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Brasil-Argentina: efeitos da crise

Por Milton Lourenço (*) | 21/09/2018 16:30

SÃO PAULO – Pressionado por uma grave crise econômica, o governo argentino baixou várias medidas que já afetam as exportações brasileiras, especialmente as do segmento automobilístico. Terceiro principal parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China e dos Estados Unidos, a Argentina representa hoje cerca de 8% das exportações brasileiras, o que significa que a trajetória da economia da nação vizinha está diretamente relacionada ao desempenho comercial do nosso País.

Segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), em agosto, as exportações brasileiras para a Argentina caíram 4,8% em relação ao mesmo período de 2017, ou US$ 1,5 bilhão. Nos oito primeiros meses deste ano, houve avanço de apenas 0,5%, ou US$ 11,5 bilhões. Já as importações do país vizinho subiram 38,7% em agosto, ou US$ 1,1 bilhão, e 17,4% no acumulado do ano, ou US$ 7,2 bilhões.

Portanto, os números indicam que o Brasil deverá sofrer com a crise econômica argentina neste e no próximo ano, principalmente em suas exportações. O único consolo é que, desta vez, as turbulências no relacionamento comercial com a Argentina são originadas por uma crise econômica e não por medidas administrativas de caráter nacionalista, como ao tempo dos governos populistas de Néstor Kirchner (2003-2007) e Cristina Kirchner (2007-2015).

Em função dessa crise, o setor de produtos manufaturados, principalmente o automotivo, será o mais prejudicado – hoje, 20% dos embarques brasileiros de manufaturados têm o país vizinho como destino. O mesmo deve acontecer com o setor calçadista, que até agora vinha em ascensão, tendo, inclusive, superado os Estados Unidos no ranking dos maiores mercados para a indústria brasileira de calçados, com uma alta de 11,6% nos oito primeiros meses deste ano.

Apesar dessas perspectivas sombrias, não se pode deixar de reconhecer que o setor exportador tem evoluído de maneira significativa, como mostra levantamento preparado pela Rede de Centros Internacionais de Negócios (Rede CIN), que é coordenada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Segundo esse estudo, em 1998, o Brasil tinha 15.807 empresas exportadoras, mas, 20 anos depois, esse número saltou para 25,4 mil, registrando um crescimento de 60%. Por faixa de valor exportado, o maior crescimento foi observado no número de empresas que venderam entre US$ 10 milhões e US$ 50 milhões: eram 61 1 em 1998 e chegaram a 1.373 em 2017, com um aumento de 124%.

Obviamente, se não houvesse entraves, como barreiras comerciais, burocracia excessiva e infraestrutura precária em rodovias, ferrovias e portos, esse número poderia ter crescido ainda mais, desde que as possibilidades de financiamento também fossem mais adequadas e atraentes. Portanto, o que se espera é que a tendência de crescimento no comércio exterior se mantenha, mesmo em escala mais reduzida, ainda que, para piorar, haja no horizonte a possibilidade de uma guerra comercial no planeta, se os problemas dos Estados Unidos com a China não forem resolvidos.

Afinal, se houver a retração na atividade econômica que se prevê para 2019, não se pode esquecer que, como mostra aquele levantamento da Rede CIN, apenas o comércio exterior cresceu em períodos recentes de recessão no Brasil.

(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br

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