Tarifa zero em ônibus só funciona em cidades pequenas, diz professor
Professor defendeu subsídio para melhor qualidade do serviço; três secretários foram convocados para oitiva
A Câmara Municipal de Campo Grande realizou, nesta terça-feira (2), a 15ª oitiva da CPI do Transporte Coletivo. O convidado foi o professor sênior da Unicamp, Jurandir Fernandes, especialista em transporte público, com ampla experiência na área. Ele já foi secretário de transporte da região metropolitana de São Paulo por dez anos e presidente do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) por dois.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
CPI do Transporte Coletivo de Campo Grande ouve especialista da Unicamp. Jurandir Fernandes, ex-secretário de transporte da região metropolitana de São Paulo, apontou causas para a queda de passageiros no transporte público, como home office e aplicativos de transporte. O especialista defendeu investimentos em infraestrutura, como corredores de ônibus e ar-condicionado nos veículos. Fernandes citou exemplos de Londres e Paris, onde o transporte público foi incentivado com restrições a carros nos centros urbanos. Ele criticou a falta de orçamento nacional para o transporte público e o uso de vans como alternativa, além de apontar a necessidade de subsídios para melhorias no sistema. A CPI segue com novas oitivas na próxima semana para discutir a execução do PAC da Mobilidade. A Ouvidoria da CPI já recebeu mais de 600 denúncias da população.
O início da sessão atrasou cerca de 20 minutos devido à ausência de parte dos vereadores, com exceção do presidente da CPI, vereador Lívio Leite, que chegou no horário.
Durante sua fala, o professor Jurandir destacou que o problema da queda no número de passageiros afeta não só Campo Grande, mas diversas cidades do país. Ele apontou causas como o aumento do home office, ensino a distância, aplicativos de transporte, maior número de veículos particulares e a descentralização dos serviços.
Apesar disso, defendeu que ainda é possível melhorar o transporte público com investimentos em infraestrutura, como corredores de ônibus, além de planejamento urbano integrado.
Jurandir afirmou que não é possível sustentar o transporte apenas com a tarifa paga pelos passageiros. “Não existe nada que dê pra pagar a conta só com a tarifa, não existe. Então o subsídio é hoje natural”, disse.
Ao abordar a proposta da tarifa zero, o professor fez um alerta. “Vamos tomar cuidado. Porque se a nossa situação fiscal hoje, e eu digo nossa, municipal, estadual e nacional, já não é fácil, você vai perder essa receita. Pode haver um acréscimo de demanda que você tenha que aportar mais e mais custo. Mas também pode haver uso irracional.”
Ele comparou a possível distorção ao consumo de água quando não há controle individual. “Quando você tem um edifício com só um medidor de água para todos os apartamentos, o consumo é altíssimo. Agora, se tem um medidor para cada um, o consumo global cai, porque se torna mais racional.”
Sobre a tarifa zero, ele defende que o subsídio deve ser direcionado. “Você cobre quem precisa. Os que podem pagar pouco, pagam pouco. Os que não podem, não pagam. Essa tarifa social, neste momento, me parece mais adequada.”
Segundo o professor, a tarifa zero pode gerar outro efeito colateral. “O cidadão de baixa renda aproveita a tarifa zero e vai buscar terreno mais barato, mais longe. Isso dá uma distorção na ocupação da cidade, espalha de forma desmedida e incentiva a especulação imobiliária.”
Ele explicou que a tarifa zero só funciona bem em cidades pequenas. “Cidades com frota de 10, 12, 15 ônibus, aí sim vale a pena contratar direto os ônibus. Não tem bilhetagem, não tem cartão, não tem sistema de arrecadação. É diferente de um grande sistema.”
O professor também destacou a importância de investir em conforto, como ar-condicionado nos veículos, afirmando que isso melhora a qualidade de vida dos usuários.
Próximas oitivas - A próxima rodada de oitivas está marcada para a manhã da próxima quarta-feira (9), no Plenário Oliva Enciso. Serão ouvidos:
Às 9h: Catiana Sabadin Zamarreño, secretária especial de Planejamento e Parcerias Estratégicas da SEGOV;
Às 10h: Andréa Figueiredo, diretora-adjunta da AGETRAN;
Às 11h: Ednei Marcelo Miglioli, secretário municipal de Infraestrutura (SISEP).
O objetivo é esclarecer a execução do PAC da Mobilidade e sua relação com o serviço prestado pelo Consórcio Guaicurus.
Denuncie - A Ouvidoria da CPI do Transporte já recebeu 634 denúncias entre os dias 25 de março e 30 de junho de 2025. A maioria (553) chegou via WhatsApp, além de 32 formulários online, 46 e-mails, duas ligações telefônicas e uma denúncia presencial.
A população pode continuar enviando contribuições pelos seguintes canais:
WhatsApp: (67) 3316-1514
Formulário no site da Câmara: www.camara.ms.gov.br
E-mail: cpidotransporte@camara.ms.gov.br
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.