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Faz Bem!

Este ano, Patrícia ajudou criança desconhecida a criar álbum da própria história

Ela é uma das voluntárias de projeto realizado em abrigos e diz que ganhou mais do que poderia imaginar

Thailla Torres | 08/12/2017 06:17
O projeto é ajudar meninos e meninas acolhidas em abrigos a compreender, valorizar e mostrar sua trajetória de vida em um álbum. (Foto: fazendohistória.org)
O projeto é ajudar meninos e meninas acolhidas em abrigos a compreender, valorizar e mostrar sua trajetória de vida em um álbum. (Foto: fazendohistória.org)

Há dois anos, a dona de casa Patrícia Gomes de Oliveira Marques, de 46 anos, passou a entender o valor que há em registrar e conhecer suas próprias histórias. Ela faz parte do projeto nacional "Fazendo História" que em Campo Grande é realizado pela Coordenadoria da Infância e Juventude. O trabalho como voluntária é ajudar meninos e meninas acolhidas em abrigos a compreender, valorizar e mostrar sua trajetória de vida em um álbum, feito com as próprias mãos, com relatos, depoimentos, fotos e desenhos que fazem parte do seu cotidiano.

Este álbum pertence à criança ou adolescente e irá acompanhá-lo por onde for. Por isso, Patrícia começou o trabalho como forma de ajudar crianças que enfrentaram experiências ruins, mas em pouco tempo descobriu que quem ganhou foi ela, pelas transformações que são relatadas nesse Voz da Experiência.

Patrícia ao lado da meninada. (Foto: Arquivo Pessoal)
Patrícia ao lado da meninada. (Foto: Arquivo Pessoal)

"Eu não tinha conhecimento do projeto até setembro de 2016, quando uma vizinha decidiu fazer a entrevista na Coordenadoria da Infância e da Juventude para entender como funcionava. A ideia era ajudar, de alguma maneira, crianças que foram acolhidas em abrigos da cidade. Fui até a coordenadoria e saí de lá encantada. Depois dos encontros de formação inicial e aprovação das coordenadoras do projeto, passei a ser voluntária uma hora por semana em uma entidade de acolhimento.

A atuação tem duração de, no mínimo um ano e, como é feito um contrato, compreendi que é algo muito responsável. O projeto não é simplesmente para aqueles que desejam fazer um pouquinho de bem e depois dizer: cansei. O Fazendo História é um trabalho sério desde o primeiro minuto e, confesso, desde que coloquei os meus pés na entidade, nunca mais quis sair.

Eu sinto que a gente faz a diferença na vida dessas crianças, mas ao longo do tempo, descobri que são elas que fazem muito mais pela gente, com um carinho e sinceridade sem igual. Quando comecei, sinceramente, não sei se esperava tanto.

Muitas vezes, elas estão retraídas, quietas, diante de uma experiência difícil de estar entre adultos e crianças até então desconhecidas. Mas quando a gente começa a primeira página do albúm, o semblante é a primeira coisa que muda.

Uma das crianças com quem me aproximei para elaborar suas vivências, conversar e dar início a construção do álbum, mostrou isso de maneira surpreendente. Ela tinha chegado no abrigo há poucos dias, estava retraída e quietinha sentada em um sofá, sem vontade de interagir com outras crianças.

O vínculo com o voluntário deverá ser uma boa experiência, sem qualquer sensação de ruptura ou abandono. (Foto: fazendohistória.org)
O vínculo com o voluntário deverá ser uma boa experiência, sem qualquer sensação de ruptura ou abandono. (Foto: fazendohistória.org)

Ela tem 4 anos de idade, não pedia para ir ao banheiro e ainda estava usando fraldas. Mas quando sentamos para conversar e começar, ela me pediu para ir ao banheiro chorando. Ela ainda estava muito sensível e assustada por estar em um lugar diferente.

Em pouco tempo ela foi se desprendendo, mostrando uma outra criança dentro dela. Depois de um ano, a criança que chegou não foi a mesma que saiu, mais alegre, forte e com vontade de saber da própria vida.

O projeto nos dá a oportunidade de inserir coisas que vão ser importantes na vida delas, pintar, recortar, sonhar com o próprio desenho, os relatos e as fotografias que vão ficar nas lembranças.

Elas também fazem muito pela gente. Na entidade, cada criança, mostra de um jeito especial como é valioso cada simplicidade da vida. A gente percebe isso no brilho dos olhos. toda vez que  ganham um simples lápis de cor ou quando pegam um livro de histórias e aproveitam para conversar sobre amigos, educação e a relação com todo ser humano.

O álbum ajuda a construir e eternizar cada pedacinho da infância. Mas são eles, que nos ajudam a entender e a olhar a vida de um jeito diferente. As crianças mostram como é simples e bonito dar amor e sinceridade. E nesse momento que a gente faz falta em um projeto lindo, mas que precisa de muitos voluntários.

Toda vez que eu saio do abrigo, eu tento mostrar para alguém que conheço a importância do que aconteceu naquele dia. Todos os dias penso que temos condições de levar alegria e amor a essas crianças, tão inocentes. E aquilo que pra gente parece muito simples e pouco, pode ser enorme para elas. 

Hoje, não me vejo longe do abrigo, longe das histórias e das crianças, que mesmo depois de saírem dali com destino a suas famílias, ficam pra sempre no nosso coração". 

Quer ser um voluntário? - Para participar é necessário ligar para a Coordenadoria da Infância e Juventude no telefone  (67) 3317-8644 no período da tarde. Será agendado um horário para realização da entrevista e depois uma capacitação voluntária.

O compromisso é, sobretudo, com as crianças e adolescentes que possuem ao menos uma coisa em comum: viveram uma separação ao serem afastados de suas famílias. Por isso merecem e precisam ser tratados com todo respeito e cuidado. O vínculo que será iniciado com o voluntário deverá ser uma boa experiência, sem qualquer sensação de ruptura ou abandono.

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