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MARÇO, TERÇA  19    CAMPO GRANDE 25º

Comportamento

Quatro pessoas bem diferentes encaram juntas uma casa de swing para ver qual é

O negócio foi descobrir como cada um percebe esse lugar sem censura

Ângela Kempfer, Eduardo Fregatto, Samuel Isidoro e Thailla Torres | 29/06/2017 06:05
Ângela, Eduardo, Thailla e Samuel juntos em uma noite quente...SQN
Ângela, Eduardo, Thailla e Samuel juntos em uma noite quente...SQN

As pessoas da foto acima provavelmente nunca se encontrariam não fosse pelo jornalismo. É gente com idades, histórias e discursos muito diferentes. Tem a mãe com ideais de esquerda, o cara doce obcecado por filmes, séries e Britney Spears, o cantor sertanejo do tipo malandrão e uma linda garota lésbica, sincera até demais.

A equipe do Lado B nunca quis ser pasteurizada mesmo, tão pouco despreza uma polêmica. Por isso, semana sim, semana não, a gente decidiu sair em busca de novas experiências pela cidade e fazer muitas considerações sobre o lugar.

De saída, partimos para o maior clichê grupal: o swing.

Não entramos na sacanagem, ninguém pegou ninguém, nem mão na mão rolou. O negócio foi trabalho mesmo, só na base da observação, mas com celulares barrados na portaria. Então, é um registro sem fotos do momento. Ali, no ambiente pouco iluminado, com música boa pra dançar e gente fazendo sexo em todos os cantos, cada um encontrou respostas distintas para as expectativas sobre aquele lugar sem censura.

A noite na festinha privê em plena terça-feira, no Motel Classic, começou com um “guia” ditando regras de comportamento e anunciando que, em caso de emergência, bastava chamar os pitbulls (seguranças). Mas não foi preciso. O lugar surpreende pelas regras cumpridas à risca e respeito à vontade do outro. Não tem gente enchendo a cara, fumando nos ambientes fechados, consumindo drogas ilícitas ou paquerando a mulher do outro sem pedir licença.

Seria muito familiar, não fosse pelos gemidos e penetrações em público, o que desde sempre aprendemos a ver como coisa do capeta. A impressão dos quatro estreantes em um swing você vê na sequência. 

Sem poder fazer fotos, pesquisamos imagens do lugar na internet.
Sem poder fazer fotos, pesquisamos imagens do lugar na internet.

1 Só percebi que estava realmente em um swing quando a loira de uns 50 anos ou mais colocou os peitos de silicone pra fora e encarou o pole dance como profissional, observada de perto pelo maridão que aparenta ter uns 60 anos. Foi ela acabar a performance para começar a trocar carícias com um casal de amigos mais novos, na boca do palco. Minutos antes, era eu na barra de metal, rodando sem o menor jeito, só pra matar a vontade. Desci a tempo de ver a orgia começar sem a minha participação. Ufa!

É mais fácil ludibriar as amarras de uma vida certinha quando entramos em um lugar como aquele só para fazer uma reportagem, sem maiores compromissos. Antes, na portaria, observei que em uma hora de casa aberta, 22 pessoas chegaram à festinha que custa R$ 35,00 por casal. Quem aparece sozinho, paga R$ 70,00 e a mulherada solteira tem acesso liberado, mas todas ali estavam acompanhadas.

O casal que manda no lugar trata tudo com tamanha naturalidade que parece ser mais uma boate de quinta, com música boa e bebida relativamente barata para um rolê noturno (cincão a latinha).

Pirei pensando no que encontraria pela frente e o que achei foi o óbvio: um swing, com casais reais ou fakes contratados para animar os outros (a gente nunca vai saber), numa pegação monstro que dura pouco. No máximo em 2 horas o movimento já começa a miar, porque o negócio exige muita disposição. 

Mulher pega mulher, mas homem fica só na pegada hétero mesmo. Tem cama coletiva, mas poucos se atrevem. Já ao lado, em uma sala com enorme sofá em formado de “u”, o negócio ferve. De uma só vez, contamos 13 pessoas com a mão na massa, em duplas, trios ou solitárias mesmo. As mais experientes vão com peças chaves brancas, para o lingerie aparecer na luz negra e aquilo virar uma coreografia sugestiva no escuro. 

