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Comportamento

No Dia dos Pais, eles mostram que conceito de "filho exemplar" mudou

Ângela Kempfer e Elverson Cardozo | 12/08/2012 07:00

Márcio Antônio, de 28 anos, com o primeiro filho ainda no carrinho, de apenas 4 meses de idade. (Fotos: Minamar Júnior)
Márcio Antônio, de 28 anos, com o primeiro filho ainda no carrinho, de apenas 4 meses de idade. (Fotos: Minamar Júnior)

Cresci ouvindo de meu pai que em dias especiais não precisava dar presente não, bastava ser uma boa filha. Mas será que agradar hoje é fazer o mesmo que há 30 anos? Nas ruas de Campo Grande, pais de diferentes gerações mostram que muita coisa mudou, inclusive, o conceito de "filho exemplar".

Quem é das antigas, ainda acha que bom filho é uma pessoa trabalhadora, que respeita os mais velhos e faz conquistas na vida. Para os mais novos, as lutas a serem vencidas pelos filhos são outras: formar e preservar uma família e, principalmente, ficar longe da criminalidade e das drogas.

“Os medos transformam o pensamento”, filosofa o aposentado Expedito Lopes. Para o senhor de 64 anos, já com 6 netos, a diferença entre as gerações fica clara quando para pensar no que esperava dos filhos e o que deseja agora dos netos.

“Antes, se fosse trabalhador já estava bom. Agora, a gente quer que, pelo menos, ninguém vire bandido ou se afunde na droga” comenta o pai, que passa os dias vendendo relógios e cintos nas imediações da antiga rodoviária de Campo Grande.

Para os filhos que querem mais do que dar presente hoje, o sapateiro Dirso Rodrigues ensina: tem de ficar mais em casa do que na balada, saber ouvir e retribuir “com carinho”.

O homem de 52 anos foi criado de maneira severa. Bastava o pai olhar para surgir a obediência. “Hoje tá bravo. O pai fala uma coisa e o filho fala duas. Antes, o bicho pegava.”

O sapateiro Dirso Rodrigues ensina: filho tem de ficar mais em casa do que na balada, saber ouvir e retribuir “com carinho”.
O sapateiro Dirso Rodrigues ensina: filho tem de ficar mais em casa do que na balada, saber ouvir e retribuir “com carinho”.

Para o aposentado Manoel Francisco da Paz, o melhor filho é o obediente, aos pais e professores, nem que para isso seja preciso umas palmadas. A maior indignação do pai das antigas é a lei cada vez mais dura contra a educação a base do laço. "A lei não deixa educar".

Para a relação não ser na cartilha do medo, os pais também dão lição uns aos outros. Cristovão Ramos, de 37 anos, faz parte de um geração que dispensa as chineladas.

Aos 25 anos, adotou uma menina porque a esposa não pode engravidar. De lá para cá, a educação tem muita conversa, garante, empurrando um carrinho carregado de flores de plástico feitas por ele. "Violência não leva a nada. Pai que é pai não precisa bater".

Para o artesão, o maior orgulho é ter uma filha que escuta, mesmo não concordando com o discurso do pai.

Márcio Antônio, de 28 anos, concorda com o jeito mais carinhoso de ajudar os filhos a crescer. Com o primeiro ainda no carrinho, de apenas 4 meses de idade, o jovem pai lembra do que considera o mais importante, "acompanhar o filho desde o dia em que nasce".

Quando o primeiro filho nasceu, prematuro, o menino teve de permanece 20 dias internado. Começou aí o principal ensinamento, que Márcio pretende levar para o resto dos dias em busca de um filho exemplar. "Eu nunca desisti dele, porque a gente nunca pode desiste de quem a gente ama".

Cristovão Ramos, de 37 anos, faz parte de um geração que dispensa as chineladas.
Cristovão Ramos, de 37 anos, faz parte de um geração que dispensa as chineladas.
Amauri Martins acha que o bom filho é o que honra a família.
Amauri Martins acha que o bom filho é o que honra a família.

Em uma oficina da rua Calógeras, o pai de 54 anos brinca que realmente muita coisa mudou. “Há anos não ganho presente”, sorri.

Falando sério, Amauri Martins lembra do filho que engravidou a namorada aos 17 anos e, quando todos esperavam o pior, o problema virou um orgulho.

“Ele virou um homem que honra a esposa, que respeita a família”, o suficiente para considerar o rapaz um exemplo, já que atualmente casamento não dura.

O empresário fecha a cara quando pensa em como seria educar alguém em 2012. “Meus Deus! São todos muito rebeldes, só querem balada. Você vê os comportamentos na porta das escolas. É muito esquisito”, reclama.

João Pedro Kalunte diz que nunca havia pensado no que é ser um filho exemplar, até Vinícius, agora com 3 anos, nascer. “Não ligava muito para o que meu pai pensava de mim. Só depois que a gente vira pai é que percebe que é impossível não querer que aquela pessoa vire alguém bom, até para não sofrer, sabe?”, admite o universitário de 21 anos.

Para os dias dos pais futuros, ele tenta imaginar o exemplo de filho e consegue sem demora definir o que espera: “Não quero um filho certinho. Quero alguém feliz, que seja forte e tenha caráter para não conseguir essa felicidade pisando nos outros. Se ele precisar de uma força, quero estar lá para dar.”

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