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Comportamento

Teste positivo “revelou” que Amanda estava grávida, mas era câncer

Teste de sangue deu positivo para gravidez, mas exames indicaram neoplasia maligna rara.

Letícia Ávila | 29/03/2021 06:15
Amanda no pós-operatório. (Foto: Arquivo Pessoal)
Amanda no pós-operatório. (Foto: Arquivo Pessoal)

O que muda na vida de alguém que descobriu um tumor maligno aos 25 anos? Na vida da engenheira de produção Amanda Barroso, o que era motivo de surpresa e felicidade virou um choque, preocupação e um diagnóstico de câncer.

Amanda havia acabado de se formar e de se mudar em meio à pandemia para Parangominas, uma cidade no interior do Pará, para morar com seu noivo, Matheus Sabadini. No dia 10 de fevereiro, um exame de sangue deu positivo para gravidez. “Foi muito choro, a gente não sabia como reagir porque queríamos ter feito o casamento antes”.

Amanda achava que estava grávida e até segurava a barriga. (Foto: Arquivo Pessoal)
Amanda achava que estava grávida e até segurava a barriga. (Foto: Arquivo Pessoal)

No dia 15 de fevereiro, ainda chocados com a notícia, o casal desceu do Pará até Primavera do Leste – Mato Grosso, cidade natal de Amanda, para um casamento. “Foram os 2 mil quilômetros comigo achando que estava grávida, todo mundo fazendo piada com o bebê, contei para minha mãe, minha sogra, fiz videochamada com a família, todos ficaram muito felizes. Aí, na segunda-feira, o tombo”.

“Fui fazer a ultrassonografia pra descobrir como o bebê estava, com muita expectativa. Porém, através da transvaginal, descobri que era uma gravidez ectópica, quando acontece fora do útero. E, de bônus, ainda tinha um tumor no ovário direito que tinha 10 vezes o volume do meu útero. O médico disse pra mim: ‘o que eu te aconselho – não respira. Vai direto pra UPA e faz a cirurgia’”.

Amanda correu para o pronto atendimento; às 13h tinha feito o exame transvaginal, às 15h estava na UPA, às 17h estava internada no Hospital das Clínicas e fez a cirurgia às 9h da manhã da terça-feira. Apesar da rapidez e frieza que a situação pedia, aquilo significava uma gravidez interrompida que ela havia acabado de começar a aceitar e comemorar.

“Fui internada sozinha, com o coração partido porque não seria mãe. Fui rezando o tempo todo, pois seria uma cesária”.

Amanda na espera da cirurgia para retirada do tumor e do ovário. (Foto: Arquivo Pessoal)
Amanda na espera da cirurgia para retirada do tumor e do ovário. (Foto: Arquivo Pessoal)

Quando Amanda foi operada, porém, veio a surpresa: não havia bebê nenhum, apenas o tumor. “Eu tinha feito até mesmo teste de sangue, que comprovou que eu estava grávida. Foi muito chocante. Eu não senti nada, nenhuma dor. Só senti que ele cresceu muito rápido, e como inchou muito, também pensei que fosse uma criança. Não tinha gravidez. Foi providência divina para que eu descobrisse o tumor e retirasse no tempo certo”.

A recuperação da cirurgia foi cansativa e solitária, em casa. Com a biópsia, o que Amanda temia se confirmou: neoplasia malina rara. Câncer. O disgerminoma é um tipo de tumor de células germinativas tão raro que representa apenas 2% dos cânceres de ovário do mundo. Porém, ele foi solucionado com a cirurgia e retirada do tumor e do ovário direito. A maioria dos tumores de disgerminoma não se desenvolve ou se espalha rápido, e é tratado com a remoção cirúrgica do ovário, o que resolve a maior parte dos casos.

Tumor foi confundido com gravidez até pelo teste sanguíneo. (Foto: Arquivo Pessoal)
Tumor foi confundido com gravidez até pelo teste sanguíneo. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Com a cirurgia, a gente ficou muito confiante de que não iria ser nada. Só contei para a minha família, pois se contasse para todo mundo, ficariam muito preocupados, imaginando quimioterapia, radioterapia. Resolvi esperar para ter certeza. Porém, minhas tias se desesperaram. Choravam, me viam careca, achavam que eu ia morrer… Foi muito dramática a situação. Mas eu não estava assim, estava calma, até demais, até mesmo acalmava elas”.

Amanda foi encaminhada para Cuiabá para fazer mais exames de tomografia, sangue, ultrassonografia e uma nova biópsia. “Quando achamos que tinha acabado, apareceu um cisto no ovário esquerdo pela ressonância. Pronto, já desabou tudo de novo”, lembra.

“Ficamos ansiosas a semana inteira, eu e minha família, esperando notícias do médico depois de tudo o que já tinha me acontecido. Minhas tias me ligavam, perguntavam se eu sentia dor, se estava bem, foi muita ansiedade, mas eu só sentia a dor do pós-operatório. Quando recebemos os resultados, o médico falou que eu não tinha mais câncer, não tinha nada no ovário, estava bem, nossa, foi um alívio, mas um mês inteiro de drama mexicano”, brinca, hoje mais recuperada.

Católica, Amanda conta que a fé foi fundamental para seu processo mental de superar os medos nas horas difíceis. “Minha mãe se desesperou, minha família, mas sinceramente em nenhum momento eu pensava: meu Deus, tenho um câncer, vou morrer. Tinha dia que eu ficava imaginando ter que fazer quimioterapia, passar pelo processo do câncer. Mas aí eu rezava muito, rezava o Terço da Misericórdia e sempre repetia: Jesus, em confio em vós".

Tumor foi retirado e não apresenta mais risco à Amanda. (Foto: Arquivo Pessoal)
Tumor foi retirado e não apresenta mais risco à Amanda. (Foto: Arquivo Pessoal)

O que ela aprendeu com tudo o que passou?

"A gente também precisa acalmar o coração para o que vai vir, seja bom ou ruim. Pensei que precisava informar as pessoas desse câncer, porque muitas não vão ao médico, não fazem um exame, uma ultrassonografia… Eu ficava o tempo todo sozinha em casa, me recuperando, com um turbilhão de pensamentos que vinham, de angústia, mas eu resistia. Deus sempre fortalece o coração da gente.

Às vezes, a gente cuida de tanta coisa, mas esquece do principal: a saúde. E aí quando o problema vem, a gente fica pilhado, fica mal, reclama, eu sei porque comigo também foi assim. Vinha uma dor, uma agonia, eu chorava, mas logo pensava: Jesus, eu confio em vós. Pensava nas pessoas que estão em tratamento de quimioterapia, com doenças terminais, sofrem muito mais do que eu e se você ver no semblante delas, a maioria está feliz por cada dia de vida. Pensei: por que eu vou reclamar?

Agradeço pelo amor da minha família, que me ajudou e me apoiou em tudo que passei. Hoje, a vontade que tenho é de viver e aproveitar o máximo a vida. A vontade de gerar um filho, de ter esse dom maravilhoso de ser mãe, só cresceu ainda mais dentro de mim depois de tudo o que houve".

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