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As lições da tragédia

Por Mauro Lourenço Dias (*) | 04/05/2015 13:20

Quem cresceu em Santos sempre ouviu que, na Ilha Barnabé, há combustível suficiente para levar, um dia, toda a cidade e região pelos ares. Graças à Providência, isso nunca aconteceu. Ainda bem. Mas que se vive em completa insegurança, não se discute. E que não há nenhum plano regional de evacuação ou de controle em caso de calamidade o recente incêndio em tanques de granéis líquidos da Ultracargo, no bairro da Alemoa, deixou evidente.

Com base em declarações de especialistas, conclui-se que não só falta responsabilidade por parte das empresas que manipulam produtos inflamáveis como tampouco existe uma fiscalização rigorosa nas instalações industriais pelo poder público. Como ficou claro, o sistema de segurança não funcionou e a população viveu sob completa insegurança os oito dias que durou o incêndio.

Um exemplo dessa insegurança crônica que vive quem mora na Baixada Santista é que, mais de 30 anos depois da tragédia da Vila Socó, em Cubatão, ainda não se tem informações sob domínio público a respeito dos dutos subterrâneos que cortam o município e que continuam a pairar como uma ameaça de que acidentes se repitam.
Como no Brasil sempre aparece alguém com uma tranca nas mãos depois que uma porta amanhece arrombada, a Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental (Cetesb) acaba de sugerir ao Ministério Público a implantação do programa Processo Apell de prevenção contra acidentes químicos, apoiado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em toda a região industrial da Baixada Santista. Aliás, a proposta que envolve o treinamento de moradores das redondezas dos terminais já havia sido apresentada pela Coordenadoria do Plano de Auxílio Mútuo (PAM) do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), em Cubatão, à Promotoria do Meio Ambiente, mas, como se conclui, deve ter ficado esquecida em alguma gaveta.

O Processo Apell (sigla que significa Awareness and Preparedness for Emergencies at Local Level ou Processo de Alerta e Preparação para Emergências em Nível Local) constitui um conjunto de diretrizes que têm por objetivo conscientizar a comunidade, além de oferecer apoio ao Corpo de Bombeiros com veículos e produtos de combate ao fogo provocado por produtos químicos. Para tanto, as indústrias têm de oferecer os recursos e os meios. É como funciona no município de Duque de Caxias-RJ.

O Ciesp-Cubatão garante que o Processo Apell já estava em fase de implantação, mas acrescenta que será intensificado em 2015 com a realização de exercícios simulados com a participação de trabalhadores e da população. Seja como for, infelizmente, o que se constatou é que a comunidade local não estava preparada nem havia espumas especiais para o combate às chamas. E que o Corpo de Bombeiros, apesar do denodo com que atuaram seus soldados, está bem desaparelhado. Portanto, há muito que se fazer.

(*) Mauro Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br

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