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Comportamento

Sem falar inglês, só na base do portunhol, idioma oficial da rodoviária é mímica

Paula Maciulevicius | 17/06/2014 07:19
Entre gestos e exibição das imagens. É assim a comunicação da fiscal de loja Laura com os clientes gringos. (Fotos: Marcos Ermínio)
Entre gestos e exibição das imagens. É assim a comunicação da fiscal de loja Laura com os clientes gringos. (Fotos: Marcos Ermínio)

Quem chegar ao guichê de qualquer lanchonete do Terminal Rodoviário de Campo Grande pode ir se preparando para a comunicação por gestos. O idioma oficial passou a ser a mímica diante do fluxo de estrangeiros que passam por aqui pela Copa do Mundo. No local, não tem placa de sinalização em inglês e nem espanhol, nada que a gente possa nem brincar de encontrar 'erros' na tradução ao pé da letra. A estrutura dos estabelecimentos também não oferece nenhum cardápio traduzido e entre os funcionários, ninguém entende nem o básico. Na hora do aperto, o que se entende são os risos dos dois lados e o que os dedos apontam.

Para se ter uma noção das trapalhadas frente ao caixa, o funcionário de uma agência de turismo de dentro da rodoviária, Daniel Souza da Silva, 24 anos, foi chamado para ajudar. Não era nenhum pacote de viagem para Bonito ou pelo Pantanal, a ajuda que o estrangeiro tanto precisava era para comprar um sanduíche. “Ele não queria o ovo, era só para dizer isso”. Numa forma bem prática de falar, ovo em inglês é “egg”, em algum momento o cliente deve ter juntado o “no egg” para se fazer entender.

Australiano Scott fez a primeira parada na agência de turismo, para a sorte dele, o atendente fala inglês.
Australiano Scott fez a primeira parada na agência de turismo, para a sorte dele, o atendente fala inglês.

Enquanto Daniel passava informações de Bonito a um australiano, o Lado B interrompeu para saber do cliente, Scott Snodgrass, como estava a comunicação dele aqui na Capital. Por enquanto estava tudo ok, a agência era a primeira parada dele e o inglês de Daniel era fluente. “Eu falo um pouco de espanhol, entre o inglês, o espanhol e o português eu entendo”, disse. No mais, ele tenta se orientar pelas imagens do que vê pela frente.

Na bancada de uma lanchonete, o operador de caixa Roberto de Oliveira Souza, 20 anos, foi pelo que julgou ser óbvio, a preferência generalizada de pedidos por sanduíche com queijo e presunto. Os clientes eram gringos, ele não sabia nem dizer a origem, apenas relata que falavam inglês. “Difícil entender o que eles querem, estava fazendo um sanduíche. Eles não entendem os sabores: presunto, queijo e lombo. Eu fiz presunto e queijo, acho que é a preferência, ninguém voltou para reclamar”, comenta.

Chileno José tentou, em vão, saber no guichês de informações como ligava para o Chile do orelhão.
Chileno José tentou, em vão, saber no guichês de informações como ligava para o Chile do orelhão.

A atendente Jane Ribeiro da Silva, de 44 anos, cai na risada quando a pergunta é o que ela entende dos gringos. Sinal de quem tem história à beça para contar. “Eles apontam um pouco, a gente aponta um pouco. A gente ri deles, eles da gente, mas às vezes alguém entende português”, conta.

O jeito que a fiscal de loja Laura Regina Ferreira Lima, de 32 anos, encontrou para entender e se fazer entendida foi de sair do caixa e mostrar no banner de fora quais eram os sanduíches. “Chega toda hora. O que mais tem é gringo, espanhol até que a gente entende. Agorinha foi muito engraçado, ele estava mostrando o que queria pedir por ali. Apontando mesmo”, descreve. Na lanchonete onde ela trabalha a providência, ainda que tardia, será tomada agora, de ter cardápios em inglês. Já para dizer os valores, ela vira a tela do computador, mostrando o preço em reais.

No orelhão o Lado B encontrou o chileno José Molina, de 23 anos que tentava fazer uma ligação para um celular no Chile. A intenção era de avisar os familiares de que ele estava deixando Campo Grande rumo ao Rio de Janeiro.

Estagiária da Sedesc vê alívio na expressão dos estrangeiros quando percebem que ela fala e entende inglês.
Estagiária da Sedesc vê alívio na expressão dos estrangeiros quando percebem que ela fala e entende inglês.

Aí a gente pensa, mas espanhol é fácil não? Na verdade o nosso 'portunhol' não era compreendido pelo chef de gastronomia, que explicou o por quê. “Há palavras que não são parecidas, na verdade, muitas palavras não se parecem. Nas informações, não souberam me explicar como falar em um celular no Chile”, explica o chef de gastronomia.

O jeito foi apelar para os gestos. O bom é perceber que apesar de não falar o espanhol, o campo-grandense tem, ao menos, a intenção de tentar ajudar. “A gente estava tentando mais ou menos aqui. Como Campo Grande não está sediando, eles não se prepararam para receber os turistas que iam passar por aqui”, observa o casal Edivaldo Miranda, de 24 anos e Heidy Friedrich, de 19.

A disposição salva um pouco da vergonha de estar em uma capital que não têm estrutura básica para receber turistas.

Na sala da Sedesc (Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, Turismo e Agronegócio), dentro do terminal, a sensação é de alívio dos estrangeiros. A estagiária e estudante de Relações Internacionais, Mari Moraes, de 32 anos, fala inglês e é quem na maioria das vezes acompanha os turistas até o guichê para compra de passagens.

“Eles sentem alívio, coloca a mala e 'ufa', que bom encontrar alguém que vai entender”, descreve. No fim das contas, a sala da Secretaria pode ser o alívio geral dos estrangeiros, que funciona das 6h às 22h.

Nem as sinalizações têm indicação em inglês ou espanhol.
Nem as sinalizações têm indicação em inglês ou espanhol.
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