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Faz Bem!

Ela perdeu 40 quilos em 1 mês, mas aprendeu a fumar e começou a beber

Adriano Fernandes | 17/02/2016 06:35
Daiane passou pela cirurgia de Fobi Capella, modalidade cirúrgica mais indicada no tratamento da obesidade mórbida. (Foto: Marcos Ermínio)
Daiane passou pela cirurgia de Fobi Capella, modalidade cirúrgica mais indicada no tratamento da obesidade mórbida. (Foto: Marcos Ermínio)

Há sete anos, a operadora de caixa e estudante Daiane Rose Quelho Marcondes, de 27 anos, começava uma mudança radical. Longe do fator estético e da procura por um corpo perfeito, ela optou por uma cirurgia de redução do estômago para reverter um quadro de obesidade mórbida.

Mas além da perda de peso, ela conta que a decisão deu inicio a um processo de autoaceitação e superação. Da rotina no trabalho, até a descoberta de uma vida social, hoje ela resume os últimos sete anos de pós-cirurgia em uma frase. “Voltei a me preocupar com a vida porque até eu emagrecer, eu simplesmente não vivia”, desabafa.

Para a jovem, a operação de redução do estômago foi muito além de uma questão de estética. (Foto; Marcos Ermínio)
Para a jovem, a operação de redução do estômago foi muito além de uma questão de estética. (Foto; Marcos Ermínio)

A história de Daiane não se resume apenas a emagrecer. Naquela época, ela recorda que era óbvio que os 110 quilos não correspondiam à estatura de 1,50 de altura.

Mas ao contrário do que se possa imaginar, a obesidade estava longe de ser um problema apenas físico para ela. O que mais colocava em risco sua saúde era a questão psicológica.

“Eu não me sentia gorda, mas ao mesmo tempo me envergonhava do meu corpo. Vestia roupas dois números maiores do que eu usava, me masculinizava. Eu tentava burlar a visão que eu tinha ao me olhar no espelho”, recorda. Segundo Daniele, sua realidade era um misto de baixa autoestima e conformismo.

“Eu me sentia confortável no meu mundinho de gordinha. Eu não tinha uma vida social, porém, tinha os meus poucos amigos, não tinha namorado e nem sequer tinha dado o meu primeiro beijo. Mas era confortável para mim, como uma espécie de autodefesa. Era muito mais fácil ser a amiga gordinha e engraçada do que me assumir como obesa”, lembra.

Daiane conta que a decisão de optar uma cirurgia bariátrica foi por influência dos pais, diante do quadro clínico da filha. “Eu não conseguia andar uma quadra a pé. Eu estava diabética, com pressão alta e todas as complicações de um quadro clínico em que, a qualquer momento, eu poderia ter um infarto”, comenta.

A primeira intervenção cirúrgica que ela fez foi um procedimento que consiste em inserir um balão intragástrico no estômago. Mas as crises de ansiedade da moça comprometeram ainda mais o tratamento.

“Devido a minha ansiedade, eu aprendi a burlar o tratamento. Descobri que,mesmo não conseguindo comer o que eu sentia vontade, eu poderia, por exemplo, tomar um sorvete ou refrigerante. Algo que saciasse minha vontade de comer, mesmo saindo fora da dieta”, ela diz.

Foto de Daiane antes da operação, há sete anos. (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto de Daiane antes da operação, há sete anos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Após seis meses, o tratamento teve de ser revertido e a obesidade mórbida atingiu seu estado mais crítico. “Em seis meses com balão gástrico, perdi somente 10 quilos. Depois que reverti o procedimento cheguei a engordar mais 40 quilos”, se queixa.

Somente depois de dois anos é que ela decidiu se submeter a cirurgia bariátrica, período em que os questionamentos psicológicos também aumentaram.

“Eu me perguntava de o porquê eu ia me submeter a um procedimento tão arriscado? De como ia ficar meu corpo ou minha alimentação depois da cirurgia? Mas todos estes questionamentos eu mesma criava em minha mente, para tentar evitar a operação”, comenta.

Daiane se submeteu a cirurgia de Fobi Capella, modalidade cirúrgica mais indicada no tratamento da obesidade mórbida. Mas ela conta que os efeitos colaterais do tratamento, também foram traumatizantes.

“Em um mês eu perdi 40 quilos, mas ao mesmo tempo, minha rotina de alimentação era angustiante. Eu cheguei a ter refeições de apenas 50 ml de sopa. Meu cabelo começou a cair, tive uma complicação raríssima em que tudo que eu comia, eu vomitava. Cheguei ao ponto de me arrepender de ter feito a cirurgia”, lembra. Até hoje ela diz ter trauma de agulhas ou hospital, devido ao tempo em que ficou internada em recuperação. 

Durou seis meses o período de autoaceitação, tanto física quanto psicológica. Durante esse tempo, ela também deu inicio ao tratamento com psicólogo, como forma de evitar possíveis complicações.

“Eu era obesa porque descontava minha ansiedade na comida, como eu não podia mais exagerar na alimentação, busquei novas formas de me autodestruir. Aprendi a fumar, comecei a beber, cheguei a engordar um pouco. Até quando decidi sair daquele circulo vicioso e procurar uma terapia”, comenta.

Atualmente Daiane pesa 54 quilos, mas ressalta que sua maior conquista não foi a estética. “Eu nunca quis fazer a cirurgia para me encaixar em um padrão de beleza, até porque eu ainda não me encaixo e nem faço questão. Mas eu precisava me redescobrir como mulher, recuperar minha auto-estima", ela diz.

Antes da cirurgia Daiane pesava 110 quilos. Seu peso atual varia entre 54 e 58 quilos. (Foto: Marcos Ermínio)
Antes da cirurgia Daiane pesava 110 quilos. Seu peso atual varia entre 54 e 58 quilos. (Foto: Marcos Ermínio)

Apesar de todo esforço, ela conta que as conquistas são diárias até hoje. O momento que foi o divisor de águas no seu tratamento é simbólico. “Minha angústia durou até o dia em que eu voltei a vestir uma calça de numeração 38”, ela brinca.

Devido a cirurgia de redução de estômago, Daiane relata que teve que passar a processo de reeducação alimentar. “Eu basicamente como de tudo, mas em pequenas porções e em pequenos intervalos de tempo. Carne e doces, por exemplo, são os alimentos que eu tento evitar. Sei dos meus limites e minhas restrições”, ela conta.

Ela brinca que os últimos sete anos foram de novas experiências. Do trabalho novo até os estudos, ela conta que passou a ser permitir mais. “Passei por duas faculdades, até me encontrar na Psicologia. Descobri o amor, um novo emprego. Passei a viver nesses últimos 7 anos tudo que eu não tinha vivido durante a minha adolescência inteira”, comemora.

Apesar das dificuldades do tratamento e as mudanças na rotina de vida, Daiane deixa claro que não se arrepende da cirurgia. Ela até indica a operação por quem busca apenas fazer as pazes com o espelho, mas orienta.

“Quem faz apenas por estética, tem que entender que há todo um trabalho psicológico de pós-cirurgia. É um trabalho mental. Para mim foi a melhor decisão que eu tomei na minha vida. Não sei com ela seria se eu ainda fosse obesa, mas fiz porque foi necessário. Mentalmente, eu ainda sofro de obesidade mórbida, mas a diferença é que agora sou magra””, conclui.

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