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Consumo

Mãe evangélica ensinou o filho a tatuar e estúdio une o olhar dos dois pela arte

Paula Maciulevicius | 28/03/2016 06:45
Kalebe aprendeu a tatuar com a mãe, que entrou na arte como terapia. (Foto: Pedro Peralta)
Kalebe aprendeu a tatuar com a mãe, que entrou na arte como terapia. (Foto: Pedro Peralta)

Mãe e filho. Elisângela e Kalebe. Há três anos a vida deles começou a mudar em casa e também pelo corpo. A pele ganhou cor e vida através das tatuagens que um fez no outro. Em 2013, depois de uma viagem para a praia, Elisângela descobriu que os traços na pele lhe faziam esquecer o peso de 18 anos de trabalho em hospital. A auxiliar de Enfermagem virou tatuadora, trabalhou o quanto pode e deixou o legado para o filho, Kalebe. 

O primeiro contato com a "beleza artística" como ela define a tatuagem foi na viagem que fez com os filhos, onde se deixou fazer uma de henna. Voltou encantada e pensando em como empreender dentro do que para ela poderia servir como terapia contra a depressão. 

Aos 39 anos, fez a primeira tatuagem, não gostou muito e quando voltou para cobrir, se apaixonou de vez pela arte. Por ser de família evangélica, tinha dentro de casa e na igreja todo um pré-conceito em volta da tatuagem. Comprou escondido o primeiro kit e passou a pesquisar técnicas pela internet. Elisângela já desenhava quando ingressou em cursos de maquiagem definitiva. Era a brecha que precisava para começar.

Âncora foi o primeiro desenho da mãe no filho. (Fotos: Pedro Peralta)
Âncora foi o primeiro desenho da mãe no filho. (Fotos: Pedro Peralta)
Meio retrô, meio hippie, Elisângela tem desenhos do filho pelo corpo. (Foto: Pedro Peralta)
Meio retrô, meio hippie, Elisângela tem desenhos do filho pelo corpo. (Foto: Pedro Peralta)

"Eu era resistente pela idade e segundo por ser mulher. Nesse mundo ainda são poucas as mulheres tatuadoras. Foi um amigo, o Glauber que me incentivou", recorda Elisângela Mazzini, hoje com 43 anos. Pelo Facebook, adicionou um tatuador da cidade, Karioca, para quem pediu para ser aprendiz. "Começamos a conversar e eu disse que gostaria de aprender, mas não tinha como ir para São Paulo", conta. Do outro lado, o tatuador pediu então que ela levasse uma "modelo" para que ele a ensinasse. De início, Elisângela não conseguiu ninguém e foi ela mesma aprender na própria pele.

"Dali para frente eu comecei, uma amiga minha, Dinara deu o couro dela para eu tatuar e logo em setembro, participei do primeiro workshop de tatuagem. Eu era a 'tia' pela idade, mas fui muito bem recebida", conta. Os primeiros clientes eram os próprios amigos. Com maquinário em mãos, Elisângela passou a chamar o filho, ainda adolescente para treinar os primeiros traços. 

A casa, no bairro Jardim Tijuca, virou estúdio improvisado, onde por vezes a maca virou divã, quando amigos chegavam para tatuar, sem saber ao certo o que, em uma conversa longa, saiam satisfeitos, mesmo que sem serem desenhados. 

Nessa época a família de Elisângela achava tudo um absurdo. "Mas minha posição sempre foi de me impor", enfatiza. Houve um desgaste e até um embate, mas logo em seguida ela passou a se mostrar também quando voltou a frequentar a igreja. Nos cultos que ia, não escondia as tatuagens e passou a ver que outros membros também se soltaram.

Kalebe se preparando para tatuar. (Foto: Pedro Peralta)
Kalebe se preparando para tatuar. (Foto: Pedro Peralta)

"Eu vi como Deus me deu essa oportunidade linda de, pela arte, conhecer pessoas maravilhosas", explica a tatuadora. No hospital, Elisângela viu mudar também a mentalidade de colegas que tinham um certo preconceito com pacientes desenhados. "Quando eu conheci esse mundo, passei a ver a tatuagem como algo artístico e fiquei fascinada. É um diário que você faz na própria pele", compara.

O filho que antes pensava em cursar Letras, já tinha profissão: era intérprete de Libras, mas passou a ver o interesse pela tatuagem também como uma possibilidade de trabalho. Por ter bastante contato e ser conhecido na comunidade LGBT, o nome de Kalebe começou a circular e nas baladas, tem muita gente que exibe tatuagens dele.

"Vi aí uma oportunidade de empreender. Em 2015, me desenvolvi, passei a estuar mais, fazer desenhos, desenvolver técnicas, para me jogar mesmo", resume Kalebe Mazzini, de 18. Na mesma época, a mãe teve LER (Lesão por esforço repetitivo) e teve de passar a clientela para o filho. Os amigos não se importaram e ela hoje olha orgulhosa para Kalebe.

"Para mim, tatuagem é como uma joia, um símbolo. Tem pessoas que preferem comprar ouro, prata, mas isso é uma obra de arte, um trabalho artístico que você carrega no corpo", traduz Elisângela. A mãe tem oito tatuagens, o filho, por enquanto, 14. "A tatuagem é um modo de você enfrentar o preconceito, eu vi mais interessando em despertar para essa questão, de tentar quebrar tabus. Tatuar é uma forma de você expressar, expor ideias. Um jeito de ser diferente e único", enxerga o filho.

O estúdio de mãe e filho tem o nome de "Equilibrium". Para acompanhar o trabalho de Kalebe, siga o estúdio no Instagram. O telefone de contato é o: 9217-9295.

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E entre os desenhos. (Foto: Pedro Peralta)
E entre os desenhos. (Foto: Pedro Peralta)
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