Depois de uma meia hora só olhando, um toque na minha perna ajudou na autoestima. Alguém sugeriu o convite para encarar a missão do lugar, mas bastou virar o corpo para direção oposta e tudo voltou à rotina. Na saída, no estacionamento, a última investida de um desconhecido corajoso diante do grupo de quatro que passou imune às tentações da noite quente: "Daqui vocês vão para algum lugar?" Já às 2h da madruga, a resposta foi um "não" coletivo.

Ângela Kempfer

Portaria do espaço alugado no motel para festas de swing.
Portaria do espaço alugado no motel para festas de swing.

2 Minha coragem passou pela portaria do motel, deu oi para o segurança, entrou na última suíte, estacionou o carro, comprou as entradas, conheceu os quartos, ouviu a música, dançou, mas morreu na primeira troca de fato de casais.

Que loucura! Como assim eu travei? Pois é. Olhei fixamente e talvez todos os dogmas de casal comum implantados na minha cabeça vieram à tona de uma vez. Não consegui entender como os homens exibem suas mulheres como um carro de luxo e falam para o colega: "E ae? quer dar uma volta irmão? Fica à vontade".

Mas o lugar é curioso. Sabe aquelas famosas vitrines humanas de Amsterdã? Nem precisei viajar para a Europa para sentir a onda. As pequenas salas, onde cabem uns 5, tem portas de vidro que permitem tanto ver os curiosos, como se exibir para as pessoas que se esbarram para assistir ao show. O dono do lugar até da uma dica logo na entrada. "Se quiser chamar atenção, bate palma assim que o povo corre pra ver se alguém está levando uns tapinhas".

Ali, 70% eram homens procurando um casal que topasse alguma coisa. Por isso, tem horas que a conta não fechava. Fomos em dupla, e ficamos juntos fingindo ser namorados, até que um cara chegou em mim e falou: "Está procurando casais? Quer trocar?". Olhei, olhei... e não encontrei ninguém ao lado dele pra "trocar". No fim, descobri que o cara foi sozinho e na verdade estava ali esperando a sorte soprar. Enquanto ninguém topava entrar com ele na brincadeira, ficava só olhando a diversão alheia.

A exposição é maior que o tesão. Alguns querem se mostrar, outros querem assistir. A graça está em exibir virilidade ou ver alguém exalando hormônios. Essa coisa de só transar se for com telespectadores eu respeito, mas particularmente passo. Valeu a experiência, mas quando namorar é um lugar que com certeza não vai me ver.

Descobri que sou mais monogâmico e careta do que pensava.

Samuel Isidoro

Palco com a barra para pole dance.
Palco com a barra para pole dance.

3 Desde que a proposta surgiu numa reunião de pauta, eu era pura animação. Fui na esperança de ver um lugar que exalasse ousadia, sensualidade e prazer nos ambientes, bem parecido com aqueles documentários sobre a noite privê de São Paulo. Só que não.

O povo não tem aquele padrão de beleza que a gente espera de quem adora exibir os corpos. Muitos parecem velhos frequentadores, chamam o dono pelo nome e conversam com intimidade. Não fosse pelas fortes cenas "carnais", o lugar seria mais tranquilo do que festinha matinê que bomba no Centro no fim de semana.

Eu sei que na casa de swing ninguém pularia em mim feito um animal, mas o receio de lidar com insistência de quem só está ali pela liberdade é grande, por isso, cruzei com o desconforto logo que entrei no motel.

Cara feia à parte, fiquei mais tranquila quando fomos recepcionados, por sorte, por um proprietário calejado de clientes de primeira viagem como eu. Em uma das salas, enquanto um casal gemia ao fundo na cama, ele explicava em voz baixa e tom didático como entrar no jogo.

No primeiro momento, o clima de balada impressionou, assim como o respeito das pessoas, já que ninguém chegou em mim. Ainda bem, senão eu gritaria pelos pitbulls.

