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Diversão

"Samba de Caboclo" reúne seguidores de Umbanda e Candomblé e chama atenção

Elverson Cardozo | 08/02/2015 07:12
Seguidores de Umbanda e Candomblé chamaram atenção com roupas brancas. (Foto: Marcos Ermínio)
Seguidores de Umbanda e Candomblé chamaram atenção com roupas brancas. (Foto: Marcos Ermínio)

Um espaço aberto com verde de sobra. Saias rodadas com várias camadas de babados, blusas com mangas bufantes, batas e túnicas bordadas minuciosamente. Colares e lenços coloridos. Tambores, tendas, velas, vinhos, charutos e imagens sacras.

Entre mulheres e homens, crianças, jovens ou idosos, a maioria usava branco dos pés à cabeça. Ontem (7), das 16h às 22h, quem passou pela Praça do Preto Velho, no Jardim Paulista, em Campo Grande, se deparou com um cenário assim. Era dia de “Samba de Caboclo”.

“Deve ser alguma homenagem ao Preto Velho”, chutou o auxiliar de cozinha Flávio Farias, de 22 anos, que passava pelo local na tarde deste sábado. Assim que soube do que se tratava, o rapaz elogiou: “Acho que tem que acontecer mais vezes”.

Realizado pela primeira vez, o evento, que despertou a curiosidade de moradores, foi promovido pela Fecams (Federação dos Cultos Afro-brasileiros e Ameríndios do Mato Grosso do Sul) e reuniu seguidores da Umbanda e do Candomblé.

Escultura do Preto Velho. (Foto: Marcos Ermínio)
Escultura do Preto Velho. (Foto: Marcos Ermínio)

Cerca de 500 pessoas compareceram. Representantes de pelo menos 25 tendas e ilês estiveram presentes. A programação incluiu apresentações culturais, de cantos e danças, um concurso de atabaque, além de passes espirituais dados por entidades incorporadas por médiuns.

A ideia é realizar uma edição do evento por ano. O objetivo é difundir e fortalecer a cultura afro-brasileira e ameríndia. A explicação partiu do presidente da entidade, o sacerdote Irbs Santos, de 45 anos.

Ele diz que a Fecams promoveu o “Samba do Caboclo” porque precisa se fortalecer enquanto federação. “É para quebrar o preconceito e a intolerância religiosa”, disse, ao comentar que 2014 foi um ano difícil. Ele cita como exemplo o veto, por parte da Fundac (Fundação Municipal de Cultura), à apresentação da cantora Ribeira Benneditto na Quinta Gospel.

À frente da organização, Teto Bualenã Algacir Rodrigues, de 56 anos, comentou, em outras palavras, a mesma coisa e acrescentou: “Não somos patinhos feios e nem malvados, apenas umbandistas e praticantes”.

Evento atraiu pelo menos 500 pessoas. (Foto: Elverson Cardozo)
Evento atraiu pelo menos 500 pessoas. (Foto: Elverson Cardozo)

E, para evitar equívocos, reforçou: “Somos muito criticados pelas igrejas evangélicas, que se dirigem a nós, mesmo sem ter conhecimento de causa, como se incorporássemos o demônio e praticássemos a maldade. Não é nada disso. Nosso objetivo é a prática do bem e da paz. Aqueles que precisam de nós para encontrar sua paz, pode vir que esperamos de braços abertos. Não somos maus. Não praticamos a maldade”.

Teto afirmou, ainda, que as conclusões precipitadas acontecem porque, geralmente, as pessoas ouvem, reproduzem inverdades e não se importam com isso. Criticam, mas não querem nem conhecer o outro lado da história. Muita gente faz associações erradas a partir das imagens sacras, das velas, do culto às entidades e até das roupas brancas. Sobre a cor, ele esclarece: “Para nós simboliza paz”.

Acreditar é uma questão de fé. Ninguém precisa seguir a mesma religião, mas não faz mal abrir a mente. O que não dá para aturar é preconceito. Católica não praticante, a telefonista Rosângela Louveira, de 50 anos, não vê problema em conhecer, por isso fez questão de sair do bairro Residencial Oliveira, onde mora, para acompanhar o evento. “Se me chamar para uma igreja evangélica eu também vou”, disse.

Na tenda da Federação Cigana, eu, Elverson Cardozo, experimentei a “água energizada para prosperidade e amor”. (Foto: Marcos Ermínio)
Na tenda da Federação Cigana, eu, Elverson Cardozo, experimentei a “água energizada para prosperidade e amor”. (Foto: Marcos Ermínio)

Minha experiência - Eu, Elverson Cardozo, repórter do Lado B, fui ao "Samba de Cabloco". Não iria se não fosse pelo pelo jornal. Sei bem disso. Nascido e criado dentro de uma igreja evangélica, umas das mais rígidas que conheço, aprendi desde cedo que só um caminho leva à “salvação” e que, portanto, todos os outros devem ser veementemente ignorados.

Cresci. Mudei. Abri a mente. Revi conceitos. Deixei de acreditar nisso há um tempo, mas os “ensinamentos” ficaram enraizados. Não posso negar que eles ainda “martelam” na minha cabeça, mas o tempo, Senhor da Razão, tem contribuindo, pelo menos, para uma mudança de pensamento.

Ontem, pela primeira vez, aceitei algo novo. Na tenda da Romani – Federação Sul-Mato-Grossense de Etnia e Cultura Cigana, experimentei o “tchaio”, um chá de frutas e mel que, segundo o presidente, Pedro Nicholich, de 43 anos, “é carregado e energia positiva e muitas coisas boas”.

Antes, porém, fui servido com uma “água energizada para prosperidade e amor”. Ao final, saí comendo um pedaço de torta cigana que, dizem, inspira, além de prosperidade, harmonia. Isso pode não ter nenhum significado prático na minha vida, porque continuo não acreditando, mas me fez, tenho certeza, menos preconceituoso.

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