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Meio Ambiente

Com tanta ave, ninguém duvida que vivemos na Capital para passarinhar

A Cidade Morena tem despontado, cada vez mais, como Capital Brasileira da Observação de Pássaros.

Anahi Gurgel | 27/08/2018 14:00
Gavião-carijó registrado no Bairro Coophafè, em Campo Grande, no meio da "concretude". (Foto: Gilson Rocha)
Gavião-carijó registrado no Bairro Coophafè, em Campo Grande, no meio da "concretude". (Foto: Gilson Rocha)

“Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso. Meu quintal é maior do que o mundo”

As palavras de Manoel de Barros abraçam as araras, sabiás quero-queros, joões-de-barro, pica-paus, gaviões e mais de 400 espécies de aves que gorjeiam e enfeitam nossa Campo Grande. Tanta riqueza está transformando a cidade inteira em referência para o chamado “birdwatching”: aos 119 anos, a Capital acaba de ganhar de presente um mapa com “pontos quentes” para observação de aves.

A “passarinhada” – antigo hobby que começou na Europa no século 18 - chegou ao Brasil de mansinho (como se deve chegar aos pássaros) e não foi muito difícil de encantar o povo daqui: somos o segundo País com maior diversidade de aves do mundo.

Em todo o planeta são mais de 10 mil espécies catalogadas, sendo 1.912 no Brasil e cerca de 650 em Mato Grosso do Sul. Que potencial!

É, sem dúvida, uma atividade que exige olhos atentos e paciência, o que torna nossa Capital interessante para isso. A enorme quantidade de áreas naturais na área urbana permitem o avistamento de espécies das mais comuns às raras, as endêmicas do Cerrado e até mesmo ameaçadas de extinção.

Casal de corujas fotografado em praça na Vila Coophafé. (Foto: Gilson Rocha)
Casal de corujas fotografado em praça na Vila Coophafé. (Foto: Gilson Rocha)

“Essa peculiaridade permite ao turista e ao campo-grandense encontrar muitas espécies da avifauna local sem a necessidade de ir tão longe. São vastas áreas verdes, quintais e tantos outros espaços arborizados que favorecem a presença dos pássaros na área urbana”, explica a bióloga Simone Mamede, sócia-diretora do Instituto Mamede de Pesquisa Ambiental e Ecoturismo - instituição liderada por mulheres cientistas e pesquisadoras.

Ela avalia que, de 2009 para 2018, houve um crescimento exponencial de adeptos desse hobby em Campo Grande. Há 8 anos, eram 3 ou 4 praticantes, mas em 2012 houve um incentivo significativo com a criação do COA CGR (Clube de Observadores de Aves), que integrava mais de 15 pessoas.

“Hoje somos centenas, desde donas de casa que enviam fotos para identificação de espécies até aos mais especializados e colecionadores de ‘lifers’. As pessoas estão olhado mais para o céu, para o campo, para o jardim, para as árvores e percebido nossa rica diversidade de aves. Em Campo Grande é impossível não vê-las, basta olhar ‘com olhos de ver aves’”, sugere Simone.

Repare no 'lifers' que ela citou, pois logo adiante o termo será esclarecido por um desses apaixonados pela atividade.

João de barro é "flagrado" em árvore na região central da cidade. (Foto: Geancarlo Merighi)
João de barro é "flagrado" em árvore na região central da cidade. (Foto: Geancarlo Merighi)

E por falar em paixão, muitos dos observadores não apenas visualizam ou ouvem as aves, mas também fotografam, pesquisam, estudam e compartilham experiências nas diversas plataformas colaborativas. As mais procuradas são o wikiaves, biofaces, e-bird, taxeus, além de aplicativos e redes sociais.

“Observar aves é uma forma de reconexão com a natureza. Em mundo tão conturbado, estressante e com rotinas intensas de trabalho, estamos buscando maior contado com a vida e percebemos que estamos rodeados de seres belos e sensíveis. Assim como o poeta Manoel de Barros pensava renovar o homem usando borboletas, eu acredito que as pessoas passam ser transformadas observando as aves”, compara.

