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Na tradição gaúcha, Temisto diz ter encontrado fórmula para a juventude aos 80

"Não sei quem inventou que sou velho só porque tenho 80 anos", diz o aposentado

Thailla Torres | 15/08/2018 07:58
Ao lado da esposa Vânia, Temisto fala sobre como encara a chegada da idade e revela segredo para juventude eterna.
Ao lado da esposa Vânia, Temisto fala sobre como encara a chegada da idade e revela segredo para juventude eterna.

"Não sei quem inventou que sou velho só porque tenho 80 anos", diz Temisto Teodoreto Braga dos Santos, que apesar da idade, é um homem que não se considera idoso. Uma hora de conversa com ele é estímulo suficiente pra entender que idade, muitas vezes, não diz nada. Toda essa animação é fruto da dança, que ele começou desde de pequeno.

É na tradição gaúcha que diz ter encontrado a fórmula da "juventude eterna". "Eu bailo até hoje, não abro mão de dançar de jeito nenhum", afirma. E no mesmo instante, seu Temisto chora, porque há alguns meses está fora da pista por causa das dores no joelho e da cirurgia. "Eu operei pra isso, eu sei, mas a gente sente muita saudade", diz.

Foto de 1957  em que Temisto descreve estar um gato, na Praça Ary Coelho.Ele é o primeiro da esquerda.  (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto de 1957 em que Temisto descreve estar um gato, na Praça Ary Coelho.Ele é o primeiro da esquerda. (Foto: Arquivo Pessoal)

Foi a fotografia acima, publicada em grupo do Facebook, que nos levou a Temisto. Na publicação ele descreve como era um gato naquela época, quando estava de passagem pela Praça Ary Coelho. Ele adianta que mesmo com as oito décadas de vida, ainda se sente jovem e fica feliz por estar em plena atividade.

Ele acredita que a animação venha de família. Nascido no Rio Grande do Sul, os familiares são de Santo Ângelo, Tupaceretan e Santa Maria. Foi lá que aprendeu o que era dançar, por influência do pai e da mãe, que só largaram o CTG (Centro de Tradições Gaúchas) quando tiveram que ver os filhos nascerem. "Eu brinco que minha mãe só largou o CTG pra parir e logo em seguida fui colocado lá dentro", brinca.

Aos 12 anos, veio com os pais para Mato Grosso do Sul, em seguida, o restante da famíliase ajeitou por aqui. Temisto foi logo conhecer o CTG sul-mato-grossense para não perder a tradição.Também trabalhou na construção civil, tornou-se empresário e foi professor de dança durante 20 anos.

O tempo passado em ensaios trouxe mais do que dança. As viagens e trocas de experiências com outros colegas do CTG deram a Temisto conhecimento sobre os regionalismos que constroem o modo de falar e viver do gaúcho. "A gente tem costumes e somos fiéis a eles. Tem gente que questiona, mas eu não ligo. Nunca dancei com uma prenda de calça comprida, por exemplo. Hoje vejo muitas assim no CTG, mas eu não danço. Porque lá no Su, a gente não dança assim", comenta.

Apresentação de Temisto e Vânia no CTG de Ponta Porã. (Foto: Arquivo Pessoal)
Apresentação de Temisto e Vânia no CTG de Ponta Porã. (Foto: Arquivo Pessoal)
A dupla quando participou da inauguração dos Correios de Campo Grande. (Foto: Arquivo Pessoal)
A dupla quando participou da inauguração dos Correios de Campo Grande. (Foto: Arquivo Pessoal)

A tradição é tanta que Temisto carregava no banco de trás do carro algumas saias. Se alguma prenda quisesse dançar, ele oferecia. Em casa, as paredes ganharam quadros que mostram as roupas tradicionais gaúchas desde 1800. E ele não se cansa de olhar com orgulho para a coleção. "Acho que só eu tenho isso daqui. Toda vez que alguém chega, eu mostra pra ver como são bonitas as nossas roupas".

Na cabeça ele descreve a pilcha gaúcha completa que na vida não pode faltar. "Bota, bombacha, lenço e a guaiaca de cintura. Vânia cuida do vestido e da sapatillha. É assim que a tradição manda a gente dançar".

O amor pela dança é tanto que Temisto já viajou por diversas cidades do interior de Mato Grosso do Sul, mas quando a saudade do sul país aperta, ele e a esposa Vânia encaram horas de estrada até Caxias do Sul. "Sim a gente já pegou o carro na sexta e foi lá dançar, é lindo demais".

Juntos, ele a esposa já participaram de competições, se apresentaram em grupos e até fizeram parte de inaugurações de lugares da cidade. "A gente ficou conhecido. Ninguém dança um xote como a gente".

Hoje, ele lamenta que as coisas tenham mudado tanto. "Está muito bagunçado. Eu vejo homem de bermuda em CTG e isso não pode. Lá no Sul, já vi juiz de paz chegar no centro e ser proibido de entrar porque estava de terno. Isso não pode".

Mesmo assim, é na tradição que ele se mantém. "Eu luto pra isso continuar, não abro mão das nossas roupas, da nossa dança, do nosso chimarrão. Tradição é coisa que a gente não joga fora".

Na sala, quados exibem a pilcha completa.
Na sala, quados exibem a pilcha completa.
E aos 80 anos ele está em plena atividade.
E aos 80 anos ele está em plena atividade.
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