Ex-peão, Marcão virou caçador de grutas e ajuda a traçar mapa arqueológico de MS
Trabalho voluntário elevou de 24 para 41 o número de áreas de arte rupestre registradas no município
Marcos Antônio dos Reis, 54 anos, mais conhecido como Marcão, é uma figura singular em Alcinópolis, município no norte de Mato Grosso do Sul, a 311 km de Campo Grande. Sua história é marcada pela curiosidade e paixão em desvendar os segredos da região.
RESUMO
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Ex-peão de comitiva, Marcos Antônio dos Reis, conhecido como Marcão, contribuiu significativamente para a arqueologia em Alcinópolis, Mato Grosso do Sul. Por meio de expedições voluntárias, ele identificou 17 novos sítios arqueológicos, que foram posteriormente catalogados pela UFMS e registrados pelo Iphan. Sua paixão pela arqueologia começou em 2000, quando passou a fotografar pinturas rupestres na região. A parceria com pesquisadores da UFMS resultou em um livro sobre arte rupestre e na expansão do trabalho para o município vizinho de Figueirão, onde já identificou quatro novos sítios arqueológicos.
Por meio de expedições arqueológicas voluntárias, usando sua motocicleta e uma câmera fotográfica, ele já ajudou a identificar 17 sítios arqueológicos no município.
Todos foram estudados e catalogados por arqueólogos da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e registrados pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
Jornada
Nascido em Cassilândia, Marcos conheceu Alcinópolis em 1987, quando trabalhava como peão de comitiva de gado. Após idas e vindas, fixou residência no município em 1993 e, desde então, não se vê em outro lugar.
"Alcinópolis é minha paixão, na minha veia corre o sangue de Alcinópolis, não é só o coração, é o sangue também", afirma emocionado.
Em sua trajetória, Marcão já foi peão de comitiva, caminhoneiro e vereador por dois mandatos, de 2012 a 2020. Atualmente, ele trabalha com fotografia, cobertura de eventos e produção de conteúdo para seu portal. No entanto, a arqueologia continua sendo a grande paixão de sua vida.
Primeira expedição nasceu da curiosidade
O interesse surgiu de forma quase acidental. Em 2000, Marcão comprou uma câmera por gostar de fotografia. “Os caçadores falavam que na região havia muitas cavernas de índio”, comenta ao esclarecer que descobriu que as pinturas rupestres encontradas foram, na verdade, produzidas por populações nômades.
Em 2002, ele pegou a motocicleta e saiu em busca das grutas sobre as quais ouvia falar, começando a colecionar e mostrar as fotos que tirava. Certa vez, um viajante lhe falou sobre o Muarq (Museu de Arqueologia da UFMS), em Campo Grande, e ele decidiu ir conhecer o local.
Visita ao Muarq mudou o rumo da história
"Fiquei muito apaixonado quando estive lá e vi imagens de Alcinópolis, artefatos que encontraram aqui”, comemora.
Nessa visita, ele conheceu o professor Gilson Rodolfo Martins, então responsável pelo Muarq. O professor lhe explicou sobre os sítios arqueológicos de Alcinópolis, os tipos de imagens e artefatos, aprofundando o seu interesse pela arqueologia.
Depois desse encontro, nasceu um trabalho de cooperação. Marcão realiza expedições solitárias para identificar novos locais e envia as fotografias aos pesquisadores. Em seguida, ele guia as expedições científicas na região.
"Comecei a me despertar na arqueologia, comecei a saber mais, tentar me aprofundar mais", conta.
A convite do professor Gilson, Marcão foi participar de um seminário em Rondonópolis (MT), sobre a Cidade de Pedra. “Não me esqueço dessa data. Foi em 7 de setembro de 2013”, lembra.
Acervo fotográfico vira livro
Durante o evento, ele leu em um livro a frase 'Passado no presente', que o marcou. A partir dela, Marcão percebeu que tinha acervo fotográfico suficiente para um livro sobre o patrimônio de Alcinópolis e apresentou sua ideia aos pesquisadores.
Pouco tempo depois, segundo ele, a professora Lia Brambilla o contatou para a parceria. Assim nasceu o livro sobre a arte rupestre em Alcinópolis – em coautoria com quatro professores da UFMS. A obra “Alcinópolis - Uma galeria natural de arte rupestre” foi publicada por meio de financiamento cultural da Fundação de Estado de Cultura.
Expedições revelam 17 novos sítios
Para a produção do livro, Marcão foi orientado pelos pesquisadores a revisitar todos os 24 sítios já conhecidos e atualizar as fotografias. Nessas expedições, encontrou 17 novas áreas de pinturas rupestres, elevando para 41 o número de sítios arqueológicos catalogados no Iphan em Alcinópolis.
No entanto, Marcão garante que o trabalho está longe de terminar, pois há muitos pontos ainda para serem localizados.
Projeto em expansão
Devido ao reconhecimento de seu trabalho, recentemente, foi procurado pelo prefeito de Figueirão, município vizinho, que o convidou para localizar sítios na cidade. Até o momento, ele já identificou quatro sítios, incluindo um que abriga uma das maiores artes rupestres da região. O material ainda está sendo organizado para futuro registro e divulgação.