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Carga de problemas a exigir soluções

Por Benjamin Salles Duarte (*) | 04/06/2018 07:45

No primeiro quadrimestre de 2018 o superávit nas exportações do agronegócio brasileiro foi de US$ 25,5 bilhões e a tendência histórica é que esse desempenho se repita até o final deste ano, apesar das graves consequências decorrentes da greve nos transportes e que devem ser avaliadas também na análise do segundo trimestre da economia brasileira. Os produtos mais perecíveis como as hortaliças, frutas e os legumes são os mais atingidos em níveis de regiões produtoras, entretanto, os suínos, as aves de corte e postura, bem como os produtores de leite engrossam essa lista do tamanho do Brasil, o que não exclui a bovinocultura de corte.

O fato concreto é que 61% das cargas brasileiras são transportadas por rodovias e não se pode desconsiderar o volume de produtos transportados numa extensa malha rodoviária que abastece o país queimando petróleo e pneus, onde não chegam as ferrovias e hidrovias, embora, no conjunto, sejam essenciais ao consumo, à vida de 213,4 milhões de brasileiros (Countrymeters/01/06/18/14:22 h/Google), e às exportações do agronegócio.

Esses cenários também abrigam as estradas e rodovias sem manutenção periódica, que poderiam duplicar minimamente o tempo de viagem, a depender da região, e elevar custos adicionais que serão pagos pelos consumidores finais onde eles estiverem. É legítimo lembrar os milhares de quilômetros de estradas vicinais, por onde também circulam os insumos agropecuários, produtos e as riquezas, que ficam intransitáveis durante os períodos chuvosos e resultam em consideráveis prejuízos para quem planta e cria.

Essa questão de logísticas operacionais simplesmente existe em qualquer lugar e em qualquer governo a exigir soluções, pois o tempo é precioso. Porém, no conjunto de outras atividades econômicas, os sistemas agroalimentares são extremamente sensíveis e que passam também pelas adversidades climáticas prolongadas ou não. Esse é um outro fato concreto, mensurável.

No comércio por vias internas o agronegócio brasileiro movimentou R$ 1,43 trilhão em 2017 e ao gerar milhões de empregos no campo e nas cidades, exportar para mais de 160 países, abastecer o mercado, assegurar alimentos indispensáveis à dieta humana e aos rebanhos de pequenos e grandes animais, fontes de proteínas nobres, controlar o processo inflacionário, reduzir o preço da cesta básica, estratégica, e se considerando também os 13,2 milhões de desempregados, que restringem o consumo de alimentos e outras despesas mínimas no dia a dia das famílias, que precisam ser pagas, com ou sem emprego!

Esse contingente de desempregados, à base 13 salários mínimos de R$ 930,00/ano, deixam de receber R$ 159,6 bilhões, que não são injetados na economia brasileira e seu corolário de consequências econômicas e sociais, com seus múltiplos efeitos em cascata. Se não fora o vigor do agronegócio brasileiro, apesar dos prejuízos substantivos, a crise no abastecimento seria muito mais grave à falta de alimentos suficientes para recuperar a defasagem entre a demanda aquecida e a oferta baixa por um período mais longo à falta de transportes de cargas para reposição de mercadorias.

Noutro cenário, as duas maiores potências mundiais são os Estados Unidos e a China, que também avança na produção de alimentos numa perspectiva de tempo, onde respectivamente existem 3,73 milhões de km de rodovias pavimentadas, 1,515 milhão, contra 222 mil km no Brasil (Dnit), e ao considerar todos os tipos de rodovias e estradas, os EUA têm uma malha de aproximadamente 6,8 milhões de km.

Além disso, as malhas ferroviárias somam 294 mil km nos EUA (2014); 124 mil, na China (2017); e 29,85 mil km no Brasil (2014), segundo o Index Mundi/2017. Podem-se citar alguns PIBs em 2016; EUA, US$ 18,03 trilhões; China, US$ 11 trilhões; e Brasil, US$ 1,77 trilhão (Banco Mundial). O agro brasileiro é o 2º do mundo, apesar dos entraves históricos neste país continental.

De outro lado, devem se contabilizar nos sistemas agroalimentares as perdas havidas na colheita, armazenagem, no transporte, na distribuição e no consumo, embora haja tecnologias redutoras desses desperdícios nos domínios dos produtos de origem animal e vegetal. São presumíveis avaliar as pressões por alimentos e água numa projeção de até 9,2 bilhões de habitantes em 2050, contra os 7,6 bilhões atuais. Projeção é uma perspectiva!

A tese do fim próximo da “Era do Petróleo,” por decorrência de outras formas de energia alternativa e num horizonte presumível de tempo, não se sustenta na prática e nas economias mundiais. A greve havida neste país revelou essa dependência indissociável da sociedade ao petróleo e derivados no viger desse século 21, e para além das fronteiras do Brasil, apesar dos avanços da energia solar, eólica, e na agro energia.

(*) Benjamin Salles Duarte é engenheiro agrônomo. 

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