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Reportagens Especiais

E de repente a pessoa não está mais aqui: as tragédias que marcaram o ano

Desfecho de queda de avião e morte de homem engasgado surpreenderam até jornalistas experientes

Por Jackeline Oliveira | 24/12/2023 07:10
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade
Garon Maia ao lado do filho na cabine do avião, os dois morreram em decorrência da queda do avião (Foto: Reprodução/Internet)
Garon Maia ao lado do filho na cabine do avião, os dois morreram em decorrência da queda do avião (Foto: Reprodução/Internet)

Em 30 de julho, dia de mais um plantão de domingo, a manhã começou leve, com uma matéria sobre a aparição de dois jacarés em uma lagoa de Campo Grande. Mas como já é rotina, quando a calmaria ronda o jornalismo, algo de muito ruim está por vir. Essa máxima nunca falha, infelizmente. No tal domingo, a tragédia chegou em dose cavalar, com pai e filho mortos em acidente de avião.

O corre-corre foi instalado na redação, todos tentando encontrar informações precisas do acidente que aconteceu na divisa entre Rondônia e Mato Grosso. Logo chegaram os nomes: pecuarista Garon Maia e seu filho, uma criança de 11 anos. Nos dias que seguiram, a dor na família só aumentou, com um desfecho inesperado, surreal, o mais dramático que já cobri como repórter.

O avião que pai e filho estavam, um Beechcraft Baron 58, decolou do aeroporto de Vilhena (Rondônia) por volta de 17h50 do sábado (dia 29) e desapareceu do radar minutos depois. No mesmo dia, a confirmação da morte chegou. Os dois tinham ido comprar pizza e não voltaram mais.

A queda do avião permaneceu na pauta, com a dor da chegada dos corpos, já que o menino morava com a mãe em Campo Grande e o pai também residia na Capital com a namorada, Ana Paula Pridonik.

Nossa equipe estava com atenção especial a esse acidente, não só pelo fato de a família Garon Maia ser tradicional no agronegócio, com várias gerações de pecuaristas e ramificações que vão de Araçatuba (interior de São Paulo) à Amazônia, mas pela comoção que a morte de pai e filho juntos gerou, inclusive nas redes sociais.

Beatriz Veronezzi mãe do menino de 11 anos que morreu na queda do avião ao lado do pai (Foto: Reprodução/Internet)
Beatriz Veronezzi mãe do menino de 11 anos que morreu na queda do avião ao lado do pai (Foto: Reprodução/Internet)

Fiquei responsável por escrever sobre a relação de Beatriz Veronezi com o filho que teve sua vida interrompida aos 11 anos. Abalada, ela nunca falou sobre. Apenas as publicações nas redes sociais deixaram claro em fotos e frases o amor entre mãe e filho. Posts do menino retribuíam o carinho. “Mamãe, te acho linda por fora e perfeita por dentro”.

Foi no Instagram que descobri que Beatriz estava nos Estados Unidos, e foi lá que ela recebeu a notícia.

Mais uma tragédia - A equipe acompanhou o velório de pai e filho que aconteceu no Cemitério Parque das Primaveras no dia 31 de julho, em Campo Grande, e lá presenciou o sofrimento de Ana Paula, namorada de Garon, chorando muito ela dizia: “Perdi um pedaço de mim. Meu companheiro. Por quê?”.

Quando a despedida de pai e filho parecia ter chegado ao fim, algo surpreendente aconteceu. Ao final do sepultamento, a engenheira civil de 27 anos foi para casa acompanhada de familiares, se trancou no quarto, e um disparo foi suficiente para Ana tirar a própria vida. Quando o telefone tocou com mais esse desdobramento, o burburinho costumeiro da redação virou silêncio, choque, diante de algo que nenhum já havia visto.

Publicação feita por Ana Paula nas redes sociais no dia do velório do namorado (Foto: Reprodução/Internet)
Publicação feita por Ana Paula nas redes sociais no dia do velório do namorado (Foto: Reprodução/Internet)

Ana Paula havia postado no início da manhã do dia 31, em suas redes sociais, uma foto junto com Garon e o enteado em preto e branco. No texto escrito sobre a imagem, lamenta a tragédia. “Onde o senhor estava meu Deus? Por que não protegeu meus meninos? Eu deveria ter ido junto quando você me chamou, meu amor. Não vou conseguir ficar aqui sem você, meu companheiro...”.

Ao que tudo indica, a engenheira estava na Fazenda Uberaba, em Comodoro (MT), junto com o namorado e o enteado, quando os dois saíram de avião para abastecer a aeronave em Vilhena (RO), no fim da tarde de sábado, dia 29, e não voltaram mais.

Outras tragédias que chocaram em 2023

O pecuarista Ricardo Lago Zaher morreu esgagado com um pedaço de carne no início de dezembro (Foto: Reprodução/Internet)
O pecuarista Ricardo Lago Zaher morreu esgagado com um pedaço de carne no início de dezembro (Foto: Reprodução/Internet)

A surpresa por fatos raros se repetiu até para quem faz jornalismo. No início de dezembro, durante uma festa de casamento em buffet de Campo Grande, localizado no Parque das Nações Indígenas, o pecuarista Ricardo Lago Zaher, de 30 anos, morreu engasgado com um pedaço de carne.

