ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram Campo Grande News no TikTok Campo Grande News no Youtube
JUNHO, TERÇA  17    CAMPO GRANDE 24º

Artigos

Bons ventos sopram na direção da Amazônia

Adriana Bellintani e Veronica Gonçalves (*) | 22/02/2023 08:30

Neste novo ano, o Brasil aponta para uma mudança importante em relação ao papel – real e simbólico – da Amazônia na política nacional, ao anunciar políticas e ações em prol dos povos originários e do meio ambiente. O presidente Lula, ao reativar o Fundo Amazônia, sinaliza a prioridade de valorização da floresta amazônica em pé, da redução do desmatamento e do fortalecimento da fiscalização, além do combate às mudanças climáticas e da promoção do desenvolvimento sustentável.

O Fundo Amazônia trabalha pela conservação da biodiversidade, pelo manejo florestal e pela fiscalização ambiental, defendendo o bioma brasileiro. A captação dos recursos ocorre mediante a comprovada redução de emissão de carbono, que é medida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Assim, quanto maior a preservação da floresta em pé e menor o desmatamento, maior será a receita do Fundo.

Trata-se de política que reabre canais de diálogo com a comunidade internacional, numa clara intenção de expandir a base de doadores para o fundo e de ampliar os projetos de contenção ao desmatamento. Com isso, a Amazônia retoma destaque nos planos de organizações e investidores internacionais que possuem interesses nas soluções dos problemas da região. O anúncio de que o Brasil é candidato a sediar a 30.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre mudança do clima (COP do Clima) em Belém do Pará em 2025 reforça a aliança discursiva entre o combate às mudanças climáticas e a preservação da floresta amazônica, bem como a intenção do Brasil de retomar um papel ativo no regime do clima.

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, garante fôlego ao Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAM), fundamental para reverter o processo de avanço do desmatamento na região. O plano, lançado em 2004, resultou na redução do desmatamento na região em 71% no período compreendido entre 2005 e 2016, e sua reativação é essencial para se reverter o quadro de expansão do desmatamento e de degradação ambiental.

Entre as questões que exigem maior atenção e formulação de políticas públicas estão o desmatamento, a poluição dos rios pelo garimpo ilegal e o tráfico de flora e fauna.

A preservação e o desenvolvimento concomitante da região amazônica perpassam a dimensão política, econômica, ambiental, social, cultural e de segurança em esforço integrado entre o local e o internacional. A governança global atua transversalmente em diferentes estruturas de produção.

Ademais, a criação do Ministério dos Povos Indígenas e a nomeação de Sonia Guajajara como ministra, bem como a nomeação de Joenia Wapichana para presidir a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), representam um marco histórico: trata-se do reconhecimento da importância dos povos indígenas no Brasil e da valorização de mulheres indígenas com trajetória e experiência inquestionáveis na luta pela promoção e pelos direitos dos povos originários e pela proteção do meio ambiente.

A Amazônia compreende uma vasta área com inúmeras particularidades que se desdobram em realidades distintas. Existem, portanto, várias “amazônias”, sendo importante discutir o desenvolvimento da região sob as óticas da valorização dos saberes e das tecnologias locais, rompendo-se com uma estrutura de formulação de políticas e projetos impostos “de cima para baixo” – ou, no caso, do Sul para o Norte.

A região amazônica, na perspectiva das ideias de desenvolvimento sustentável no Brasil, é uma área que merece maior estudo, pesquisa e novos paradigmas com leitura histórica, econômica e internacionalista. A Amazônia Brasileira ou Legal, com seu rico bioma, reapresenta-se na agenda nacional e internacional, desafiando-nos a compreendê-la em sua riqueza, complexidade e contradições. O capital natural da Amazônia é atualmente motivo de grande preocupação e interesse mundial. Que os novos ventos de Brasília para a Amazônia sejam inundados pela sabedoria, pela fertilidade e pela pulsão de vida dos rios amazônicos!

(*) Adriana Iop Bellintani é professora do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e atua como professora colaboradora no Programa de Pós-graduação de Estudos Estratégicos Internacionais da UFRGS, onde coordena o Grupo de Estudos Amazônicos e Pesquisas em Relações Internacionais (GEAPRI).
(*) Veronica Korber Gonçalves é professora do curso de Relações Internacionais e do Programa de Pós-graduação em Estudos Estratégicos Internacionais (PPGEEI-UFRGS). Coordena o Grupo de Estudos em Relações Internacionais e Meio Ambiente e é membro do Grupo de Estudos Amazônicos e Pesquisas em Relações Internacionais (GEAPRI).

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

Nos siga no Google Notícias