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A ferrugem chegou. E agora?

Por Alexandre D. Roese (*) | 26/11/2018 12:45

O primeiro foco de ferrugem asiática em lavoura comercial de soja em Mato Grosso do Sul foi confirmado no dia 19 de novembro, em Maracaju. Este fato desperta uma ótima reflexão. Alguém pode dizer que já era esperado, e está certo. Outro pode dizer que agora temos que redobrar o cuidado, e também tem razão. Mas nossa reflexão pode ir muito além de apatias e alarmismos.
Como controlar a ferrugem?

Para diminuir os prejuízos com essa doença devemos insistir no monitoramento das lavouras.

Mesmo para realizarmos aplicações preventivas de fungicida, precisamos avaliar as lavouras para ver se a aplicação é realmente preventiva ou se a ferrugem já está instalada na lavoura. Isso é muito importante porque se a ferrugem já estiver presente, recomenda-se diminuir o intervalo de tempo entre as aplicações e acrescentar fungicidas multissítios (de contato) no programa de controle. Outras recomendações importantes são optar pelos fungicidas com melhor desempenho nos ensaios anuais de eficiência, publicados anualmente pela Embrapa (clique aqui para acessar), e alternar aplicações de fungicidas com princípios ativos diferentes, evitando mais do que duas aplicações do mesmo fungicida na mesma safra.

Devemos alertar que quanto mais cedo a ferrugem aparece no ciclo da planta, maior será a dificuldade de controle e maiores serão os potenciais prejuízos devido a falhas no controle. A ocorrência da ferrugem no início do florescimento ou antes, em anos com clima favorável à doença, pode ocasionar redução drástica da produtividade, chegando à inviabilizar a colheita quando não eficientemente controlada. Felizmente, casos assim não têm ocorrido, e isso se deve aos controles legislativo (vazio sanitário e datas limites para semeadura) e cultural (cultivares precoces e semeaduras no início da época recomendada), além do controle químico preventivo e quando necessário.

E as cultivares resistentes?

A busca por cultivares de soja resistentes à ferrugem tem demandado um grande esforço da pesquisa agropecuária. Existem algumas cultivares resistentes no mercado, porém todas elas baseadas em resistência monogênica, ou seja, muito eficiente mas que pode ser facilmente suplantada (“quebrada”) pelo fungo causador da doença. Por isso, mesmo nessas cultivares deve-se aplicar fungicida preventivamente. Mas por que então semear cultivares resistentes se teremos que aplicar fungicida? Porque a cultivar resistente diminui consideravelmente os danos pelas falhas no controle (e essas falhas são muito mais frequentes do que imaginamos!). As cultivares com genes de resistência não são imunes, ou seja, a doença ocorre, mas não progride ou, então, evolui muito lentamente. A cultivar resistente é uma garantia, um seguro, talvez o seguro mais barato que existe. Além disso, cultivares resistentes diminuem a pressão de seleção do fungo sobre os fungicidas, retardando o surgimento de populações do fungo resistentes. A mais recente cultivar de soja resistente à ferrugem asiática é a BRS 511 (clique aqui para conhecer a cultivar), uma variedade de ciclo precoce e recomendada para diversas regiões do país. O gene de resistência dessa variedade é diferente do que está presente em todas as outras variedades lançadas anteriormente. E, além de ser resistente à ferrugem, também é resistente à podridão-de-fitóftora (clique aqui para saber mais), uma doença comum na região Sul do Brasil, cuja relevância vem crescendo no Centro-Oeste.

Do que a ferrugem gosta?

A presença de água na superfície das folhas é uma condição essencial para o estabelecimento da ferrugem. Sendo assim, quanto maior o tempo com molhamento foliar, melhores as condições para seu desenvolvimento e mais severos serão os danos.

O tempo no qual uma planta permanece com as folhas molhadas é muito mais dependente da frequência das chuvas, do que de seu volume. O orvalho e a irrigação também são determinantes. Dias quentes e noites amenas, com alta umidade do ar, favorecem a formação de orvalho e, assim, criam condições favoráveis para a ferrugem.

O foco de ferrugem em MS

É muito interessante observarmos que a primeira lavoura na qual foi detectada a ferrugem em MS já estava no estádio R5, ou seja, no enchimento de vagens. Essa é uma informação extremamente importante, porque mostra o resultado de duas medidas de controle muito valiosas adotadas pelo produtor rural, que são: 1) realizar o vazio sanitário (para diminuir a sobrevivência da ferrugem na entressafra) e 2) semear a lavoura no início da época recomendada (para que as plantas escapem da ferrugem). Não fossem essas duas medidas de controle, a ferrugem provavelmente surgiria muito mais cedo, talvez mesmo antes do início do florescimento.

Apesar disso, esse primeiro foco em MS foi detectado bem mais cedo do que no ano passado, quando os primeiros relatos ocorreram no mês de janeiro. O número de dias com chuva, de primeiro de outubro a 15 de novembro, foi muito semelhante entre os anos de 2017 e 2018. No entanto, em 2018 o volume de chuvas nesse período foi quase 200 milímetros superior, o que manteve a umidade do ar alta e criou condições para maior duração de molhamento foliar, favorecendo a ferrugem. Esses dados climáticos estão disponíveis no Guia Clima, página das estações meteorológicas da Embrapa Agropecuária Oeste (clique aqui para acessar).

Outra informação importante é que o fato de a ferrugem ter sido detectada agora não significa que já não estava presente antes. Devemos lembrar que o cadastro dos focos de ferrugem no Consórcio Antiferrugem (www.consorcioantiferrugem.net) é voluntário. Ao mesmo tempo em que é muito importante notificar o Consórcio e as autoridades competentes sobre a ocorrência da doença, pois isso serve de alerta aos produtores, não podemos confiar cegamente na ausência de ferrugem em locais sem relatos de sua ocorrência. Isso reforça a necessidade do monitoramento constante de cada lavoura, especialmente a partir do início do florescimento ou do fechamento das entrelinhas, pois não há como prever com segurança quando a ferrugem vai aparecer.

(*) Alexandre D. Roese é analista Embrapa Agropecuária Oeste (alexandre.roese@embrapa.br). 

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