Mapa da mina - O mapa dos hotspots da observação de aves foi criado pela equipe do Instituto Mamede de Pesquisa Ambiental e Ecoturismo com apoio da Planurb (Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano).

O trabalho considerou seis indicadores para composição do catálogo: paisagismo funcional, ou seja, o quanto o paisagismo é atrativo para as aves, unidade de conservação, riqueza de espécies, heterogeneidade de paisagens, áreas verdes e uso pelos observadores de aves.

A pesquisa resultou em 31 hotspots para observação de aves em Campo Grande, com dois tipos de acessos: livre e controlado. Dois já foram instalados, um no Horto Florestal e outro no Parque das Nações Indígenas - áreas estratégicas onde o observador poderá ter acesso à indicação das demais áreas propícias para o birdwatching e ao livro Guia de Aves de Campo Grande, identificado por QR code, disponível para smartphone.

A construção da plataforma tem apoio de técnicos da Sectur, Biofaces e Fundtur. A turismóloga Juliane Ferreira Salvadori, superintendente de turismo da Sectur, explica que os hostpoints são reflexo do Plano Municipal de Turismo.

"São cinco vocações para o segmento: turismo de negócios e eventos, cultural, rural, gastronômico e ecológico, onde o birdwatching se enquadra. O mapeamento deve potencializar ações e desenvolver o setor a partir de investimento em capacitação de guias, material de promoção, por exemplo, até transformar Campo Grande na Capital da Observação de Aves”, detalha.

Totem instalado no Horto Florestal foi inaugurado no dia 24 deste mês. (Foto: Marinês Duranes)
Totem instalado no Horto Florestal foi inaugurado no dia 24 deste mês. (Foto: Marinês Duranes)

Avistar Campo Grande - Eventos temáticos contribuem para a disseminação da observação de pássaros no País. Um deles é o Avistar Brasil, que começou em 2006 e hoje é considerado o maior da América Latina. 

Duas edições do Avistar MS foram realizadas em Campo Grande mas, pela primeira vez, a Capital terá um evento birdwatching “só dela” - de 23 a 25 de novembro, numa união de forças entre poder público, empresas privadas e institutos de pesquisa e apaixonados pela atividade.

Paixão aflorada - Vinicius Santana é figurinha conhecida em Campo Grande. Tem cerca de 6 anos que iniciou a acompanhar a “rotina” de aves na cidade e fez dela a sua própria rotina.

“Comecei com uma câmera e mal sabia como manusear, mas a paixão pelas aves me motivou. Hoje, gosto de entender seus comportamentos, suas peculiaridades, suas cores. Me sinto livre, como os pássaros”, define, ele que atua como segurança particular, motorista de aplicativo e voluntário no Instituto Arara Azul.

Geancarlo Merighi, 42, é analista de desenvolvimento de turismo e trabalha na Fundação de Turismo do estado. Mas foi uma “maquineta” que o transformou num birdwatcher.

“Em 2012, comprei uma câmera para a família e fotografei um pássaro; fiquei pensando no que fazer com a imagem. Entrei na internet, pesquisei a espécie, e passei a me interessar cada vez mais”, conta.

Ele afirma que ser um birdwatcher não é só enxergar o pássaro, é também colecionar momentos. “Mais que tirar uma foto, quero a melhor foto, o melhor flagrante, o inusitado. Meus xodós são aves de rapina. Observei um casal de ‘gavião sovi’, desde a construção do ninho até quando os filhotes voaram. Inesquecível”, lembra.

E, claro, é aqui que ele explicar o termo lifer. É avistar uma espécie de ave ao vivo pela primeira vez. “O coração pulsa mais forte”, define, sem que precise fazer mais nenhuma pergunta.

Preparamos uma linda galeria desses “doidos” por aves podem ser avistadas aqui, em nossa Capital. Confira!

Confira a galeria de imagens:

  • De Vinícius Santana
  • De Gilson Rocha
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  • De Geancarlo Merighi
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