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Comportamento

Aos 21 anos, Kelvin, uma vítima do trânsito, ganha festa especial

Paula Maciulevicius | 27/08/2012 08:52
O sorriso e o brilho nos olhos de Kelvin era uma forma de agradecer pela solidariedade no dia do aniversário. (Foto: Simão Nogueira)
O sorriso e o brilho nos olhos de Kelvin era uma forma de agradecer pela solidariedade no dia do aniversário. (Foto: Simão Nogueira)

Mesmo sem poder falar, ele sorriu e disse, com os olhos, um muito obrigado. Por vezes, se emocionou e deixou todos à volta também com os olhos marejados. Kelvin Henrique Maciel Domingues completou 21 anos neste domingo, rodeado de gente que já o acompanha há anos e também de novos amigos.

Por falta de um, houve dois parabéns, dois bolos, duas velas. E o sopro do desejo da mãe, de que um dia Kelvin possa, ele mesmo, apagar as velinhas.

Os parabéns para aquela casa não cabe apenas ao Kelvin. Ele de fato era o aniversariante do dia, mas não só isso. É um sobrevivente dia após dia de um trágico acidente de trânsito, e a mãe, Antônia Aurineide Maciel, 46 anos, uma mulher guerreira que luta contra a tristeza de ver o filho acamado em consequência da violência no trânsito.

Apesar do drama e a luta diária desta família, o rosto de dona Neide e do filho é só alegria. Depois da reportagem do Campo Grande News no dia 9 de agosto, que mostrou Kelvin sete anos após o acidente e a mãe que comemora em todo maio, com fogos, o dia em que o filho renasceu, a solidariedade bateu à porta presenteando Kelvin com uma festa e doações.

Durante a semana toda que antecedeu a este domingo, dia 26, dona Neide entrou em contato todos os dias com a redação, parecia até que era ela a aniversariante. Mas a ansiedade é compreendida no coração de uma mulher que só quer o bem do filho e que Deus retribua em dobro toda ajuda que tem.

“Estou muito emocionada, que Deus abençoe cada um cada dia mais pela felicidade que vocês trouxeram para o meu filho hoje”, dizia Neide.

Luciana Freitas viu a história se comoveu e mobilizou toda família para as doações. Ela era um dos novos rostinhos que abrilhantaram o dia de Kelvin. (Foto: Simão Nogueira)
Luciana Freitas viu a história se comoveu e mobilizou toda família para as doações. Ela era um dos novos rostinhos que abrilhantaram o dia de Kelvin. (Foto: Simão Nogueira)

Neste domingo, havia rostinhos novos pela casa. Situação que dona Neide agradece. “Nosso amigos estão mudando sempre, tem pessoa que vem para ficar e aquelas que vieram e deixaram sempre algo de bom, vejo como um círculo de pessoas entrando, a gente nunca está sozinho, acredito muito que seja Deus”, completava.

Entre os rostinhos já conhecidos por Kelvin um é o da servidora pública Maria Aparecida Siqueira, 52 anos, que há quatro anos viu nos jornais a história de Kelvin, se comoveu e desde então visita a família todo mês.

“Me tocou porque ele tinha a mesma idade do meu filho. Liguei na redação, peguei o telefone e nunca mais deixei de vir”, diz. Ela completa que existe a limitação física, mas completa “pela expressão do rosto, a gente sente que ele olha fundo no olho da gente”.

Olívia Rodrigues de Souza completou 51 anos ao lado de Kelvin. Conheceu a história também pelos jornais e foi compartilhar a alegria de festejar mais um ano de vida, ao lado do menino, agora gente grande.

“Ele virou para mim e olhou, penso que ele achou que era uma pessoa diferente, mas quando a gente fala, ele sorri”, comentou.

A reportagem do Campo Grande News e a ajuda das redes sociais fez com que a cama ao lado de onde Kelvin passa os últimos sete anos ficasse cheia de fraldas, toalhas, lençóis, leite de soja em pó, itens necessários para os cuidados do jovem e também presentes.

A turismóloga Luciana Freitas, 35 anos, mobilizou toda a família para conseguir doações. “No dia que li, postei no facebook e descobri que fariam a festinha. Me chamou atenção a força da mãe dele e agora a felicidade dele, que sorri”, descrevia.

A ajuda veio em peso também de onde a servidora municipal Elizabeth Pereira Gutierrez trabalha. Ela chegou a casa de dona Neide com o carro lotado de doações arrecadas entre os colegas de trabalho. Com os olhos ainda lacrimejando, ela disse, assim que a reportagem chegou. “Nossa, eu estou emocionada”.

O bem de fazer o bem podia ser visto em cada rosto que ali esteve. Gente que saiu com um sorriso aberto, deixando um pouco de si e carregando um pouco da força de dona Neide e da alegria nos olhos de Kelvin.

A felicidade e a cumplicidade de mãe e filho estampados num sorriso. Ela soprou as velinhas com o único desejo de ver o filho as apagando no próximo aniversário. (Foto: Simão Nogueira)
A felicidade e a cumplicidade de mãe e filho estampados num sorriso. Ela soprou as velinhas com o único desejo de ver o filho as apagando no próximo aniversário. (Foto: Simão Nogueira)

Uma família apareceu por último e levou o segundo bolo. Era aniversário de 15 anos da filha de Elivelton Paiva, 35 anos, ela não quis festa, pediu que ‘transferisse’ os salgados e o bolo para Kelvin. Abriu mão de soprar as velinhas para que o jovem tivesse a alegria de uma festa.

“Nós estávamos acompanhando pela internet, eu fiquei sensibilizado pela situação e como minha filha faz aniversário no dia 27, ela falou que queria que doasse o bolo para ele. Não é só pelo fato de receber em dobro quando a gente faz o bem, mas é uma história comovente, a força dessa mãe”, dizia.

Ele e a esposa foram com os quatro filhos, a aniversariante tinha um compromisso e não pode ir, mas compareceu em peso nos agradecimentos de dona Neide.

Quando a equipe foi se despedir, encontrou os meninos na cama, em volta de Kelvin conversando. Uma cena linda que mostra que a solidariedade está também em uma brincadeira.

“Me senti emocionado pela historia, foi mesmo Deus que salvou ele”. A frase saía de um menino sorridente, Pedro Lucas, 11 anos.

História - No dia 3 de maio de 2005, Kelvin com então 13 anos, saiu da escola onde estudava, no bairro Aero Rancho para procurar a mochila que haviam furtado dele. Na escola se dizia que quem havia pegado era um outro aluno que estudava de manhã.

Kelvin então pediu à coordenação para ir atrás, pegou a bicicleta e saiu. Duas quadras depois, foi atingido por um caminhão e aos 13 anos perdeu a adolescência que estava para chegar. O atropelamento mudou a vida da família toda.

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