Separados pela hanseníase, famílias pedem indenização para saudade sem preço
A tarde de hoje foi para falar de encontros do passado e a dor que continua presente. A Assembleia Legislativa recebeu, em Campo Grande, a audiência "Encontro de Filhos Separados de MS", evento que reuniu famílias vítimas do preconceito para com a hanseníase entre as décadas de 1930 e 1970.
Em pauta, o debate em torno de toda uma geração de filhos de hansenianos que foram separados dos pais e ainda a intenção entrar com pedido de indenização junto ao Estado para uma saudade sem preço.
Organizado pelo Morhan (Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase), a maioria dos presentes foram protagonistas desta história a partir de 1960, quando os familiares passaram por tratamento no Hospital São Julião.
Representa do Morhan, Sueli Mohran conta que ela e a irmã foram separadas da mãe quando tinham entre 4 e 5 anos de idade. O motivo? As crianças precisavam ficar longe dos pais durante o tratamento. Para isso saíam do hospital com destino ao Educandário Getúlio Vargas.
Elas, em questão, passaram dois anos morando com uma das tias e depois levaram o dobro do tempo para recuperar o contato com os pais. Hoje, Sueli conta que superou, mas a luta continua, agora por uma indenização pelas pessoas que ainda não conseguiram passar por cima desta separação.
"Nosso objetivo é mostrar para os políticos que este é um assunto importante e cobrar deles. Isso aconteceu com as pessoas nas décadas de 50 e 60 e mudou a vida de muita gente", explica.
Pelo tempo necessário ao tratamento, os filhos eram tirados dos pais e passavam até cinco anos separados. Os que conseguiam sair da colônia de tratamento, encontraram barreiras pelo caminho. Ao mesmo tempo em que tinham de reivindicar os próprios filhos, era preciso também conseguir sobreviver fora do hospital e se encaixar na sociedade.
Aos 68 anos, José Cupertino Dias, é um dos que viveu isso na pele. Entre os anos de 1970 e 1972 ele esteve internado pela hanseníase, saiu e teve de voltar de novo, mesmo estando curado. "Pela época e por conta do preconceito, tive de morar lá para depois me fortalecer e sair", conta.
Um pouco mais recente, a passagem de Luciane Rocha, hoje com 52 anos, pelo hospital foi entre os anos de 1987 até 1992. Ter a doença representa, à época para ela, viver num beco sem saída. "A gente não tinha escolha. As pessoas que tinham hanseníase acabavam morando juntas, vivendo juntas. Quem foi separado precisa descobrir onde está o pai e a mãe. É um direoto de cada um ali, poder ter esse reencontro com a família. Coisa que muitos não conseguiram ainda", finalizou.