador que bebeu além da conta. “É que a gente vê de tudo por aqui, mas é como se não tivesse visto, sabe? Uma vez um rapaz se embriagou com uísque, ele desceu e ficou aqui na cancela, eu disse que ali ele não podia ficar, então ele veio aqui pra frente e vomitou tudo. Tive que dar um banho de mangueira pra lavar ele”, lembra.

Mas o bafo que ganha de todos foi quando o ‘Ricardão’ da história foi pego no flagra e ainda colocou o marido pra fora de casa. Isaías acompanhava a rotina de um casal, em que o marido passava a maior parte do tempo viajando. Nisso, a mulher arrumou um namorado.

Porteira diz que a diversão está nos moradores jovens que chegam dentro da garrafa e precisam de ajuda até para subir.
Porteira diz que a diversão está nos moradores jovens que chegam dentro da garrafa e precisam de ajuda até para subir.
'Vítima' de cantadas, porteiro já teve que dizer muito não e bater em janela de sacada pra morador abrir porta quando alguém perde chave.
'Vítima' de cantadas, porteiro já teve que dizer muito não e bater em janela de sacada pra morador abrir porta quando alguém perde chave.

“A gente ficava com medo do rapaz chegar e dar o flagrante. Aí teve um dia que ele voltou. Eu interfonei e ela falou deixa entrar e não é que o cara falou agora a mulher é minha e você perdeu? Ele mandou o marido embora. Deu 40 minutos, a gente não ouviu nada, só viu o morador saindo com a malinha dele. Mas acho que não teve tempo nem de descarregar”, diz.

A profissão que vem ganhando cada vez mais mulheres já fez Aline Pilatti, de 23 anos, dar muita risada. Como ela pegava o plantão da madrugada, era comum ter de ajudar morador a sair do carro com as pernas trançando. “Deus é mais... A gente vê muita coisa”, adianta antes mesmo do Lado B começar a perguntar.

“O marido viaja e vem aquele amigo visitar de madrugada. O porteiro está aqui, mas não existe, não vê, não ouve nada e nem comenta. E se for questionada, Aline tem resposta padrão. “No meu horário não, enquanto eu estava aqui não vi nada”, entrega.

A diversão é garantida quando a vizinhança é jovem e segundo ela, chega dentro da garrafa. Pelo sistema de monitoramento, ela percebe que eles até tentam passar mais ‘sóbrios’ pela portaria, mas depois desistem e se entregam ao cambalear. “Tem morador que chega daquele jeito e sai medindo corredor, anda de lado pra outro”, brinca.

Na função há pouco mais de três anos, Maurilo Bairros, de 24 anos, diz que já ouviu de tudo. “As pessoas chegam da balada dando em cima da gente. Eles interfonam perguntando se a gente pode sair da portaria pra ir lá no apartamento”, revela. Ele que já ouviu briga de vizinho que terminou em cabo de vassoura, dia desses teve que subir e bater na janela de uma sacada porque a moradora tinha perdido a chave de casa.

“Eu até já menti para o patrão que perguntou se a filha tinha chegado com a amiga. Na verdade ela até chegou com ela, mas o namorado veio e eles ficaram ali no quiosque um tempão, conversando, diz ela”, relembra.

A história que for, uma coisa é certa: não adianta tentar esconder, se pai, mãe ou namorado não viram, aposto o que for que o seu porteiro sabe.

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