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Carapuças

Manoel Martins de Almeida (*) | 10/08/2020 09:58

A cidadania sul-mato-grossense está de luto e envergonhada: o Rio Taquari morreu. Poderíamos dizer que foi vítima do descaso, do pouco caso e do caso pensado.

Os órgãos públicos e seus titulares, encarregados de licenciar e fiscalizar os desmatamentos no Planalto e definir a ocupação agrícola adequada para aquela região, deveriam ser responsabilizados!

Assim como:

Os produtores rurais que destruíram as cabeceiras do Rio Taquari, degradaram o solo em suas propriedades e foram protegidos pelos acordos convenientes que os livraram da necessária punição;

Todos os representantes políticos da Planície nos últimos quarenta anos que pouco ou nada fizeram em defesa da população pantaneira;

Os pseudos cientistas, palpiteiros de cordel, despreparados e covardes, que propositadamente turvaram as águas do verdadeiro conhecimento científico, proporcionando discussões “maliciosas” sobre as evidentes razões daquele desastre;

Uma certa imprensa, que distraidamente, jogou a opinião pública contra os produtores da Planície e deu cobertura às decisões equivocadas que condenaram as vítimas do desastre;

Todos aqueles que puniram as vítimas em lugar dos infratores;

Todos os detentores de poder neste Estado que direta ou indiretamente, por ação ou omissão, prejudicaram os pantaneiros, tirando-lhes o direito à sobrevivência digna;

Todos aqueles que circulam pelos porões do poder e que buscam alcançar vantagens inconfessáveis com a tragédia pantaneira;

Alguns taquarizanos “espertos” que se lixam para desgraça dos outros;

Todos aqueles que veem um bom negócio no fracasso alheio;

Todos os que legislaram para o Pantanal, servindo a forças estranhas;

Todos aqueles que professam o ambientalismo de barzinhos e workshops e rezam na cartilha das ONGs internacionais, contra nossos interesses;

Todos os pantaneiros que, não obstante compreendendo o que ocorria, permaneceram omissos;

Todos os forasteiros arrogantes que aqui aportam com dinheiro, comprando consciências;

Todos os agentes públicos, que de alguma maneira e historicamente, desviaram as verbas destinadas ao rio Taquari;

Os "redeiros" de Coxim e seus protetores políticos e, por fim, um conhecido e louvado picareta, dono do mais descarado cinismo.

Estes são os principais atores que direta ou indiretamente contribuíram para que ocorresse aquele desastre ambiental, social e econômico em nosso Estado.

Enquanto o oportunismo comandar o cenário ambiental do Mato Grosso do Sul, a perenidade do Pantanal será: promessas não cumpridas e moeda de troca para compensar os desmandos praticados no Planalto.

São decorridas quatro décadas de cruel injustiça para com os pantaneiros. Os anos se passaram e, independentemente de quem estivesse no poder, a tragédia foi se agravando.

Propositadamente se buscou o esquecimento do problema. Uma certa letargia induzida acometeu as vítimas que perderam a esperança e o desejo de lutar.

Então criou-se o ambiente propício para os oportunistas que vislumbram grandes possibilidades de lucrar com a vulnerabilidade daquela população, que tudo perdeu.

Neste país, onde, costumeiramente, o abuso de poder e a irresponsabilidade social superam a noção de cidadania, é difícil acreditar que alguma forma de Justiça alcance os responsáveis.

O Tribunal da História haverá de julgá-los. Enquanto isso ficam aí as carapuças para quem se interessar.

Tamanho único.

(*) Manoel Martins de Almeida é produtor rural no Pantanal.

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