Após tanta piada com seu bombom, Vera se rendeu à versão alcoólica
“Tem de cachaça? Quando tiver, eu compro”, era uma das piadas mais ouvidas na noite
Por muito tempo, Vera Lúcia da Rocha Dias ouviu a mesma piadinha toda vez que saía para vender seus bombons pelas ruas do Jardim Canguru. A frase vinha com um riso fácil e a promessa vazia de uma compra futura: “Tem de cachaça? Quando tiver, eu compro.”
Um dia, cansada de rir por educação, Vera fez o que ninguém esperava: levou a piada a sério. Inventou bombons de caipirinha e de batida de vinho. Deu certo. Viraram seu diferencial, e seu sucesso de vendas.
"Todo mundo já vendia brigadeiro e beijinho. Aí eu pensei que, se eu queria ganhar o diferencial, precisava fazer o diferencial", conta, com a lógica afiada de quem entende de rua, de crise e de sabor.
A virada veio no auge da pandemia, em 2020. Vera trabalhava como diarista, mas ficou sem serviço quando a covid-19 fechou casas, portas e oportunidades. "Foi aí que comecei a comprar bombons para revender e vi que dava certo", lembra.

O começo foi modesto, com bombons prontos, comprados em pacotes de supermercado. Depois, ela passou para caixas maiores. Mas, quando os preços começaram a subir demais, Vera encarou um novo desafio: aprender, sozinha, a fazer os próprios doces.
“Aprendi na raça”, resume. “Vi uma frase que nunca esqueci: ‘Em tempos de crise, uns choram, outros vendem lenço’. E eu decidi jogar no time vencedor”, relata, com o orgulho discreto de quem escolheu vender sabor em vez de lágrimas.
A ideia de misturar bombom com bebida alcoólica não veio do nada. Foi dica de outra vendedora e empurrão do bom e velho YouTube. “Uma conhecida me perguntou se eu já tinha feito bombom de caipirinha. Eu nem sabia que existia! Fui pesquisar e achei vários vídeos... mas, claro, dei o meu toque especial”, conta, mas garante que o segredo da receita fica com ela.

Empolgada com o resultado, Vera pensou além. Criou um bombom de batida de vinho que é seu xodó. "Os recheios que vi no YouTube eram muito enjoativos. Tentei várias receitas até chegar em uma que lembra mesmo a batidinha de vinho servida nas festas”, diz.
No Dia dos Namorados, ela lançou outra versão para a data especial: bombom de morango com champanhe e em formato de coração. "Usei espumante rosé pra não encarecer muito a receita e ter que repassar os custos para o cliente. Vendo em um bairro popular, tenho que calcular tudo", conta.
De segunda a segunda, depois das 19h ela sai a pé com a caixa térmica de bombons para vender nas ruas. As vendas noturnas foram pensadas justamente por conta dos sabores alcoólicos. “Mas sempre levo uma opção sem álcool pensando nas crianças e nos que preferem algo mais leve. Hoje eu levo bombom de vinho, caipirinha e mousse de maracujá", explica.
Vendedora conhecida na região sul da cidade, Vera pensa em expandir o ponto de venda. "Estou pensando seriamente em fazer um teste na universidade. Pode ser uma boa ideia", acredita.
Com a venda dos bombons de chocolate 70%, diferencial que faz questão de destacar, Vera tira o sustento de casa e não pretende parar tão cedo. "Por enquanto trabalho só com os bombons e já estou pensando no próximo sabor", finaliza.
Siga o Lado B no WhatsApp, um canal para quebrar a rotina do jornalismo de MS! Clique aqui para acessar o canal do Lado B e siga nossas redes sociais.