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Comportamento

Com disposição na sola da bota, cavaleiros preparam Cavalgada Pantaneira

Paula Maciulevicius | 07/09/2012 00:16
Homem e cavalo pantaneiro. A exuberância do Pantanal da Nhecolândia vista de perto durante três dias. É esta a proposta da 5ª Cavalgada no Pantanal. (Foto: Paula Maciulevicius)
Homem e cavalo pantaneiro. A exuberância do Pantanal da Nhecolândia vista de perto durante três dias. É esta a proposta da 5ª Cavalgada no Pantanal. (Foto: Paula Maciulevicius)

"Eu sou o sol. A chama ardente do amor..." A poucas horas do início da 5ª Cavalgada no Pantanal, o ritmo que embala os cavaleiros é de Délio e Delinha. É o baile que não pode faltar ao homem pantaneiro. Nesta sexta-feira (7) eles têm pela frente 21 quilômetros em cima de um cavalo. Mas além do jeito para dançar e cavalgar, na sola da bota eles também trazem muita disposição.

A cavalgada começa mesmo só nesta sexta, mas há dias o movimento na fazenda Baía das Pedras, sede do evento, tem sido intenso. Unidos pelo espírito familiar e de confraternização, são filhos e netos dos que antes colonizaram a terra que seguem com a cavalgada, resgatando o melhor do homem pantaneiro. É este sentimento que move quem nasceu, se criou ou viveu boa parte da vida aqui, no Pantanal da Nhecolândia.

"Aqui foi colonizado praticamente pela família Gomes da Silva e de Barros. A maioria é tudo parente. Mas hoje em dia não mais, muitos venderam, aí vem o filho do pai que um dia teve fazenda aqui, que traz um amigo e a família pantaneira vai aumentando. Isso que é legal, é uma grande festa que resgata a cultura, onde encontramos amigos. A união e a diversão da família pantaneira que vivia aqui e foi se perdendo", fala a proprietária da fazenda Baía das Pedras, Rita Maria Coelho Lima Jurgielewicz, 51 anos.

A festa nasceu a partir de um grupo de troca de experiências que já realizava reuniões mensais apenas com o intuito de aprendizado. Um ia até a fazenda do outro entender como era o manejo e a lida e em seguida, havia festa.

A primeira cavalgada foi realizada em 2004 e da última para a edição de 2012, três anos se passaram, mas a ideia é de que agora venha para ficar e no calendário do pantaneiro.

"Queremos montar um projeto, fazer realmente ficar no calendário. Não é todo mundo que tem o amor que eu tenho por isso. Pode por o preço que for, eu não vendo". A declaração é de uma pantaneira apaixonada. Izabel Coelho Lima, 23 anos, é a organizadora desta cavalgada.

Desde março está preparando os detalhes para que tudo ocorra bem. Inclusive acender uma vela para Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Fiel à santa, ela abriu mão de todos os pedidos para que, de sexta até domingo, a Santa proteja e nada de mal aconteça. Gesto que reforça que o homem pantaneiro ainda é movido pela crença e fé.

Ao longo desta quinta-feira, chegaram cavaleiros e mais cavaleiros vindos de todo Mato Grosso do Sul e até de fora.
Ao longo desta quinta-feira, chegaram cavaleiros e mais cavaleiros vindos de todo Mato Grosso do Sul e até de fora.

O trajeto que os cavaleiros se preparam para seguir são 11 quilômetros pela manhã e mais 10 pela tarde. A alvorada está marcada para 6h da manhã e às 7h, sem atrasos, os cavalos têm de estar preparados para cavalgar.

"O caminho as pessoas não conhecem e não sabem. Não se passa pelo mesmo lugar, dá uma volta na fazenda", explica a organizadora Izabel.

Tudo foi escolhido criteriosamente, a começar pela beleza, parada para almoço com uma paisagem de fundo bonita, algo até reduntante se tratando do Pantanal, onde tudo é cenário para fotos e não sendo longe e cansativo, para que todos possam ir e voltar com tranquilidade.

O trajeto foi escolhido há 20 dias, pela proprietária da fazenda, que também conhece com a palma da mão cada trilha para cavalgada e pelo presidente da Associação dos Criadores de Cavalo Pantaneiro do Mato Grosso do Sul. Respectivamente mãe e filho.

"A ideia não é fazer só uma fazenda, é estar indo a outros lugares, este Pantanal é tão bonito. O trajeto será em campo aberto e pega toda vazante de trás da casa", diz Rita sobre um dos itinerários.

Até a edição passada, há três anos, o evento era realizado no mês de julho. Mas a estiagem é ainda melhor do que o inverno rigoroso pantaneiro, que do mesmo modo que apresenta altas temperaturas, também é capaz de castigar com graus abaixo do desejado.

É na tentativa de resgatar o que já se viveu aqui que o fazendeiro Jocy Coelho Lima, 76 anos, vem todo ano acompanhado da esposa, filhos e netos. No total, são oito cavaleiros.

"É para reencontrar amigos que não via há muito tempo, uma confraternização dos pantaneiros. Antigamente a gente tinha a Festa do Divino, Nossa Senhora da Conceição. Mas tudo acabou com os anos. Hoje em dia não tem mais nada, só mesmo a cavalgada", reforça o casal. Ele nasceu e se criou aqui e ela, Marina Puccini Coelho Lima, vive dos 70 anos, meio século em terras pantaneiras.

E para mostrar que montar no cavalo e sair galopando não se restringe aos grandinhos, João Antônio, 5 anos, enfatiza. "Eu ja vim uma vez, eu vou montar. O tamanho do cavalo? É uma piticinha que meu tio vai trazer", o menino tem nas veias o sangue de homem pantaneiro, mesmo com o pai nascido na cidade. O professor Valdemir Alves de Oliveira, 49 anos, se diz quase pantaneiro, e fala que faltou apenas nascer aqui.

Acompanhado da mulher e dos filhos, só tem uma coisa a dizer e que reflete exatamente o sentimento de um todo.

"Nós trazemos a diposição e a animação em nossas bagagens, isso claro, além da cela, arreio e barraca".

E que toque o berrante e comece a cavalgada que o homem e o cavalo pantaneiro estão a postos. A cavalgada vai até domingo e o Campo Grande News acompanha todos os três dias de evento, direto da fazenda da Baía das Pedras.

O Lado B está na cavalgada e, ao fim dela, você vai conferir o relato destes dias em meio às belezas do Pantanal e ao universo do pantaneiro.

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