Catadores buscam valorização e população ainda envia rejeitos para reciclagem
Profissionais que atuam na triagem cobram reconhecimento e pagamento pelo serviço prestado ao município

Apesar da expansão da coleta seletiva em Campo Grande nos últimos anos, menos da metade dos resíduos separados pela população é efetivamente reciclada. Levantamento da UTR (Unidade de Tratamento de Resíduos Sólidos) mostra que, entre 2019 e maio de 2025, das mais de 42 mil toneladas coletadas seletivamente, pouco mais de 19 mil toneladas foram reaproveitadas. O restante, mais de 23 mil toneladas, foi descartado como rejeito, mesmo após a triagem.
RESUMO
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Em Campo Grande, a coleta seletiva tem avançado, mas menos da metade dos resíduos separados pela população é reciclada. Dados da UTR indicam que, entre 2019 e maio de 2025, apenas 45% dos materiais coletados foram reaproveitados, com um aumento temporário em 2023. Catadores buscam reconhecimento e remuneração pelo serviço prestado, enfrentando desafios como a invisibilidade social e a baixa renda. Apesar de avanços, como a aprovação de projetos do Governo Federal, a situação ainda requer atenção do poder público para garantir melhores condições de trabalho e valorização dos profissionais.
Na prática, isso significa que a cada 10 quilos separados pelos moradores, cerca de 5,5 quilos acabam no lixo comum. A média de reaproveitamento no período foi de 45%. O melhor desempenho foi registrado em 2023, quando a taxa de aproveitamento chegou a 52%. Porém, o índice voltou a cair em 2025, com aproveitamento de 42,4% até maio.
Operada pela concessionária Solurb, a UTR é a unidade responsável pelo processamento dos materiais coletados seletivamente. O contrato da empresa prevê metas de eficiência na separação e no tratamento dos resíduos sólidos, mas os dados apontam que o sistema ainda enfrenta desafios para garantir que o esforço da população resulte em reciclagem de fato.
Para quem está na linha de frente desse trabalho, a situação vai além dos números. Os catadores de materiais recicláveis ainda buscam reconhecimento e valorização pelo serviço que prestam à cidade.
“Os catadores prestam um serviço público para o município. A coleta seletiva e a triagem são obrigações previstas em lei, mas eles não são remunerados por isso. A mera venda do material reciclável não gera nem mesmo um salário mínimo para essas pessoas”, afirma Luciano Loubet, promotor de Justiça no Núcleo Ambiental do Ministério Público do Mato Grosso do Sul, que acompanha de perto a realidade dos trabalhadores e defende que a Prefeitura deve contratá-los e pagá-los pelo serviço.
Luciano também destaca que Mato Grosso do Sul é referência nacional em logística reversa, sistema pelo qual empresas devem recolher e reaproveitar produtos após o consumo, mas os ganhos ainda são insuficientes para garantir renda digna aos catadores. “Hoje o que deveria acontecer é o poder público pagar pelo serviço prestado, como pagaria a uma empresa privada. A lei determina isso e ainda dá prioridade para os catadores”, reforça.
Além da baixa remuneração, os trabalhadores enfrentam o desperdício. De todo o material coletado e separado na UTR, cerca de 49% ainda é classificado como rejeito e descartado no aterro sanitário.

Gilda Macedo, representante da Atmas MS (Associação dos Trabalhadores de Materiais Recicláveis dos Aterros de Mato Grosso do Sul), lembra que os catadores saíram da dura realidade do antigo lixão e hoje atuam de forma profissional, mas ainda carregam o peso da invisibilidade social. “Mesmo com o avanço, ainda sofremos muito preconceito. A sociedade não entende o valor da nossa profissão para o meio ambiente e para a saúde pública.”
Segundo Gilda, os trabalhadores querem ser reconhecidos e contratados pelo município pelo serviço que prestam. “Prestamos um serviço para a cidade, mas não recebemos por isso. Nossa renda vem apenas da separação dos materiais da coleta seletiva. Se fosse uma empresa privada, já estaria recebendo. Nosso pleito é esse.”
Mesmo com as dificuldades, os catadores seguem buscando alternativas para melhorar as condições de trabalho. Segundo Gilda, recentemente, eles conseguiram aprovação de quatro projetos do Governo Federal, entre eles a implantação de uma cozinha solidária para oferecer alimentação aos trabalhadores da UTR. A obra deve começar nos próximos dias.
Além disso, os grupos locais também atuam em campanhas de conscientização sobre separação de resíduos e formam uma rede estadual de cooperativas que busca fortalecer o setor. O objetivo agora é ir além da separação e iniciar a transformação dos materiais recicláveis em novos produtos, agregando valor à produção local. “Ainda temos muito a avançar, mas estamos deixando menos pegadas no meio ambiente”, termina Gilda.
Sobre a remuneração dos catadores por parte do município, a reportagem questionou a Prefeitura sobre o tema, mas não houve retorno até está publicação. O espaço está aberto para esclarecimentos.
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