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Política

Campanha chega à reta final sem comícios, que estão em extinção

Fabiano Arruda | 25/09/2012 08:54
Grandes aglomerações em eventos políticos ficaram cada vez mais raras nas eleições. (Foto: Minamar Junior)
Grandes aglomerações em eventos políticos ficaram cada vez mais raras nas eleições. (Foto: Minamar Junior)

Os comícios que levavam grandes públicos a prestigiarem seus candidatos parecem mesmo estar em extinção. A 11 dias das eleições em Campo Grande, os candidatos nem se arriscam mais a reunir multidões em eventos realizados na região central da cidade.

No passado, era a forma que os políticos viam de atingir de uma só vez um grande número de pessoas. Agora, comícios menores são realizados em bairros e, mesmo assim, com públicos reduzidos.

São muitos os motivos apontados para os atos públicos deixarem de existir na Capital. Novos meios de comunicação, o endurecimento das regras eleitorais, como a proibição dos showmícios; e a falta de interesse do eleitor, que, hoje, dificilmente, iria assistir seu candidato.

“Os comícios praticamente desapareceram de todas as democracias no mundo porque é um aparato muito oneroso, começaram a ficar mais violentos e eram ineficientes. Aí veio a proibição dos shows que os sepultaram de vez”, opina o cientista político Eron Brum.

Para o analista, nem candidato, nem eleitor, perdem com o “falecimento” dos eventos, sobretudo, no caso do político, que se viu obrigado a fazer mais reuniões e o corpo a corpo com a população.

“Há mais vantagem nisso. E o interesse do eleitor pelo político, em 174 anos de democracia, foi se perdendo há muito tempo. O auge desse interesse praticamente só ocorreu de 1945 a 1964”, explica.

O cientista afirma que os escândalos políticos recentes, como o Mensalão e a Operação Uragano, desencadeada em 2010 em Dourados, são fatores mais preponderantes para afastar o cidadão da política do que qualquer proibição da Justiça Eleitoral acerca das regras que ditam o jogo.

“A fórmula para isso (fazer com que os eleitores se interessem mais) é uma profunda reforma política, que defina alianças iguais em todo País, mas acredito que mudanças virão de uma forma ou outra. O Mensalão, por exemplo, foi motivado por uma ação popular, contudo, infelizmente, a maioria da população está à margem do processo”, analisou Brum.

Sem os grandes eventos, o eleitor, aquele raro cidadão que via nos atos públicos a única oportunidade de se aproximar do político, também não saiu no prejuízo.

Para o cientista político, o fortalecimento da televisão durante as eleições, do próprio rádio, além do surgimento das redes sociais, influenciaram para que o comício fosse deixado cada vez mais de lado e se tornassem formas eficazes de transmitir propostas. Dessa forma, os candidatos se veem obrigados a serem "competentes" nos meios de comunicação.

Com comícios em "desuso", candidatos se viram obrigados a priorizar corpo a corpo com os eleitores. (Foto: Divulgação)
Com comícios em "desuso", candidatos se viram obrigados a priorizar corpo a corpo com os eleitores. (Foto: Divulgação)

Os eleitores - Nas ruas, basta interpelar alguém sobre os comícios que surgem diferentes reações, prova de que os atos fazem parte da cultura política da cidade.

A comerciante Jandira Alves, 44 anos, admite, sem maiores receios, que ia aos showmícios para ver os artistas, como Amado Batista e Trio Parada Dura. Sem os atrativos, ficou complicado, diz. “Acho que de tanto ouvir promessa o povo está desacreditado, está cada vez pior”.

A também comerciante Luciane Vieira, 28 anos, discorda. Acredita que dificilmente um eleitor deixa sua casa para ir ver algum político discursar se não houver vontade de esclarecer seu voto.

Outro comerciante, Cláudio Camargo, 46 anos, concorda que se não houver atrativos, raramente o público, sobretudo, os jovens, irão a um comício. “Ninguém vai pra ficar parado olhando o cara fazer promessas”, diz.

A vendedora ambulante Nair Andrade, 53 anos, é outra que mostra aversão à política. Frequentadora confessa de eventos que tiveram artistas como Zezé de Camargo e Luciano, ela admite não ter interesse pelo processo. “Eles (políticos) aparecem só na época de eleição. Depois desaparecem”.

Realidade inversa - Os comícios só não podem ser declarados como “espécie em extinção” porque, além de serem feitos em menores públicos e por poucos candidatos nos bairros em Campo Grande, seguem com toda força no interior do Estado.

Na grande maioria dos municípios, o evento continua como um dos principais atrativos para o eleitor.

O deputado estadual Junior Mochi (PMDB), que percorre pelo menos 30 cidades nesta campanha, afirma que tem participado de vários atos públicos pelo interior.

“Tem comício que chega a ter entre 6 e 7 mil pessoas, vários deles bons, com boa participação popular. É a principal alternativa para esses candidatos atingir públicos com mais de mil pessoas”, diz.

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