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Comportamento

Vestido chega à noiva e atores se casam no meio deserto, em cenário perfeito

Paula Maciulevicius | 21/01/2016 07:59
Noivos se casaram no meio do nada, no Salar de Uyuni. (Foto: Romário Nunes)
Noivos se casaram no meio do nada, no Salar de Uyuni. (Foto: Romário Nunes)

O vestido de noiva chegou para o casamento no maior deserto de sal do mundo, Salar De Uyuni, na Bolívia, depois de ter viajado embalado em sacolas, dentro da mochila do noivo, por mais de 2 mil quilômetros. Foram três dias até que Ângela, que estava na Argentina e Vitor, que saiu de Campo Grande, se encontrassem no terminal rodoviário de Potosí, na Bolívia.

Na semana passada, o Lado B contou a primeira parte desta história na reportagem: Após pedido no Facebook, noivo viaja com vestido para fazer surpresa no deserto.

Com um mês e meio de namoro, a professora de teatro e atriz, Ângela Montealvão, de 24 anos, seguiu para um mochilão pela América do Sul. A distância e a saudade apertaram e a fizeram ver o tamanho do amor que ela sentia a ponto de a atriz pedir o namorado em casamento pelo Facebook. Vitor Samúdio, ator e diretor de teatro, tem 28 anos e uma coragem de dar às caras para tudo na vida. Embarcou na ideia e foi se casar no Salar de Uyuni. 

Céu e sal se confundem, não se sabe onde termina um e onde começa outro. (Foto: Romário Nunes)
Céu e sal se confundem, não se sabe onde termina um e onde começa outro. (Foto: Romário Nunes)

Imprevistos na estrada fizeram com que Ângela não conseguisse sair da fronteira entre Argentina e Bolívia no horário previsto. Sem sinal de celular e internet, ela não pode avisar que iria se atrasar. A chegada à Potosí que seria na manhã do dia 16 passou para a tarde e a busca pelo noivo no terminal era uma cena digna de filme.

"Era dia de Santo Expedito, tinha uma fanfarra tocando no terminal, aquele barulho todo e eu procurando o Vitor..." conta Ângela. No meio do caminho ela já tinha arrumado mais um padrinho, fora o melhor amigo que o acompanhava na viagem, Romário Nunes, agora tinha Caio, um brasileiro de São Paulo que também fazia o mochilão, comprou a ideia e são os dois que registram o longo e demorado abraço.

"Quando entrei no terminal, bonito, moderno, logo na entrada eu vi ele sentado. Joguei minha mochila no chão e ficamos muito tempo abraçados, sem falar nada. Sentindo um ao outro. Não posso falar que foi uma cena bonita de se ver, porque eu não vi, mas senti a melhor sensação do mundo", descreve a atriz. O abraço foi tão genuíno que um boliviano passou gritando "viva el amor".

O vestido, costurado pela mãe de Ângela aqui em Campo Grande, estava numa caixa, mas foi tirado e embalado em sacolas pela sogra, para que coubesse na mochila do noivo durante a viagem. Ao se hospedarem para seguir ao deserto na manhã seguinte, foi que a noiva viu o vestido.

"Ele me deixou no quarto e foi muito emocionante. Na sacola tinha vestido, sandália, buquê, a coroa de cabelo e um recado da minha mãe escrito à mao. Foi um momento muito especial dessa história toda", narra Ângela. O modelo ficou perfeito e na manhã seguinte eles foram atrás do pacote, com agências de turismo, para o destino do casamento.

Ela pediu ele em casamento pelo Facebook, ele viajou 2 mil km para dizer sim. (Foto: Romário Nunes)
Ela pediu ele em casamento pelo Facebook, ele viajou 2 mil km para dizer sim. (Foto: Romário Nunes)

O passeio pelo deserto de sal é coletivo. Juntos, noivos e amigos somavam quatro pessoas e a aflição era saber quem iria completar o pacote e se eles topariam a pausa no deserto para a cerimônia. Por sorte, destino ou amor, era um casal de brasileiros de Natal, Bruno e Michele, que não só se dispuseram a ser padrinhos, como ele até realizou a cerimônia.