Confesso que a curiosidade acabou logo na primeira cena de sexo. Talvez por alguns valores pessoais, acabei vendo aquele troca troca com outros olhos e, realmente, descobri que o swing não é minha vibe.

A orientação sexual também teve peso na experiência. Me questionei sobre onde é que estava a graça de tudo aquilo. Sinceramente? Não ousaria estar naquele lugar por prazer e tiro o chapéu para quem é feliz ali.

A gente repara como alguns comportamentos simples fazem a diferença para muitos, como tirar a roupa sem que ninguém se importe. A performance do casal também parece não ser levada em conta. Tem muita gente mandando mal no assunto em público. Dá vontade mesmo é de falar pro sujeito: Faz isso direito meu filho!

No fim, percebi que a verdade é uma só: Definitivamente, tem gosto pra tudo nesta vida!

Thaila Torres

Cama para uso coletivo.
Cama para uso coletivo.

4 O swing arruinou a imagem de um rolo de papel toalha! Foi a primeira coisa que atraiu minha visão quando entrei nos quartos escuros e avistei os sofás preparados para as “brincadeiras”. Na luz negra, os papéis toalha brancos se destacam, vários rolos ficam estrategicamente posicionados para deixar todo mundo pronto pra outra. Imagine entrar na minha cozinha e dar de cara com o meu rolo de papel, que uso no café da manhã e lanche da tarde... 

Para quem achou que entraria em Sodoma e Gomorra, acabei me sentindo numa festinha de família, com uma diferença crucial: no swing, a música é boa, tipo, muito boa!

Anitta, Shakira, Nelly Furtado, Major Lazer... rolou até Despacito, mostrando que eles estão antenados (tem balada de CG que parou no tempo...). Minha maior tristeza foi não poder me jogar na pista e cantar Anitta entoando todas as letras, como em outro final de semana qualquer na balada! Sabe como é, primeira vez no swing, a gente fica desconfortável, cria um personagem e tem medo de sair dele. De qualquer forma, me pergunto se a Anitta tem noção do que suas músicas andam agitando por aí...

São apenas em alguns momentos que surgem pessoas com corpos chamativos, sobem no palco, tiram a roupa, se acariciam e quando parece que a coisa vai engatar, elas se vestem de novo e somem para dentro dos quartos escuros ou privados. Chama atenção aquele machismo de qualquer ambiente heterossexual: apesar de ser noite de casais, a ideia principal é entreter os homens, então tem muita mulher – algumas aparentemente contratadas da casa -, que sobem e fazem show. Veio só um gogo boy vestido de policial que tirou toda roupa, mas na hora h escondeu as partes íntimas, claro.

Também teve momentos que me senti na série de zumbis “The Walkind Dead”. Nas cabines fechadas, basta a gente fazer um barulho (no caso, eu e meus 3 colegas jornalistas estávamos conversando e rindo de toda a situação), que aparecem vários homens nas portas escuras, atraídos pelo som, tentando ver o que acontece lá dentro – iguais os zumbis atraídos pelo cheiro de cérebro humano, batendo as cabeças contra a porta.

Do sexo explícito dos quartos, eu só escutei. Minha visão noturna deve ser péssima, não enxergava nada. Sei de algumas coisas que aconteceram, por meio da narração incrédula do colega. Posso dizer que os casais que ali estavam pareciam felizes, muito tranquilos, acostumados com toda a situação. Então, quem sou eu para julgar?

No fim da noite, o desconforto diminuiu, fiquei na pista curtindo a música e observando (esperando pra ir embora logo, confesso), e surgiram duas propostas “indecentes”. Inventei aquelas desculpas de sempre, recusei, mas por insistência tive que anotar um número de celular. “Me dá um toque”, pediu, e eu menti: “Claro, eu já ligo”. Espero que ele não esteja esperando essa ligação, porque não vai acontecer, mas fiquei agradecido pela ajuda na autoestima.

A lição que fica é que o swing é como o dono da casa que nos recebeu: muito mais tranquilo e “respeitoso” do que a gente imagina. Quem diria!

Eduardo Fregatto

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