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Política

Para índio eleito, internauta foi "analfabeta políticamente"

Elverson Cardozo | 09/10/2012 18:01
Aguilera de Souza, de 37 anos, recebeu 1.419 votos. (Foto: André Bento/Dourados Agora)
Aguilera de Souza, de 37 anos, recebeu 1.419 votos. (Foto: André Bento/Dourados Agora)

O primeiro indígena eleito vereador em Dourados, Aguilera de Souza (PSDC), rebateu com segurança e muita classe os comentários preconceituosos que recebeu de uma estagiária, ontem à tarde (9), no Facebook: “Essa pessoa é analfabeta politicamente”, disse.

Lucinha Manhosso, a estagiária que criticou a vitória do indígena, excluiu seu perfil na rede social, mas a página dela foi “printada” por usuários da rede ontem mesmo, minutos depois do post ofensivo ser publicado.

“O Estado tá perdido agora... Zeca do PT o vereador mais votado em CG! F* com o Estado quando foi governador... Um índio vereador de Dourados! E Ponta Porã... Ahhh, deixa para lá!” (sic), dizia o texto.

Em entrevista por telefone ao Campo Grande News, Aguilera afirmou que já tinha conhecimento do fato. Foi avisado por amigos, pela internet, mas não se deixou abalar pela situação.

“Eu não dei muita importância porque a sociedade foi educada por esse sistema”, declarou, acrescentando que atitudes como a da estagiária são comuns e não foi a primeira vez que ouviu comentários preconceituosos.

Sem conhecer a autora dos comentários, o vereador eleito diz que a polêmica só pode ter sido provocada por alguém que não tem ampla visão da sociedade, que não conhece nada de política, muito menos tem conhecimento das lutas indígenas.

A conquista de uma cadeira na Câmara Municipal da cidade, afirmou, representa uma vitória para toda a sociedade, em especial para os 14 mil indígenas que residem em Dourados.

A luta por uma espaço, pontuou, começou antes da campanha oficial. Foram anos tentando mudar a visão e o comportamento da própria comunidade. Até um plebiscito interno foi realizado para apontar os 10 nomes mais cotados pela comunidade. Aguilera saiu em primeiro lugar.

“Nós preparamos 3 anos para isso”, afirmou, ao dizer que o trabalho incluiu palestras e seminários na aldeia Jaguapiru, onde mora, e na aldeia Bororó. “Eu vi que a gente estava preparado”, completou.

Sobre os comentários preconceituosos de Lucinha Manosso, o indígena disse que vai avaliar a situação com calma e consultar seu advogado. Caso entenda necessário, acionará o MPF (Ministério Público Federal).

Print da publicação feita por Luciana Manosso, ontem (8), por volta das 15h. (Foto: Reprodução/Internet)
Print da publicação feita por Luciana Manosso, ontem (8), por volta das 15h. (Foto: Reprodução/Internet)

Mal interpretada - Lucinha Manosso procurou a reportagem do Campo Grande News na tarde desta terça-feira (9). A jovem – que se chama Luciana Manosso e tem 24 anos – disse que foi mal interpretada.

A estagiária afirma que fez um comentário geral e não teve a intenção de atingir o indígena, mesmo citando o nome da cidade.

“Eu me expressei de uma maneira errada. Em nenhum momento falei que o indígena não deveria ganhar. Eu não citei nomes”, declarou, ao dizer que não tem preconceitos. “Eu nunca fiquei falando quem iria ganhar ou perder”, acrescentou.

Para a acadêmica, houve invasão de privacidade quando usuários printaram a tela dela e passaram a compartilhar a publicação. “Foi apenas minha opinião”, argumentou. Tem gente que não gosta de gordo, de crente. Só acho que aqui no Estado todo mundo deveria ser tratado igual”, argumentou.

Devido a repercussão negativa do fato, Luciana se propôs a conversar com Aguilera.  Disse, novamente, que não tem preconceito contra índios e que, dias atrás, até tirou foto com alguns deles, em uma obra que visitou. “Tenho no celular”, declarou.

Lucinha Manosso não imaginava que um simples comentário teria uma repercussão tão grande. Por isso, resolveu deletar sua conta no Facebook, mas pretende voltar. “Dei uma pausa, não estou nem vendo as notícias”, finalizou.

Eleição – O primeiro indígena eleito em Dourados, município que fica a 225 quilômetros de Campo Grande, é pedagogo, professor universitário, pós-graduado em metodologia de ensino superior e especialista em questões indígenas.

Ministra aulas de prática pedagógica indígena e legislação eleitoral para acadêmicos de pedagogia da Unigran (Centro Universitário da Grande Dourados). Aguilera de Souza, de 37 anos, mora na Aldeia Jaguapiru desde que nasceu. A reserva indígena fica a aproximadamente 5 quilômetros da cidade.

Pela classificação final divulgada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Aguielra conquistou a 17º posição na disputa eleitoral que teve 218 nomes e 19 candidatos eleitos para a Câmara Municipal.

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