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A gênese da corrupção no Brasil

Por Sebastião Luiz de Mello (*) | 16/12/2015 15:37

No Brasil, os historiadores garantem que a corrupção começou na época de sua descoberta. A carta que Pero Vaz de Caminha enviou ao rei Dom Manuel em 1500, para dar notícias sobre a descoberta do Brasil, traz no final um exemplo desta famigerada tradição: ele pedia a volta de seu genro para Portugal, que estaria degredado na África por ter roubado uma igreja e espancado um padre. Assim, o império que nos descobriu e colonizou trouxe consigo a semente da corrupção, com práticas nocivas de nepotismo, clientelismo, tráfico de influência e outros expedientes escusos.

Alguns estudiosos consideram que o surgimento da corrupção no Brasil está relacionado com o emprego de degredados no início de nossa colonização. Mas, a maioria desses especialistas discorda deste ponto de vista, uma vez que os degredados cometeram pequenos delitos, relacionados mais com a religião ou a moral sem nenhum problema de conteúdo. O escritor gaúcho Eduardo Bueno, com várias obras publicadas sobre a História do Brasil, considera que o problema “não está no degredado e sim nos que tinham o poder de enviar degredados para o Brasil”.

A história do nosso país está repleta de casos de corrupção. Em 1547, o desembargador Pero Borges julgado pelo rei de Portugal Dom João III, por desvios de verbas na construção de um aqueduto naquele país, foi posteriormente nomeado, pelo mesmo monarca, ao cargo de Ouvidor Geral do Brasil, equivalente ao de Ministro da Justiça. Em poucos anos, ele foi designado para função mais importante a de provedor-mor da Fazenda – espécie de ministro da economia – com o propósito de tomar conta do erário público. E como esperado, o ilustre ministro envolveu-se em diversas falcatruas.

Laurentino Gomes, autor dos livros 1808, 1822 e 1889 sobre a história do Brasil, conta que Dom João VI, ao desembarcar no Rio de Janeiro, em 1808, recebeu como “mimo” de Elias Antônio Lopes – um traficante de escravos – a melhor casa da cidade, na Quinta da Boa Vista. Isso assegurou ao contraventor a condição de “amigo do rei” e foi seu passaporte de entrada na Corte. Depois disso, Elias ganhou muito dinheiro e títulos de nobreza. Este tipo de barganha não era exclusivo de traficantes. Fazendeiros, senhores de engenhos e outros empreendedores da elite brasileira estabeleceram com a Corte o costume do “toma lá, dá cá” e da “caixinha” – desvio de dinheiro – práticas que estão enraizadas até hoje na sociedade brasileira, principalmente entre empresários, governantes e políticos.

Mas, a corrupção no Brasil não acontece somente no âmbito dos grandes escândalos que envolvem vultosas somas de dinheiro. Pesquisa recente do Centro Universitário UniCarioca, do Rio de Janeiro (RJ), com 1.100 alunos dos ensinos médio e superior, com idades entre 16 e 30 anos, indicou que a corrupção acontece também no dia-a-dia acadêmico.

A pesquisa aponta dados alarmantes de corrupção praticadas na escola: 58% já pediram para colocar nome em trabalho de grupo sem ter participado; 68% já copiaram textos da internet para apresentar em trabalhos; 59% assinaram lista de presença em nome do colega; 69% já colaram em provas.

O certo é que a corrupção em nosso país vem crescendo de forma exponencial com formatos cada vez mais complexos: mensalão; dinheiro na cueca; operações lava-jato, zelotes e petrolão. E, pasmem, o esquema da Petrobrás está até concorrendo a um prêmio internacional: a do maior escândalo de corrupção do mundo.

A organização não-governamental Transparência Internacional (TI), fundada em 1993, com sede em Berlim (Alemanha), abriu votação em 9 de dezembro deste ano e vai até 9 de fevereiro de 2016, para escolher o escândalo mais representativo. Concorrem com o esquema de corrupção da Petrobras, revelado pela Operação Lava Jato, os casos do Banco Espírito Santo, de Portugal; do ex-presidente da Tunísia, Zine Al Abidine Bem Ali; da Fifa; do ex-presidente do Panamá, Ricardo Martinelli; entre outros. Note que, alguns desses escândalos, contam com participação de muitos brasileiros. A votação faz parte da campanha “Desmascarar a Corrupção”, para alertar os casos mais simbólicos de corrupção que beneficiam poucos à custa de muitos.

O importante agora, é celebrarmos a data simbólica de 9 de dezembro como o dia mais importante do calendário da cidadania: O Dia Internacional de Combate à Corrupção, e lutarmos contra este grande mal que afeta o país e acarreta um colossal desafio para os órgãos de combate e prevenção à corrupção, para as organizações públicas e privadas, para as classes trabalhadoras e, para nós, profissionais de Administração de todo o País.

(*) Adm. Sebastião Luiz de Mello, presidente do Conselho Federal de Administração (CFA)

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