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Comportamento

Saudade e salsa vieram na mala de quem precisou mudar em 24h para nova vida

Entre tantas histórias de Venezuelanos, encontramos com a família de Miguelina que trouxe na mochila a dança para não esquecer a cultura e nem perder a esperança

Thailla Torres | 11/03/2019 10:18
Miguelina é a matriarca da família que desembarcou em Campo Grande para recomeçar ao lado dos filhos. (Foto: Marina Pacheco)
Miguelina é a matriarca da família que desembarcou em Campo Grande para recomeçar ao lado dos filhos. (Foto: Marina Pacheco)

Não se sabe ao certo quantas pessoas já abandonaram a Venezuela para escapar da grave crise político-econômica. Mas saudade de casa é uma certeza para muitos, embora a escolha seja recomeçar do zero em outro país. Para não esquecer o que ficou para trás, Miguelina e os filhos trouxeram na mala o sorriso e a dança, depois de arrumar as malas em 24 horas com destino a uma nova vida.

Parte da família chegou ao fim de semana, depois de ganhar passagens um dia antes do embarque. “Ela e minhas irmãs não tiveram tempo de avisar muita coisa. Só ficamos sabendo um dia antes”, conta o filho Isnardo Rondon, de 22 anos, venezuelano que chegou a Campo Grande há seis meses, depois de um período turbulento vivido em Boa Vista, cidade de Roraima que abriga milhares de imigrantes e que passaram a morar nas ruas, sem nenhuma condição financeira.

 Aos 22 anos, Isnardo recomeçou em Campo Grande com as aulas de dança. (Foto: Marina Pacheco)
Aos 22 anos, Isnardo recomeçou em Campo Grande com as aulas de dança. (Foto: Marina Pacheco)

A mãe, Miguelina Hernandez, de 60 anos, havia ficado para trás com os netos e as filhas Isnaire Rondon, de 25, e Isdaire Rondon, de 18. Sem nenhuma perspectiva de mudança, estava cada vez mais difícil arranjar dinheiro para custear a mudança, até que uma doação garantiu a viagem para a família toda.

Na bagagem, embora todos os problemas, a família guarda a saudade de casa. “A gente nunca vai esquecer, mas enquanto as coisas não mudarem, vamos viver aqui”, explica Isnardo.

O filho chegou primeiro e trouxe com ele a salsa, ritmo dançante, que garantiu um primeiro trabalho, em uma escola de dança conhecida na cidade. “Eu fiquei muito feliz, porque sempre amei dançar. Mas a salsa de vocês é diferente, mais lenta, a nossa é mais dançante, tem requebrado”, explica.

Foram meses dançando até Isnardo conquistar a vaga em um hotel do qual também se orgulha de trabalhar. “Fui selecionado como funcionário do mês”.

Em meio ao clima de saudade e medo do “novo”, Isnardo garante que a força está na coragem. “Temos que tentar e, principalmente, fazer tudo certo. Infelizmente, surgiram muitas coisas ruins sobre os venezuelanos nos últimos tempos, então temos que provar que somos diferentes, que só queremos recomeçar”.

Inaire, Isdaine e Isnardo. (Foto: Marina Pacheco)
Inaire, Isdaine e Isnardo. (Foto: Marina Pacheco)

Para dona Miguelina, que ainda não sabe falar o português, o sorriso traduz um pouquinho do alívio em estar perto da família, mas não dormirá tranquila enquanto não ver todo mundo perto. “Ainda ficaram para trás dois filhos, nosso objetivo agora é trabalhar para conseguir trazê-los”, diz Isnardo.

Com saudade da comidinha da mãe, alegria do filho é saber que agora vai conseguir comer um “arepa” de verdade, um pão tradicional venezuelano feito à base de farinha de milho. “Mas aqui não é fácil fazer, a farinha brasileira é diferente”, explica o filho.

Por enquanto, a família está numa residência que pertence a ONG Fraternidade sem Fronteiras, mas busca uma casa para alugar e diz que toda ajuda é bem vinda. “Precisamos de uma geladeira e também um aparelho DVD, porque além do português, também vamos aprender inglês para continuar trabalhando no hotel”, diz Isnardo que ganhou alguns DVDs com cursos de inglês que pretende assistir com a família e outros amigos venezuelanos na cidade.

Sobre voltar para casa, a princípio, isso é um sonho distante, mas não perdido. “A gente sonha em voltar, mas acho que isso vai demorar um pouco. O primeiro passo é tirar o Maduro, depois à população venezuelana precisa se unir, sair da zona de conforto e trabalhar para reerguer o país”, torce o jovem.

Quem quiser contribuir com a família e oferecer uma vaga de emprego para as venezuelanas, os telefones para contato são (67) 98427-7687 ou (67) 98164-2988. 

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Família agora está unida em Campo Grande. (Foto: Marina Pacheco)
Família agora está unida em Campo Grande. (Foto: Marina Pacheco)
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