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Comportamento

Vendedor de sorvete faz sucesso usando o Whatsapp e pagando contas por R$ 1

Naiane Mesquita | 14/07/2015 06:27
Trabalhando há cinco anos no mesmo ponto, Baiano conquistou freguesia pelo bom humor e agilidade (Foto: Fernando Antunes)
Trabalhando há cinco anos no mesmo ponto, Baiano conquistou freguesia pelo bom humor e agilidade (Foto: Fernando Antunes)

O jeito de falar é arrastado, mas o andar está mais para ligeirinho. Alexandre Kader Farias, 40 anos, tem muitos nomes: baiano, sovete, sem o 'r', e por aí vai.

Todos esses apelidos foram dados a ele durante os cinco anos de trabalho na rua Antônio Maria Coelho, em frente a Cassems e ao Parque das Nações Indígenas. Vendendo picolé no lugar, ele conquistou o coração de todo mundo com entregas na região via whatsapp e até pagamento de faturas para os trabalhadores pelo valor simbólico de R$ 1.

É um pouco difícil entrevistar o Baiano. A cada segundo chega uma pessoa querendo um picolé, e olha que nem estamos nos dias mais quentes. Ele para de falar e gentilmente atende os clientes, quando dá tempo e tem abertura, ele solta uma piadinha. O jeitão de palhaço não é só impressão não.

"Trabalhei um tempo no circo. Fui palhaço. Foi quando fui pré-adolescente. Fiquei revoltado, aquelas coisas da idade, queria ir embora de casa e um dia parei no circo. O dono gostou de mim e me chamou para atuar na plateia, ajudando o mágico. No fim, eu atrapalhei a mágica, tropecei no picadeiro, e todo mundo riu. Virei o palhaço", relembra.

Um exemplo de como é o atendimento via whatsapp (reprodução/whatsapp/Ariane Martins)
Um exemplo de como é o atendimento via whatsapp (reprodução/whatsapp/Ariane Martins)

O lado atrapalhado continua. Com um distúrbio de sono, ele afirma que não tem necessidade de dormir muitas horas, então se divide entre dois empregos. O de vendedor de picolé das 10h30 às 18 horas e outro de encarregado de produção das 23 horas às 6 horas da manhã.

"Saio daqui, passo para pegar os outros carrinhos de sorvete, faço mágicas e palhaçadas na frente de uma escola e depois vou para casa. Dou comida para as minhas cachorras e durmo. 3 ou 4 horas de sono são suficientes pra mim", diz, orgulhoso.

Apesar da força de vontade, ele diz que dependendo do movimento já pagou o mico de dormir no serviço. "Já cai nessa fonte aqui da frente e tinha água, foi uma vergonha, todo mundo riu", provoca.

O bom humor de baiano é contagiante. Andarilho, ele nasceu em Salvador, na Bahia, mas já morou em Palmas, Fortaleza e Recife. Em Campo Grande, ele conheceu a primeira vez em 2010, para visitar um irmão por parte de pai que morava aqui. "Minha microempresa teve problemas e acabou fechando. Resolvi ver meu irmão e aqui eu trabalhei em várias coisas até chegar em uma fábrica de sorvetes", explica.

O emprego não foi o suficiente para Alexandre ficar e ele resolveu voltar para Salvador. Separado e com três filhos, a saudade foi grande, mas as dificuldades financeiras foram maiores. Com o tempo, a falta de oportunidades na cidade fez ele juntar as malas de novo e partir para Campo Grande. "O dono da empresa tinha planos de abrir uma franquia na Nova Zelândia e Austrália. Eu tinha essa oportunidade e resolvi vir", ressalta.

Para chegar a Campo Grande sem dinheiro, o jeito foi pedir carona e andar alguns metros a pé. Ao todo foram cerca de 2,5 mil km feitos em 14 dias e meio de viagem. "Quando cheguei na casa de uns amigos eu dormi das 11 horas de sábado até as 6 horas da tarde de domingo", aponta.

Como o emprego não deu certo e a empresa fechou na Capital, o jeito foi mudar de marca, mas continuar no mesmo ponto. "Aqui era tranquilo, quase não tinha cliente, mas eu instalei um sistema que mudou isso. O pessoal me pede sorvete pelo whatsapp, g-talk, ligação. Eu tenho o 'sistema' que é um caderninho onde eu anoto o fiado. Saio perguntando nos setores até alguém querer", diz.

'Sistema', como ele chama, foi criado para vender fiado para os funcionários da região (foto: Fernando Antunes)
'Sistema', como ele chama, foi criado para vender fiado para os funcionários da região (foto: Fernando Antunes)

As técnicas de mercado, ele aprendeu na vida e durante os três períodos de gestão que cursou em Salvador. "Muita gente tem preconceito, usa a expressão picolezeiro, que a gente não gosta muito. Já sofri muito preconceito por ter essa profissão, por ser nordestino. Mas, eu tenho muito orgulho. Não existe isso de baiano preguiçoso", afirma.

Em média, ele vende de 200 a 250 sorvetes e nos dias frios ele usa uma técnica infalível. "Eu vou no setor e pergunto se alguém pediu um picolé de chocolate. Tem aquela confusão porque ninguém pediu, mas no fim alguém diz que fica com o sorvete então", brinca.

Para complementar a renda, Sovete ainda paga as contas dos funcionários. "Foi na brincadeira. Falei que pagava por R$ 1. Uma pessoa resolveu aceitar porque é um valor irrisório. No final, ficou rentável, consigo tirar até R$ 600 ajudando o pessoal a pagar a conta na lotérica", explica, o empreendedor.

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