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Cannabis melhorou a vida do gato Zico e fez Ana abandonar tarja preta

Em Mato Grosso do Sul, mais de 350 humanos e 150 pets são filiados à associação e fazem o tratamento medicinal

Aletheya Alves | 10/05/2022 06:32
Ana Lucia de Melo Pereira e seu gato, Zico, fazem uso do canabidiol. (Foto: Paulo Francis)
Ana Lucia de Melo Pereira e seu gato, Zico, fazem uso do canabidiol. (Foto: Paulo Francis)

Depois de 20 anos fazendo tratamento para ansiedade e depressão com tarja preta, a designer Ana Lucia de Melo Pereira aprendeu com o gato que a solução poderia ser outra. Ela conheceu os efeitos do canabidiol enquanto o gato Zico usava o produto à base de cannabis para lidar com a epilepsia. Notando melhora na qualidade de vida do pet, ela buscou orientação médica e também decidiu substituir seus remédios pelo produto.

Hoje, ela e Zico fazem parte do grupo de mais de 350 pacientes humanos e 150 pets que integram a Associação Sul-Mato-Grossense de Pesquisa e Apoio à Cannabis Medicinal Divina Flor.

Assim como a designer, Zico também passou por tratamentos com remédios de tarja preta, mas os resultados não foram conforme o esperado, de acordo com Ana. Contando sobre a história dos dois, ela resume que, apesar de medicamentos tradicionais serem funcionais para diversas pessoas, suas experiências pessoais e prescrições médicas os levaram para os caminhos do canabidiol.

Antes de chegar ao cenário atual, tanto o gato quanto Ana passaram por vários estágios em suas doenças. Primeiro da família a usar o canabidiol, Zico foi adotado quando tinha cerca de 6 meses e já havia sido diagnosticado com epilepsia.

“Quando ele veio para casa, precisamos aumentar as doses de Gardenal. Na época, ele tomava 20 gotas por dia e acabava passando a semana inteira dormindo. Eu tinha um gato sem vida ativa nenhuma e que chegava a ter duas crises por semana”, conta.

Zico ao lado dos frascos do óleo vendidos pela associação Divina Flor. (Foto: Paulo Francis)
Zico ao lado dos frascos do óleo vendidos pela associação Divina Flor. (Foto: Paulo Francis)

Ana relata que depois de algum tempo procurando por alternativas que oferecessem efeitos melhores, ela conheceu a Associação Divina Flor. “Eu conhecia o Alexsander, que é um dos fundadores, há muito tempo, mas não sabia da associação. Conversei com ele e ele sugeriu de vermos sobre o tratamento com o Zico.”

Para começar o processo, a designer explica que foi necessário procurar por uma médica-veterinária e verificar se o caso de Zico correspondia aos enquadrados nos tratamentos feitos com o canabidiol. “Fomos à veterinária e recebemos o laudo e prescrição para ele, em seguida, entramos nos processos da associação”, diz.

De acordo com Ana, devido ao gato ter entrado na rotina das outras medicações, também foi necessário retirar os remédios aos poucos e fazer a substituição pelo canabidiol obtido através da associação. Tudo isso com acompanhamento da médica-veterinária e dos outros profissionais da saúde que integram a Divina Flor.

Sobre o momento de transição, a tutora detalha que, por não saber se a cannabis medicinal iria fazer efeito, uma das tensões era a possibilidade de Zico piorar.

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Dá medo, você fica pensando se vai dar certo, mas foi muito eficaz para ele. Ele não deixou totalmente de ter crises, mas diminuiu a quantidade e agora, tem uma vida com qualidade, não dorme o dia todo", explica.

Vendo que o medicamento passou a fazer efeito em Zico, Ana decidiu procurar novamente por médicos e verificar sobre sua própria saúde. Ela conta que por mais de 20 anos, tomou remédios tradicionais para ansiedade e depressão, sem conseguir evoluir em seu quadro.

“Eu fazia os tratamentos com remédios fortíssimos e tinha muito efeito colateral. Acho super bacana quando as pessoas conseguem melhorar com esses remédios, mas para mim, não funcionava”, diz.

Relembrando como era sua vida antes de receber a prescrição do canabidiol para tratamento do seu caso, Ana explica que chegou ao ponto de não conseguir trabalhar fora de casa devido às crises que tinha. “Eu não conseguia me manter no serviço e, conforme fui me afastando dele, me afastei de tudo. Não conseguia fazer nada, só tomava os remédios e dormia com ajuda deles. Hoje, estou me recuperando, me adaptando e me sinto muito melhor.”

Hoje, tanto ela quanto Zico fazem acompanhamento médico e continuam integrando a associação. É através da Divina Flor que os dois conseguem adquirir o óleo por preços reduzidos e recebem os suportes necessários.

Prescrição médica 

Especificamente sobre o uso medicinal da cannabis em pets atualmente, a médica-veterinária Rosana Antunes Estrada detalha que há prescrições para alterações comportamentais (ansiedade e agressividade), doenças dermatológicas, doenças renais, dores crônicas (artrite e artrose), alterações neurológicas (sequelas de cinomose e processos degenerativos), neoplasias e outras aplicações.

