ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, QUINTA  18    CAMPO GRANDE 20º

Diversão

No aniversário da Umbanda, parabéns foi para cacique Mata Virgem e mãe de santo

A celebração aconteceu ontem e transformou a tenda verde numa aldeia indígena com espíritos de guerreiros que desciam brandando

Alana Portela | 16/11/2019 08:01
A mãe de Santo, Eva Marina Capli recebeu o cacique Mata Virgem (Foto: Danielle Matos)
A mãe de Santo, Eva Marina Capli recebeu o cacique Mata Virgem (Foto: Danielle Matos)

No aniversário de 111 anos da Umbanda, o “parabéns” foi para a entidade do cacique Mata Virgem, que chegou com cocar na cabeça e charuto na mão para coroar a nova mãe de santo, Iracy Duarte Vilela. Os filhos da casa formaram uma corrente de energia, enquanto os gritos e batidas de pés no chão anunciaram a chegada de outros espíritos para a comemoração.

A cerimônia aconteceu na Tenda Umbanda Cacique Mata Virgem, localizada no Parque dos Novos Estados, em Campo Grande. A mãe de santo do terreiro é Eva Marina Capli de 70 anos que convidou o Lado B para acompanhar as celebrações. Ela estava na correria cuidando dos últimos detalhes da festa, se preparando para incorporar o cacique da casa e conversou pouco.

“Hoje comemoramos os 111 anos da Umbanda. A festa também é uma homenagem ao cacique Mata Virgem e a mim, pois completo 30 anos na religião. Lembro que minha coroação para sacerdote da casa foi emocionante e o papel de uma mãe de santo é guiar e preparar os filhos. Agora será coroada outra, uma filha pequena para mãe de santo”, disse Eva.

O salão foi decorado com folhas e o altar com as imagens foi preparado para a celebração (Foto: Danielle Matos)
O salão foi decorado com folhas e o altar com as imagens foi preparado para a celebração (Foto: Danielle Matos)
Carlos Júlio de Souza fala sobre a importância do evento para os umbandistas (Foto: Danielle Matos)
Carlos Júlio de Souza fala sobre a importância do evento para os umbandistas (Foto: Danielle Matos)
Os filhos deitados no chão ao lado do altar antes da cerimônia começar (Foto: Danielle Matos)
Os filhos deitados no chão ao lado do altar antes da cerimônia começar (Foto: Danielle Matos)

Quem guiou a equipe pela casa foi o iniciante a ogã, Augusto Galen, 25 anos. Ele é umbandista desde que nasceu e comentou sobre a religião. “A Umbanda surgiu no Brasil em 1908, através de Zelio Fernandino de Moraes, que recebeu o caboclo das 7 Encruzilhadas. Ele revelou em sua manifestação que sua última vida material foi como um caboclo no Brasil, porém anteriormente a essa vida, foi um missionário português que viveu e Lisboa chamado Gabriel Malagrida", explicou.

Durante o ano as celebrações são para várias etnias, começando com a festa para Preto Velho, em comemoração à libertação dos escravos. Na metade do ano é celebrado a etnia cigana, depois baiana que festeja a cultura nordestina e neste mês a indígena.

O evento aconteceu num salão, que recebeu um tapete verde com folhas de São Rafael espalhadas no chão e decorando o teto, junto com as moringas penduradas. A festa começou com os umbandistas formando uma corrente no meio do espaço, com as mãos pra trás e segurando uma rosa.

Em seguida os ogãs tocaram os atabaques e fizerem os seguidores cantarem as músicas para iniciar a celebração. As canções exaltavam Mata Virgem, falavam sobre a Umbanda e teve até o “parabéns pra você” cantado para o anfitrião da casa, antes “descer” para abençoar os filhos.

Mata Virgem é um espírito indígena, que não costuma falar do passado. Quando incorpora usa um cocar na cabeça, cobrindo quase todo os olhos e fuma um charuto. A voz da médium muda com a incorporação, fica um som mais grave e rouco. Ele perambulou pela tenda e foi responsável pela coroação.

O seguidor recebendo a benção no altar santo(Foto: Danielle Matos)
O seguidor recebendo a benção no altar santo(Foto: Danielle Matos)
A mãe de santo Eva sendo abençoada pela santidade (Foto: Danielle Matos)
A mãe de santo Eva sendo abençoada pela santidade (Foto: Danielle Matos)
Os seguidores se vestiram de indígenas e dançaram na cerimônia (Foto: Danielle Matos)
Os seguidores se vestiram de indígenas e dançaram na cerimônia (Foto: Danielle Matos)

A cerimônia aconteceu nos moldes indígenas, com gritos de guerra e danças em círculo. Os médiuns se aproximavam para o passe e recebiam as entidades que já chegavam brandando e batendo o pé, como uma forma de apresentação. Depois andavam para reconhecer o local e os seguidores. A cada pessoa por quem passavam, eram três batidas no peito e o cumprimento com as mãos fechadas.

Após as apresentações, as entidades retornavam para o centro da corrente, onde fumavam charuto e estalavam os dedos para “purificar” o ambiente. Cada espírito que descia colocava um cocar na cabeça para avisar os filhos e quando sentiam-se à vontade, falavam algumas poucas palavras.

No evento não teve cachaça e a diversão das entidades que desciam era rodar e dançar como fizeram na vida passada, nos rituais das tribos. Eles ficaram pouco tempo e foram embora durante os rodopios dos médiuns no centro do salão.

Mais de uma hora após começar a festa, foi realizado a coroação da filha pequena Iraci que passou a ser mãe de santo. Ela estava se preparando para subir de “cargo” e ficou confinada por uma semana numa choupana até a cerimônia.

Durante o evento, foi guiada pelos seguidores até o altar, onde recebeu a benção de Mata Virgem. O cacique conversou e passou a mão em sua cabeça, para abençoar a nova etapa da vida da filha.

O cacique Mata Virgem coroando a filha Iraci em mãe de santo (Foto: Danielle Matos)
O cacique Mata Virgem coroando a filha Iraci em mãe de santo (Foto: Danielle Matos)

O pai pequeno, Carlos Júlio de Souza explicou a importância da religião na vida dos seguidores. “A Umbanda nos ensina a praticar o bem, ajuda os filhos a levantar e seguir o caminho correto. Estou na casa há 18 anos e em 2020 serei graduado em pai de santo”.

Marlen da Conceição Francisco também é a mãe Marlen da Tenda de Umbanda São João Batista, que fica no bairro Los Angeles. Ela foi visitar a casa de Mata Virgem e comentou sobre as comemorações. “É uma conquista quando tem a coroação de um caboclo. É um passo a mais a tudo que é bom e diz respeito a ser humano. É importante quando os pais e mães de terreiros se reúnem para louvar o sagrado, pois é uma forma apoio e de dizer que estamos juntos”.

Luciana dos Santos tem 29 anos, não é umbandista, mas participou do evento por conta do marido e da filha seguem a religião. Tem um olhar mais amplo para a Umbanda e acredita que as celebrações são forma de quebrar o preconceito. “Aprendo muito quando venho nas festas, é um conhecimento a mais. Sou médium também e quando meu filho de 3 anos crescer pretendo entrar na casa”, afirmou.

Confira mais fotos na galeria.

Curta o Lado B no Facebook e Instagram.

Seja exclusivo, cadastre o telefone (67) 99981-9077 e receba as notícias mais lidas no Campo Grande News pelo seu WhatsApp. Adicione na sua lista de contato, mande um "OI", e automaticamente você será cadastrado.

Confira a galeria de imagens:

  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
  • Campo Grande News
Nos siga no Google Notícias