De viagem, eles seguiram em uma caminhonete Toyota, onde de um lado a noiva colocou o vestido e do outro, o noivo, colocou o terno.

A cerimônia aconteceu às 4h da tarde da última segunda, dia 18, com apenas quatro convidados: os três padrinhos que o casal encontrou pelo caminho e o melhor amigo Romário. Ali mesmo os noivos organizaram a cerimônia. "Foi no meio do deserto, na redondeza do povoado de Coqueza, onde estava a parte mais branca", conta Ângela. "Agora como que uma noiva se arruma debaixo de um sol a pino de um deserto?", brinca. E tudo foi, garantem os dois, sem perder o romantismo.

Como testemunhas, Ângela e Vitor tinham um céu azul, as nuvens e o sal. Um cenário que confunde os olhos e transborda no coração, por não saber onde termina o céu e onde começa o chão.

"O Bruno, que celebrou a cerimônia, ficou sentado num tecido que comprei aqui. O Vitor entrou, em seguida os nossos padrinhos, Michele e Caio e depois eu", diz a noiva. O amigo foi o responsável pelas imagens.

Inspirado no budismo, o celebrante falou também um pouco da sabedoria de vida dele, enquanto casal, dizendo que os noivos precisam se preocupar com a felicidade um do outro e que ela vem de dentro para fora, é um estado de espírito.

Na troca de votos, Ângela decorou o que havia escrito no caminho da Argentina para a Bolívia:

"Quem um dia viu uma estrela cadente e não quis pegar carona?
Ser sua mulher é isso: Voar pelo espaço com brilho admirável. Sentir o vento de todas aventuras no rosto. Montados na estrela, não ter fronteiras, nem pontos de partida ou chegada. Muito menos tempo. O que é o tempo diante de tudo isso? Aqui onde o chão se confunde com o céu, tal como sentimos quando estamos juntos, suspensos. Eu, Angela Montealvão, a sua menina, pergunto aquele que me olha com seus olhinhos infantis como os olhos de um bandido, que me tomou de assalto relâmpago este sentimento tão sublime. Pergunto ao meu homem, que me devora, aquele do qual meu corpo é testemunha do bem que ele me faz. Que me tira o chão e me dá asas de um amor paradoxalmente terreno e divino. Divino. Sublime. Amor de todas as minhas vidas, Te pergunto: você aceita se casar comigo?"

"E foi exatamente como eu imaginei. Lindo, sem horizonte, sem fim. Nos trazendo essa dimensão de um lugar perfeito e muito próximo do que estavámos sentindo. Uma transposição de sentimentos no formato de um lugar que é místico, é surreal. É uma imensidão linda e infinita que nos joga para uma coisa: o futuro, o será que tem depois disso?"

Vitor descreve que o lugar fala por eles. "Escolhemos ali, porque parece que você está pisando no céu, se confunde tudo isso. Foi mágico, lindo, ela estava linda e você vê todo aquele símbolo, daquele lugar...", narra o noivo.

"O que a gente queria era isso, essa simplicidade dentro de uma maravilha. Aquele céu azul com aquelas nuvens, uma cerimônia no meio do nada. Muita gente dizia que era loucura, que a gente parecia adolescente 'pouco tempo e já vão se casar?' Esse sentimento, quando toma a gente de assalto, não existe tempo curto ou longo. Se faz um ano ou um mês. A gente, nessa loucura, levou adiante, claro que sabendo do nosso amor um pelo outro". 

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Como testemunhas, Ângela e Vitor tinham um céu azul, as nuvens e o sal. (Foto: Romário Nunes)
Como testemunhas, Ângela e Vitor tinham um céu azul, as nuvens e o sal. (Foto: Romário Nunes)
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