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A Abjeção do Opróbrio

Por Rosildo Barcellos (*) | 11/10/2012 15:27

Um dos momentos divinos do norte do país é quando nossos olhos chegam perto do encontro das águas. Lá a presença de Deus é evidente. Os rios Negro e Solimões não se misturam, apesar de caminharem juntos, em decorrência das diferentes temperatura e velocidade, de uma e de outra. O Rio Negro é mais quente, menos denso e mais ácido, porque ele corre em uma área de formação geológica mais antiga. Ao seu lado, Solimões é um rio frio, com muitos sedimentos o que dificulta a natação em seu leito, e é mais denso.E um dos assuntos que compõem, em destaque, a pauta das discussões desta semana diz respeito a um sistema de cotas obrigatórias para negros, pardos e alunos da rede pública do ensino médio no processo seletivo para as universidades públicas. É um caminho visto por alguns como a redução da exclusão e visto por outros como uma segunda forma que discriminação.Em verdade o conceito mais usado é que a suposição de que cotas para egressos de escolas públicas vá democratizar a sociedade. Penso entretanto que tal corrente está equivocada, pois a solução aponta para a melhoria da qualidade da escola pública e não a derrubada do nível de exigência da universidade.

     Como professor há anos afirmo que vestibular nenhum mede a capacidade de alguém em frequentar um curso superior, restringindo-se a ser portador da definição de ingresso em função das vagas oferecidas. Isso se verifica em razão das circunstâncias especiais que o envolve, capazes de provocar o nervosismo do candidato, que afeta o desempenho dos postulantes a vaga, no momento do exame, entre diversos outros fatores de momento. Ressalto também os exemplos históricos. No Congo do século XIX, Hutus e Tutsis se misturavam e tendiam a se tornar um único povo, quando de repente o colonizador belga resolveu impor cotas em empregos e na educaçãoForam concedidos documentos raciais diferentes para os dois povos, que começaram a desenvolver processos de afirmação étnica por oposição entre si.

     Passou o tempo e Ruanda, que se constituía em ser um dos menores e mais pobres países do mundo, transformou-se no terceiro país africano que mais importava armas. Entre janeiro de 1993 e março de 1994, graças ao financiamento francês, o país conseguiu da China mais de 580 mil machetes a preço de liquidação. Sedimentou-se assim um dos episódios mais bárbaros da história da humanidade culminando em 1994, quando em apenas três meses mais de 800 mil pessoas foram chacinadas em sua maioria a golpes daqueles machetes adquiridos. Do processo de independência de Ruanda até o genocídio, os conflitos étnicos foram frutos da disputa política dentro do país e resultaram no produto das decisões de se diferenciar as pessoas.

     Uma das funções do ensino superior é a disseminação e socialização do conhecimento, buscando a integração social, a eficiência e a soberania do nosso país.Teriam tais alunos “cotistas”condições de reverter a aprendizagem deficitária proveniente de um ensino básico não tão eficiente e por fim  promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação? Evidentemente este assunto traz em seu bojo a complexidade que lhe é peculiar, e advogo que este assunto não se esgotará facilmente, o que, sem dúvida, trará ainda muito calor à discussão; fato que eu espero, para podermos analisar e decidir se estamos no caminho certo.

 (*) Rosildo Barcellos é articulista.

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