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Meio Ambiente

De olho nas araras-canindé, grupo monitora ninhos em Campo Grande

Luciana Brazil | 19/08/2012 09:01
No ninho, as araras não deram trégua para os pesquisadores. (Fotos: Simão Nogueira)
No ninho, as araras não deram trégua para os pesquisadores. (Fotos: Simão Nogueira)

Um privilégio para os campo-grandenses é presenciar com frequência o voo das araras-canindés que cruzam, sem cerimônia, o céu da cidade. Hoje em Campo Grande vivem cerca de 100 araras só dessa espécie, também conhecida como arara-de-barriga-amarela. A beleza é de tirar o fôlego e para observá-las basta ter um pouquinho de sorte.

Segundo a bióloga e fundadora do Instituto Arara Azul, Neiva Guedes, a espécie não sofre risco de extinção no país, mas em outros lugares da América Central a ave não é mais vista. “Ela vive desde o sul do México ao Norte da Argentina”.

O projeto “Aves Urbanas”, integrante do projeto Arara Azul, que estuda as araras mais comuns na área urbana de Campo Grande, acompanha semanalmente 12 dos 20 ninhos da espécie que existem na cidade.

O objetivo é saber, até o fim do ano, como se mantém a população da arara-canindé na cidade. Estima-se que nos últimos anos 20 filhotes de araras já nasceram em Campo Grande.

Esse tipo de ave constrói abrigos em troncos de árvores mortas, principalmente das palmeiras. “Uma forma de ajudar na preservação é deixar esses troncos e não arrancá-los”, destacou.

Neiva explica que apesar da arara-canindé ser a espécie mais comum, ainda não existem muitas pesquisas sobre ela. “Para você conhecer uma espécie é necessário que se estude”.

Segundo ela, já foram realizadas pesquisas sobre alimentação e comportamentos dos casais. A fase reprodutiva da arara-canindé também já é estudada, desde a postura dos ovos até os dois meses e meio de vida, quando essas aves começam a voar.

A arara-canindé se alimenta de vários frutos, podendo viver de 30 a 40 anos na natureza, assim como as outras espécies. Em cativeiro esse tempo pode ser maior, conforme explica Neiva.

As aves fizeram o ninho em frente ao Crea.
As aves fizeram o ninho em frente ao Crea.
Filhote da arara Canindé com 93 gramas.
Filhote da arara Canindé com 93 gramas.

Antes da colonização, as araras viviam onde hoje é a cidade, mas com a chegada do homem, as araras-canindés se refugiaram na natureza. Entre 2000 e 2001, elas voltaram a ser registradas na cidade. A escassez de alimento e a seca da natureza fizeram com que elas retornassem à procura de comida.

Esse regresso preocupa a bióloga, já que há indícios de falta de alimento. Porém, a capacidade da espécie em se adequar em um ambiente urbano é vista com empolgação. “É possível perceber a elasticidade da ave que consegue se adaptar em outro ambiente”.

Além da Canindé: Há mais de 20 anos, o projeto Arara Azul, criado em 1990 no Pantanal, acompanha a arara da espécie azul, que é mais comumente encontrada naquela região.

Segundo a bióloga Neiva, fundadora do projeto, a arara azul ocorre no Brasil e no Pantanal Boliviano, mas também era vista no Paraguai. "Há algum tempo não se tem notícia”.

Diferente da espécie canindé, a azul come apenas dois tipo de frutas, bocaiuva e acuri, por isso ela é vista apenas onde é possível encontrar esses alimentos.

Tão bonita quanto as outras duas espécies, a arara vermelha vive em menor número na Capital. A bióloga estima que sejam de 40 a 50 aves. Assim como a azul, a vermelha faz seus ninhos em paredões de rocha e ocos de árvores vivas.

Edson, que cursa Biologia, tira com todo cuidado o filhote do ninho.
Edson, que cursa Biologia, tira com todo cuidado o filhote do ninho.
A fundadora do projeto passa as medidas do filhote para a bióloga de Belo Horizonte Daphne.
A fundadora do projeto passa as medidas do filhote para a bióloga de Belo Horizonte Daphne.

Nas asas do projeto: Hoje pela manhã, a equipe do Campo Grande News acompanhou a coleta de dados de dois ninhos construídos caprichosamente em frente ao Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia). Na vistoria, com a ajuda dos voluntários do projeto, a bióloga tira fotos e faz a pesagem dos filhotes que já nasceram.

Quando o primeiro ninho começou a ser monitorado, o "intruso" estudante de biologia, Edson, 22 anos, no alto de sua escada, fez com que a arara adulta, que cuidava do ninho, alçasse voo e segundo a bióloga, a ave voltaria dentro de algumas horas.

Lá havia um filhote com apenas algumas semanas de vida e pesando 93 gramas, segundo Neiva, um pouco abaixo do peso.

De forma surpreendente, no segundo ninho o que era esperado não aconteceu. As duas araras adultas que cuidavam do abrigo não quiseram deixar o ninho e sem arredar as asas mostraram que estavam ali para defender os filhotes.

Neiva diz que essa reação não é comum, e com ela foi a primeira vez que aconteceu. “Elas sempre voam e depois voltam”, disse a bióloga.

A cena foi inusitada, mas de cima da escada, o voluntário Edson passou apertado com a luta ferrenha das araras para defender o abrigo.

A filha da bióloga, Sofia, de apenas 10 anos, já fotografa e se considera uma amante desses animais.

Encantada com o espetáculo, a bióloga Daphne Nardi, 30 anos, veio de Belo Horizonte (MG) para trabalhar no instituto, no Pantanal. “Eu nunca tinha visto. Cheguei na terça-feira e estou maravilhada”.

Daphne vai ficar por um ano e meio estudando as araras e já está cheia de expectativa. “Eu nem sei para onde eu olho, é tão lindo. A experiência de conhecer essas aves vai ser maravilhosa”, completou.

A alegria de ver as araras não é só para quem vem de fora, apesar de termos sorte com certa frequência, quando se ouve o grito dessa ave, não tem quem não se curve diante de suas cores e sua exuberância.

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