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A Revolução dos rolezinhos

Por Gregorio Vivanco Lopes (*) | 03/04/2014 13:49

De repente, como um tornado que varre uma cidade e destrói todas as casas, irromperam shoppings a dentro os rolezinhos. Tomaram ademais as páginas dos jornais, os programas de televisão e transbordaram para a Internet; não se falava de outra coisa.

Como fenômeno de opinião pública foi uma novidade, e bem grande, bem inesperada, e mesmo ameaçadora. Noticiaram-se roubos, depredações do comércio, ameaças a lojistas e compradores em São Paulo, Rio, Recife e por todo o Brasil. A esquerda radical logo se mobilizou a favor dos rolezinhos. E a ministra Luiza Bairros (PT) acusou a polícia e os frequentadores de shoppings de discriminar jovens negros nos rolezinhos.

O susto foi grande, os donos de shoppings correram à Justiça para obter liminares, as lojas fecharam e a polícia se mobilizou. A população se assustou a tal ponto, que uma pesquisa de opinião apontou 82% contra os rolezinhos, rejeitados em todas as camadas da população.

Alguns dias depois, o panorama estava mudado. Uma fada com sua varinha mágica passara pelos rolezinhos e os tocara, obtendo uma transformação rápida e profunda. Eles passaram a ser pobres jovens da periferia que apenas queriam passear um pouco dentro dos shoppings, olhar as vitrines, cantar e dançar ao som do funk e do rap.

Por sua vez, o caráter pretensamente espontâneo do movimento cedeu lugar ao surgimento de uma organização com líderes que, em acordo com os donos shoppings centers, propuseram-se a limitar o número dos rolezinhos e moderá-los. Segundo o secretário da Igualdade Racial em São Paulo, Netinho de Paula (PC do B), os jovens querem ter relação tranquila com os shoppings. O presidente da Abrasce (associação de shoppings) se mostrou esperançoso: “daqui para a frente, tentaremos fazer com que tudo isso, que criou tanta celeuma, passe a ser apenas mais uma atividade cultural".
Convenhamos, tudo isso soa muito artificial!

Lançados de repente no mercado propagandístico com “bombos y platillos”, como dizem pitorescamente nossos amigos hispânicos, sua ação correspondeu ao binômio susto-distensão. Primeiro um grande susto: os templos da burguesia invadidos por novos bárbaros. Quando tudo caminhava para a batalha, incruenta é verdade, mas verdadeira batalha, eis que o inimigo se põe a sorrir, estende a mão e usa a palavra mágica que abre todas as portas: diálogo.

Adorador do diálogo e do ecumenismo como formas infalíveis para resolver todos os problemas sem precisar recorrer aos princípios nem à luta, o burguês se distende. Afinal, vai poder reimergir na sonolência e na letargia.

Ele não percebe que perdeu a partida. Os rolezinhos – ou quem quer os manipule – já se sentem admitidos aos shoppings como coisa normal, com suas correrias e seus funks, apenas com certa regulamentação, que vigorará enquanto eles quiserem.

(*) Gregorio Vivanco Lopes é advogado e colaborador da ABIM

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