Era um sábado, já no final do dia, por volta das 18h30, eu estava na apresentação de final de ano da escola da minha filha, quando um colega me liga pedindo ajuda da imprensa para “pressionar” na agilidade de atendimento do Corpo de Bombeiros para um amigo que estava passando mal numa festa de casamento, sem ter muito como ajudar, orientei que entrasse em contato com a redação através do canal Direto das Ruas, por telefone ele (o amigo do pecuarista) só conseguia dizer que ambulância estava demorando em sair do local.

Depois, a partir do boletim de ocorrência, pude constatar que a viatura não saiu do local, pois os bombeiros estavam fazendo as manobras de ressuscitação. No boletim registrado como morte a esclarecer, o Corpo de Bombeiros foi acionado para atender um convidado que passava mal na festa. Os militares informaram à polícia que fizeram todos os procedimentos necessários de reanimação, durante 1 hora e 17 minutos, mas o pecuarista não resistiu. O óbito foi constatado às 19h05.

Corpo da policial dentro da caminhonete, em Campo Grande. (Foto: Henrique Kawaminami)
Corpo da policial dentro da caminhonete, em Campo Grande. (Foto: Henrique Kawaminami)

Homicídio - Em junho, duas famílias choraram a morte dos policiais militares Cássia Silva Machado, de 32 anos, e Jorge Augusto Rivarola Saito, de 36 anos, casados, que morreram no dia 20 de junho. A mulher foi encontrada morta dentro de uma caminhonete na área rural de Campo Grande. Ao mesmo tempo, o marido dela foi achado morto em Presidente Epitácio (SP), onde os dois moravam.

Os dois eram lotados em Bataguassu, município a 313 quilômetros de Campo Grande e a 36 de Presidente Epitácio, onde o corpo de Jorge foi encontrado. De acordo com a investigação, a mulher matou o policial no imóvel do casal, com dois tiros no peito, e, na sequência, se deslocou até Campo Grande e tirou a própria vida com tiro na cabeça, na estrada da Gameleira.

Cássia deixou dois filhos menores de outros relacionamentos, uma criança  de 3 anos e outra de 1 ano, Jorge deixou também dois filhos, de 11 e 13 anos.

Ambos eram cabos, lotados em Bataguassu, que fica a 36 km de Epitácio. Ingressaram no mesmo ano na Polícia Militar, em 2015. Conforme registro de dependentes da PM, Cássia deixa dois filhos menores de idade, de outros relacionamentos, o mais velho com 3 e caçula de 1 ano de idade. Jorge aparece oficialmente com 2 filhos também nos registros da Polícia, de 13 e de 11 anos.

Do dia para noite, deputado morreu

Deputado estadual Amarildo Cruz (PT) que faleceu em março de 2023 (Foto: Arquivo)
Deputado estadual Amarildo Cruz (PT) que faleceu em março de 2023 (Foto: Arquivo)

Bem antes, no dia 17 de março, 45 dias após tomar posse na Assembleia Legislativa, a notícia inesperada foi da morte do deputado estadual Amarildo Cruz (PT), eleito com 17.249 votos em 2022. Ele havia sido internado no Proncor três dias antes, diagnosticado com quadro viral que evoluiu para pneumonia e miocardite.

Amarildo estava em seu quarto mandato e atuava ativamente dentro do partido há quase 40 anos. Em 2021, como era o primeiro suplente do PT na Casa de Leis, assumiu a vaga deixada pelo companheiro Cabo Almi, que faleceu vítima de covid-19.

Após três dias no hospital e diante de uma significativa piora no estado de saúde com paralisação dos rins na madrugada do dia 16, foi submetido a vários procedimentos, mas não resistiu. No início do dia 17, a família informou o falecimento em grupo de WhatsApp. "É com uma dor imensurável que está dilacerando o meu coração que comunico o falecimento do meu querido irmão Amarildo Cruz".

A morte de Amarildo pegou todos de surpresa e foi marcada por gafes por parte da imprensa, que chegou a anunciar a morte do parlamentar, antes mesmo do hospital oficializar o falecimento, depois de anúncio de amigos. A cadeira de Amarildo na Alems (Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul) foi preenchida pela professora Gleice Jane, suplente do partido.

Chinelos e camiseta de Kauan encontrados às margens do Rio Anhanduí (Foto: Henrique Kawaminami)
Chinelos e camiseta de Kauan encontrados às margens do Rio Anhanduí (Foto: Henrique Kawaminami)

A dor de um pai

Kauan Rios da Silva, de 14 anos, morreu afogado no Rio Anhanduí, em Campo Grande. O menino tomava banho de rio com os amigos quando desapareceu no dia 21 de setembro. Seu corpo foi encontrado somente quatro dias depois.

O pai da criança acreditava que ele tinha ido à escola, mas ficou sabendo que o menino foi ao rio com os amigos apenas dois dias depois, quando foi registrar boletim de ocorrência, o que atrapalhou nas buscas.

Às margens do rio estavam os chinelos e a camiseta deixada por Kauan, encontrado morto poucos quilômetros depois em uma propriedade particular pelo Corpo de Bombeiros.

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