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Brasil-México: o futuro em jogo

Por Milton Lourenço (*) | 10/10/2018 08:19

Como o governo brasileiro em 2005, ao lado do argentino, boicotou a formação do Acordo de Livre-Comércio das Américas (Alca), o País agora não dispõe de um fórum comercial adequado para se defender das consequências que podem resultar da renegociação do Tratado Norte-Americano de Livre-Comércio (Nafta), especialmente para as exportações brasileiras com destino ao México. Sem contar que essa renegociação entre Estados Unidos e México deverá afetar negativamente as tratativas que o governo brasileiro estava desenvolve ndo, por intermédio do Mercosul, com o governo mexicano.

Embora a sua participação nas exportações totais do Brasil seja reduzida, em torno de 1,8%, aquele país constitui um mercado atraente para os produtos manufaturados, que merece ser preservado, ainda mais numa situação como a de agora em que cresce o fenômeno da desindustrialização e, ao mesmo tempo, aumenta a participação de commodities agrícolas e minerais na pauta exportadora. Segundo dados da Assoc iação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), as vendas de produtos primários no primeiro semestre cresceram 10,6% em relação ao mesmo período de 2017, enquanto as de manufaturados subiram apenas 6,6%. Para piorar o quadro, as vendas de bens semimanufaturados caíram 1,4%.

Cerca de 20% dos produtos manufaturados que o Brasil exporta para o México estão no setor automotivo, entre motores, partes e peças, mas essa participação pode ser reduzida se ficar decidido que aquele país terá de elevar o seu conteúdo regional mínimo, de 62,5% para 75%, para a venda de automóveis sem tarifas aos Estados Unidos e Canadá, além da obrigatoriedade de que alguns insumos de aço e alumínio para a indústria automotiva sejam comprados daqueles países.

A política comercial do governo de Donald Trump que dá ênfase ao protecionismo também pode afetar o setor agrícola brasileiro, se a União Europeia tiver de fazer concessões nessa área para os Estados Unidos, o que fatalmente levará o bloco europeu a recuar diante das demandas do Mercosul. Nesse caso, as vendas de commodities, que vêm crescendo de maneira significativa, também podem sofrer um impacto negativo.

Obviamente, ninguém defende um freio nas vendas de commodities, até porque esse segmento vem garantindo superávits na balança comercial, mas o que não pode ocorrer é que o País volte a ser apenas um fornecedor de matérias-primas, como ao tempo do Brasil colonial.

Portanto, o que se espera é que o governo que sair das urnas crie, a partir de janeiro de 2019, condições, inclusive com uma diplomacia comercial mais incisiva que abra mercados, para que o parque fabril brasileiro não seja sucateado ou até mesmo desativado. Até porque os produtos manufaturados, além de agregar valor, redundam na criação de empregos, o que acaba por estimular o mercado interno e faz com que o País cresça.

(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br

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