“O organismo dos mamíferos possui o sistema endocanabinóide, cuja função é manter o equilíbrio do corpo. Quando, por algum motivo, ocorre a insuficiência desses neurotransmissores, isso pode ocasionar inflamações, degenerações, baixa imunidade, estresse, oxidativos que dão origem a várias doenças”, conta.

Assim como ocorre para humanos, a veterinária detalha que os pets também devem passar por avaliação médica para verificar se é necessário o uso do canabidiol. “O tutor deve levar seu pet a um profissional capacitado, onde passará por uma avaliação clínica detalhada e exames complementares.”

A venda do óleo através da associação é exclusiva para os integrantes através de prescrição médica. (Foto: Paulo Francis)
A venda do óleo através da associação é exclusiva para os integrantes através de prescrição médica. (Foto: Paulo Francis)

Caso seja concluído que o paciente pode ser beneficiado com a terapia, o profissional prescreve o tratamento e acompanha, com controles clínicos e periódicos, a vida do pet, de acordo com Rosana.

Em relação à legalidade do tratamento, a veterinária explica que houve a regulamentação com as PL 369/2021 e 399/2015 no Brasil. “Elas permitem o uso de produtos industrializados derivados de Cannabis Sativa desde que haja prescrição do médico-veterinário habilitado.”

Devido ao tratamento ser indicado tanto para humanos quanto para pets, durante o debate sobre a cannabis medicinal que ocorreu em audiência pública na Câmara de Vereadores de Campo Grande, o médico psiquiatra Wilson da Silva Lessa Júnior defendeu que é necessário gerar discussões sobre os riscos e benefícios do uso medicinal.

Atualmente, para ter acesso ao medicamento, todos os pacientes precisam de laudo, prescrição médica, termo de responsabilidade e outros documentos.

Associação Sul-Mato-Grossense de Pesquisa e Apoio à Cannabis Medicinal Divina Flor

Fundada em dezembro de 2020, a Associação Divina Flor foi criada e é presidida por Alexsander Onça e Jéssica Luana Camargo. Atualmente, a instituição possui em seu quadro profissionais da saúde, assistentes sociais e parcerias com a UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e Fiocruz.

Representando a associação, Alexsander conta que, antes de criar a associação, ele e Jéssica tiveram experiências em suas próprias vidas com o canabidiol. “Eu descobri que tinha Síndrome de Tourette, por isso, perco meu controle vocal e motor, tenho isso desde criança e não conseguia diagnosticar. Já cheguei a achar que era espiritual, que não tinha jeito ou que teria que tomar vários remédios de tarja preta pelo resto da vida”, narra.

Alexsander Onça em curso de extração do óleo medicinal em Marília, São Paulo. (Foto: Arquivo pessoal)
Alexsander Onça em curso de extração do óleo medicinal em Marília, São Paulo. (Foto: Arquivo pessoal)

Após passar por alguns tratamentos tradicionais, Alexsander procurou um neurologista que havia estudado fora do País sobre o uso do óleo da cannabis. “Ele disse que era o que iria resolver para mim e deu certo. Depois disso, pensei que se estava resolvendo para mim, que eu estava conseguindo viver sem tremer, me bater, gaguejar, pensei que precisava trazer isso também para outras pessoas.”

De acordo com o presidente da associação, ele se uniu a Jéssica na caminhada e os dois começaram a fazer cursos para entender mais sobre o funcionamento da instituição. “Em 2019, começamos a lutar de trazer isso para MS. Eu e Jéssica viajamos para fazer cursos de associações e conhecer pessoas que são influentes no assunto. Desde o começo, tivemos auxílio de profissionais da saúde que estão à frente do assunto.”

Alexsander argumenta que, atualmente, a associação tem como foco democratizar o acesso ao medicamento e produzir pesquisas sobre o assunto para divulgação de informações. E possuindo um quadro completo de médicos, psicólogos e assistentes sociais, a associação consegue vender o óleo e oferecer acompanhamento aos pacientes.

“Todos os pacientes só recebem o óleo com receita em mãos com a miligramagem exata indicada pelos médicos. Hoje, nós não temos autorização para cultivar, nosso pedido está em tramitação. Por isso, nós temos uma parceria com a associação de Marília e é ela quem nos envia a quantidade de óleo para nossos pacientes.”

Aberta ao público, a associação oferece informações tanto para quem deseja conhecer mais sobre o uso medicinal da cannabis quanto para aqueles que querem ser integrantes da instituição. Para mais detalhes, acesse o site www.divinaflor.org.br ou entre em contato pelo WhatsApp através do número (67) 99231-3271.

Parte dos integrantes da Associação Divina Flor de Mato Grosso do Sul. (Foto: Arquivo pessoal)
Parte dos integrantes da Associação Divina Flor de Mato Grosso do Sul. (Foto: Arquivo pessoal)

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