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Crença e fé capitalista

Por Gilberto Verardo (*) | 09/04/2024 09:00

Dizem, a muito tempo, que o mesmo remédio que cura, também pode matar e que a mesma fé que liberta, também pode escravizar. Crença ou Fé, há um ponto de ponderação – os excessos. Talhado para buscar o equilíbrio, o ser humano vive quebrando essa harmoniosa regra universal.

A mágica palavra MAIS, esconde uma sedução de desrespeitar outra palavra mágica: SUFICIENTE. Entre uma e outra, a humanidade viu impérios extraordinários ruírem.Ou por mais poderes ou por mais riquezas. Se é que as duas coisas não andam juntas de forma escamoteada.

Assim, a humanidade, com discurso civilizatório, está presenteando o novo milênio com um panorama paradoxal. Muito conhecimento e riqueza com muita violência e desigualdade. Economia de mercado e capacidade de consumir se tornaram Crença e Fé para viver neste paraíso perdido.

O simbolismo religioso se misturou ao simbolismo do dinheiro.  E os dois se tornaram um só, ao perderem de vista a ganância do excesso, que acabou virando virtude. Resumindo: desatentos, deixamos estas crenças arruinarem a vida no planeta Terra. Qual crença nova mudará este caos que se aproxima? A religiosidade ou o dinheiro?

Com uma crise histórica do modelo capitalista, a mais severa em seus séculos de domínio, diz o   professor Noal “Não é fácil captar o verdadeiro papel da economia na história moderna. Volumes inteiros foram escritos sobre como o dinheiro criou e arruinou Estados, abriu novos horizontes e escravizou milhões de pessoas, fez as engrenagens da indústria girarem e levou centenas de espécies à extinção.

Para o bem ou para o mal, na saúde ou na doença, a economia moderna cresce como um adolescente cheio de hormônios: devorando tudo que vê e cresce mais depressa que podemos medir”. “Os bancos estão autorizados a emprestar dez dólares a cada dólar que de fato possuem, o que significa que 90% de todo o dinheiro em nossas contas bancárias não está coberto por moedas e cédulas de verdade. O que possibilita aos bancos  - e a toda economia  - sobreviver e prosperar é nossa crença e confiança no futuro.

Essa confiança é o único sustentáculo de quase todo o dinheiro do mundo”. “O crédito fundamenta-se  na presunção de que nossos recursos futuros serão mais abundantes do que os atuais”. Essa observação de Noal sempre foi alimentada por uma crença e ela, entre sucessos e fracassos, nos trouxe a um mundo a beira do caos humano e climático. Se mudarmos nossa crença, podemos mudar o mundo novamente? É o que se espera e é   o recomendável.

No entanto, as diferenças de educação formal e informal entre pessoas e países, estabelece diferenças na percepção das coisas. Resumindo: há dificuldades imensas de consensos. O autor prossegue, se referindo às raízes conceituais deste quadro contemporâneo, “Adam Smith, filósofo e economista escocês, afirmou, em seu livro “A riqueza das nações”, que o impulso humano egoísta de aumentar o lucro privado era a base da riqueza coletiva, constituindo uma das ideias mais revolucionárias do capitalismo, do ponto de vista econômico, moral e político, podendo ser resumido em uma frase – Egoísmo é altruísmo (Será?)grifo nosso.

Em pouco tempo, a organização humana  se transformou numa grande empresa cujo verdadeiro objetivo era crescimento e lucro”. Concluiu que “Como em breve poderemos modificar artificialmente também nossos desejos, pela IA, a verdadeira pergunta que nos confronta não é “O que queremos ser”, mas “O que queremos querer”? Do livro- Sapiens: Uma breve história da humanidade/Yuval Noah Harari. 1 edição- São Paulo: Companhia das Letras,2020.

De tudo isso, podemos abstrair que o sistema está doente, contaminando todos que professam sua crença. Nem a religiosidade escapa. Desse modo, para reencontrar a saúde humana e do meio ambiente, seria preciso colocarmo-nos a certa distância da crença de que o dinheiro resolve tudo e o crescimento é ilimitado. Esperamos que, a partir desta sexta-feira SANTA, uma nova crença reacenda nossa confiança no futuro, fragilizado pelos excessos humanos.

(*) Gilberto Verardo é psicólogo humanista.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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