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A História é um longo romance ensanguentado: “viva la muerte”

Por Luiz Flávio Gomes (*) | 27/09/2013 10:27

Gilles Lapouge (Estadão 26/9/13, p. A21) nos recorda que nas vésperas da Guerra Civil espanhola, em 12/10/35, numa cerimônia realizada por soldados fascistas na secular Universidade de Salamanca (dizem ser a segunda do mundo, pois veio depois da de Bolonha), o general franquista Milan Astray pronuncia um mentecapto discurso que terminou com a frase “Viva la muerte!”.

Era reitor da Universidade o grande filósofo Miguel de Unamuno (autor do livro O sentimento trágico da vida), que era de direita, mas não fascista, que disse: “Acabo de ouvir um grito insano e desprovido de sentido. É um grito bárbaro, repugnante”. Mas o general continuou repetindo suas frases: “Viva la muerte! Muerte a la inteligência!”. E a morte, realmente, meses depois, chegou para centenas de milhares de espanhois, onde irmão matou irmão bestial e insanamente. Para o reitor a morte chegou no último dia de 1936: morreu de tristeza!

De acordo com G. Lapouge isso seria o frontispício do nosso tempo atual, registrado pelo longo romance ensanguentado que chamamos de A História. Por que ele menciona “tempo atual”? Porque enfocava três ocorrências recentes: no Quênia (Nairóbi) vários homens invadiram um shopping center e mataram 61 civis (deixando 200 feridos); na Nigéria o grupo Boko Haram atacou uma pequena cidade, incendiou casas e, no final, 150 cadáveres; no Paquistão, dois atentados suicidas contra uma igreja cristã trucidaram 50 pessoas. Os três atentados foram praticados pelo islamismo radical que, muitas vezes, não amam somente a morte dos outros, senão a própria. Os assassinos suicidas matam seus inimigos com a arma mais radical que existe, que consiste na sua própria morte.

Durante o nazismo, em nome da depuração da raça, Hitler foi responsável também pela morte de milhões de pessoas. Hoje, diz G.Lapouge, “adoradores da morte massacram, sem qualquer motivo, sem mesmo um pretexto, crianças, mulheres, camponeses, gente pacífica, de uma extremidade à outra da África e da Ásia [não é diferente o que ocorre nas Américas]. Eles contribuem, aprimorando-o, para o amor à morte celebrado pelo general franquista se Salamanca, pelos soldados alemães das Das Reich e pelos especialistas das câmaras de gás” (Estadão 26/9/13, p. A21).

Para nós, da América Latina, colonizada pelos guerreiros espanhois e portugueses, nunca houve nenhum tempo sem o mais macabro selvagerismo, marcado pela insólita frase fascista “viva la muerte!”. No Brasil, em 2013, conforme projeção do Instituto Avante Brasil, estamos matando diariamente (diariamente!) no trânsito algo em torno de 128 pessoas (5 mortes por hora - total: 3467 mortes por mês); intencionalmente são mais ou menos 147 mortes por dia, 6 mortes por hora - total: 3882 óbitos por mês.

Nossa paixão pela morte, ou seja, pela selvageria sanguinária, começou mesmo antes de 1500, com duas bulas papais (Nicolau V e Alexandre VI), autorizadoras de todo tipo de desmando no Novo Mundo, desde que mais almas religiosas fossem cooptadas (importava o fim, não o meio). O “viva la muerte” continua mais vivo que nunca no Brasil!

(*) Luiz Flávio Gomes, jurista e coeditor do portal atualidades do direito.com.br. Estou no facebook.com/blogdolfg

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