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Consumo

Quando gordos ou ex-gordos ganham um direito, sempre tem alguém para avacalhar

Liziane Berrocal | 07/09/2015 07:56
Liziane em reportagem veiculada pela TV Morena. (Foto: Reprodução Facebook)
Liziane em reportagem veiculada pela TV Morena. (Foto: Reprodução Facebook)

Esta semana uma matéria minha apareceu na TV. O material jornalístico falava sobre a “Lei do Bariátrico”, para pacientes que enfrentaram a cirurgia tenha descontos em restaurantes por causa do estômago reduzidos.

A Lei, de autoria do vereador Carlão Borge (PSB), foi aprovada pela Câmara Municipal de Campo Grande no dia 17 de agosto deste ano. Fui convidada a falar sobre e a equipe de TV acompanhou meu almoço ao lado da minha família, em um restaurante onde não como por quilo (e sim rodízio) que é o Nagai.

Sem mais delongas, o assunto foi tratado com muito preconceito e muita babaquice por parte de muita gente. Os comentários tentando me ridicularizar quase me fizeram desistir de tudo, inclusive do #VaiGordinha e de outros projetos em relação a obesidade, plus size e bariátrica.

Mas desinformação a gente trata com informação, e como aqui é um espaço para falar por mim, o que resta mesmo é explicar. Bom, a Lei é Lei, ou seja, já vale e o comerciante tem que cumprir. Um projeto de lei não é fácil de ser aprovado, como muita gente pensa. Ele vai e volta de várias comissões, seja na Câmara Municipal ou na Câmara Federal, e até essa lei teve que ser adequada pelo proponente. A proposta – qualquer uma delas – é votada em dois turnos, ou seja, a sociedade pode sim participar disso, basta se interessar.

Eu fui a proponente para o vereador? Não, eu não fui. Ela foi apresentada em 2014, antes de eu fazer minha cirurgia. E sim, até eu fazer a cirurgia eu nem imaginava que isso de comer era tão pouco. Não mesmo! E já escrevi sobre isso aqui e sobre a economia que faço todos os dias com comida.

E vale lembrar que a maioria das pessoas quer ter uma vida social e isso engloba comida sim. Enfim, a lei passou e muita gente chiou e tem comerciante que não está querendo dar desconto. Ok! É escolha de cada um enfrentar uma denúncia no Procon e correr risco de pagar multa.

Mas o que intriga mesmo, é porque ainda não aceitam que a obesidade é uma doença, epidêmica por sinal, e que Campo Grande é uma das capitais mais gordas o país? E que fazer a cirurgia bariátrica, não é uma escolha e sim uma necessidade do obeso? E por que não podemos atrelar isso aos nossos direitos? E por que não podemos buscar aquilo que acreditamos?

E vejo o mesmo no caso de obesos. A Câmara Municipal de Campo Grande está com várias leis para combater a obesidade que não são cumpridas. Temos a LEI Nº 3.724, que instituiu em 2000 o “Programa de Atendimento à Obesos - P.A.O”, com o objetivo de diagnosticar, efetuar o tratamento e acompanhamento às pessoas com obesidade. Alguém já viu esse programa funcionando? Eu nunca nem soube! E é lei!

Temos também a Lei 4.321 de 2005 que autoriza o Poder Executivo Municipal a implantar o serviço de referência de acompanhamento e tratamento de pacientes com obesidade mórbida em Campo Grande. Também não rolou né?

Ah, e o prêmio “Escola Saudável”, oferecido aos estabelecimentos de ensino que incentivem o consumo apenas de alimentos saudáveis, naturais, incluindo os chamados lights, de baixos níveis de colesterol sódio, acúcares e conservantes? É a Lei 4.600 e foi aprovada em 2008. Nunca vi ninguém incentivar isso, para que ajudar a frear a obesidade...

Campo Grande, pasmem, tem uma Lei para obrigar os hospitais, dispõe sobre a clínicas e unidades de pronto-atendimento do município possuírem e disponibilizarem para utilização, macas, cadeiras de rodas e cadeiras de banho dimensionadas para pessoas obesas. Nem preciso dizer que não tem! Aliás, mal e mal tem as normais! É a Lei 6806/2010, só para saberem!

E vocês lembram essa? A “Lei da Merenda”, que na época definiu normas para a comercialização de alimentos nas cantinas comerciais da rede pública e instituições privadas de educação básica de Campo Grande?

A proposta tinha o objetivo de prevenir doenças e melhorar os hábitos alimentares de crianças e jovens nas escolas que oferecem educação básica e centros de educação infantil. Segundo pesquisas amplamente divulgadas pela mídia, a obesidade, a hipertensão, a diabetes e até mesmo problemas cardíacos tem sido cada vez mais comum entre estudantes, resultado de uma alimentação inadequada. Pois é, caiu por conta do lobby absurdo das indústrias e ficou tudo como está. Continuamos engordando nossas crianças. Fim!

Daí, agora em 2013, mais uma lei, a Instituiu a Política de Combate à Obesidade e ao sobrepeso – “Campo Grande Mais Leve”. Alguém já viu acontecendo isso? Eu não vi, e se alguém viu, só dizer, que vamos procurar saber mais.

Ok, e tantas leis inúteis? Será mesmo gente? Qual o problema de políticas públicas para obesos e luta contra a obesidade? Qual o problema das pessoas lutarem por aquilo que elas acreditam?

Só quem é – ou foi – obeso sabe o que é entrar num lugar e ser o centro das atenções, chegar em um restaurante e enfrentar olhares tortos e ser tratado naquele eterno estigma do “relaxismo” e da preguiça. E volto a dizer: ninguém é gordo porque quer, porque é FODA ser gordo.

Então, se podemos instituir e implantar políticas públicas para que isso melhore, vamos deixar isso acontecer. E sim, eu convido qualquer pessoa a vir almoçar comigo, ou jantar, e daí, pode ver com os próprios olhos que 90% dos pacientes bariátricos comem pouquíssimo mesmo, e que um médico para assinar um laudo, só assina mediante endoscopia e com a certeza que aquele paciente fez mesmo a cirurgia.

De resto, é conversa e esperneio. E isso, minha gente, ninguém está livre! Mas que cada um possa seguir com sua luta em paz!

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