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Comportamento

Temple Grandin revolucionou a pecuária e prova que autista deve ser desafiado

Norte-americana que revolucionou a pecuária está em Campo Grande para falar de bem-estar animal e autismo

Thailla Torres | 27/09/2019 06:10
Temple Grandin durante coletiva de imprensa nesta quinta-feira.
Temple Grandin durante coletiva de imprensa nesta quinta-feira.

A psicóloga americana Mary Temple Grandin está em Campo Grande. Veio especialmente para visitas e eventos especiais na área de bem-estar animal e autismo. Nas últimas décadas, Temple se tornou uma referência no mundo por ser uma mulher autista a adotar práticas que revolucionaram a pecuária e também sua relação com o mundo.

Com mais de 45 anos de profissão, o tratamento e abertura às pessoas com autismo mudaram desde que ela começou a se destacar e isso emociona a especialista, que também é embaixadora dos autistas. “Teve um impacto muito grande”, afirmou. E exemplifica orgulhosa. “Semana passada, nos Estados Unidos, um pai chegou em mim, dizendo que me ouviu falar e trabalhou muito para o filho fazer sucesso. Hoje, o menino dirige uma cafeteria, dá conta do próprio negócio”.

Sem cerimônias, a especialista deitou no chão para falar da sua técnica. (Foto: Nilson Figueiredo/O Estado MS)
Sem cerimônias, a especialista deitou no chão para falar da sua técnica. (Foto: Nilson Figueiredo/O Estado MS)

Antenada às últimas notícias, falou sorridente sobre o que sentiu ao ver uma adolescente, de 16 anos, com autismo, fazer o mundo repensar as mudanças climáticas como fez a sueca Greta Thunberg na abertura da Cúpula do Clima da ONU, na última segunda-feira, em Nova York. E revelou, além da própria sensibilidade, o que a fez vencer. “Uma coisa que o autismo faz é te deixar muito teimoso. Isso te dá o senso”.

E lembrou dos próprios desafios. “Nos anos 70, eu fui trabalhar numa indústria do Arizona, só de homens. Era mais difícil por ser uma mulher, e eu tinha que ser três vezes melhor que um homem para provar, isso me deu uma teimosia para continuar persistindo”, relata.

Por isso, defende a valoração das habilidades e sensibilidades de pessoas autistas que, segundo ela, tem sido deixada de lado. “As crianças não estão sendo desafiadas”. E deu uma sugestão a pessoas com facilidades com arte, figuras e animais como ela. “Assistam o meu filme”.

Lembrando da própria infância, ela reforçou a necessidade de um diagnóstico correto. Aos 3 anos, ela mal conseguia falar, porém, o apoio familiar e a insistência para identificação e suas características a encorajou, fazendo com que ela passasse de um grau severo de autismo, para um grau mais leve.

Durante visita a frigorífico de MS.
Durante visita a frigorífico de MS.

Isso também a fez criar a “máquina do abraço”, um equipamento para lhe pressionar como se estivesse sendo abraçada e que a acalmava, assim como as outras pessoas com autismo. Sua vida foi tema do filme “Temple Grandin”, em 2010, quando ela foi mencionada pela revista Time na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo. Naquele ano a produção venceu cinco dos sete prêmios Emmy ao qual foi indicado.

Visita - Temple viajou ao Estado a convite da MSD Saúde Animal, com um roteiro que, neste ano, incluiu visita a segunda unidade do frigorífico JBS em Campo Grande, UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e Repronutri que é realizado no Palácio Popular da Cultura. Quietinha, chegou ontem ao frigorífico sem parecer estrela internacional e sim à vontade com todos os trabalhadores.

Além do autismo, a especialista falou em palestra sobre sua técnica chamada “manejo racional”, que inclui práticas que favorecem o bem-estar animal antes do abate. Sem nenhum receio, a especialista se deitou no chão por algumas vezes, para mostrar aos trabalhadores o que pode ser feito para que o animal sofra menos. Além disso, deu dicas e elogiou a carne brasileira que tem saboreado desde a última segunda-feira, quando desembarcou no Brasil.

Embora Temple esteja rotineiramente na mira de ativistas que a apontam como “construtora de frigoríficos pelo mundo”, ela afirma que também demonstra preocupação com a sustentabilidade e pede um equilíbrio entre a pecuária e a agricultura no mesmo espaço. “Passei por uma estrada repleta de plantações de cana-de-açúcar. Isso pode dar certo por uns 20 anos, depois disso vai ser uma terra pobre. Temos que acordar a tempo para mudar isso”.

Ela também falou sobre o movimento vegano que cresce no mundo e apresentou cuidados. “O consumo sustentável de carne é importantíssimo, mas se formos avaliar o veganismo numa estrutura industrial, também vamos ter danos ambientais. Lavouras de soja, que são usadas como fonte de proteína, causam os mesmos danos que a cana-de-açúcar. Acredito que precisa haver um equilíbrio”, finalizou.

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Temple também palestrou para trabalhadores de Campo Grande.
Temple também palestrou para trabalhadores de Campo Grande.
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