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Consumo

Infeliz com o Direito, Clemente vende café para mudar de profissão

Tem gente que julga a escolha do rapaz, mas ele disse que se deu bem e agora tem tempo para realizar um novo sonho

Thailla Torres | 20/09/2019 07:45
Ele diz que chega a vender 4 garrafas de café por dia, ou seja, cerca de 60 copinhos. (Foto: Thailla Torres)
Ele diz que chega a vender 4 garrafas de café por dia, ou seja, cerca de 60 copinhos. (Foto: Thailla Torres)

É de avental e com simpatia que o paulista Clemente Morata Hernandes, 28 anos, encontra disposição para pular cedo e pagar as contas. Após formar em Direito, trabalhar com vendas e decidir largar tudo para estudar para concursos, ele passou a vender café em um semáforo da rotatória da Gury Marques, em Campo Grande.

Vestido de calça, camiseta e um avental xadrez vermelhinho, Clemente conseguiu conquistar os clientes. Ele conta que consegue faturar cerca de R$ 60,00 por dia com a venda do cafezinho que é entregue na janela do carro. Apesar de estar ganhando uma grana com as vendas, ele diz que vai aumentar as garrafas de café por causa dos pedidos. “Às 8 horas o café já acabou”.

Também tem cliente que não paga, porque julga o estereótipo de Clemente. “Me olham como se eu não tivesse o perfil de uma pessoa que precisa ir para o semáforo vender algo. Quando eu conto que fiz Direito e não exerço, tem gente que vira os olhos. Às vezes, entrego o café e a pessoa nem paga”.

De avental vermelho, o rapaz chama atenção de motoristas. (Foto: Thailla Torres)
De avental vermelho, o rapaz chama atenção de motoristas. (Foto: Thailla Torres)

Quando tomou a decisão de ir para às ruas, ele diz que nem todos deram 100% de apoio. “Existe um modo de pensar bastante preconceituoso em relação a isso. As pessoas diminuem a venda nos semáforos como algo miserável, não relacionam isso a um trabalho. Mas é preciso entender que se a pessoa tem muito ou pouquíssimo para sobreviver, ela está apenas tentando ganhar a vida de alguma maneira”, afirma.

Natural de Presidente Bernardes (SP), ele conta que concluiu o curso de Direito e não quis exercer a profissão. Decidiu estudar para concurso e foi aprovado na Polícia Militar de São Paulo. Porém, quando a esposa que é enfermeira passou em um concurso de Campo Grande, ele decidiu abandonar a vaga para se mudar com ela para Mato Grosso do Sul. “Nós colocamos na balança o que compensaria mais e decidimos nos mudar para ela assumir a vaga que havia passado”.

Sem arrependimento, ele decidiu recomeçar os estudos para tentar um novo concurso por aqui. Mas para não ficar sem trabalho arrumou emprego de vendedor no shopping. “Trabalhei em algumas lojas, mas tomava muito o tempo. Quando decidi pegar firma no estudo, decidi largar”.

Há três semanas ele resolveu ir para o semáforo. Sem experiência no ofício, observou alguns vendedores na cidade e buscou auxílio na internet para lidar bem com o tempo e a diversidade de clientes que teria nas ruas. “Em um canal do Youtube assisti um menino falando da rotina do semáforo e resolvi tentar”.

A aposta no café foi por causa do tempo, cada vez mais curto, na rotina dos brasileiros. “Hoje em dia está tão corrido para todo mundo. A pessoa dorme esperando os cinco minutos de soneca. Saber que alguém estará servindo café num preço legal faz com que algumas pessoas não acordem mais cedo para colocar a água para ferver”, conclui.

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O café é servido enquanto o semáforo está vermelho para motoristas. (Foto: Thailla Torres)
O café é servido enquanto o semáforo está vermelho para motoristas. (Foto: Thailla Torres)
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