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Enchentes, hoje, são praticamente inevitáveis

Por Fayez José Rizk (*) | 25/04/2025 11:00

Há mais de uma década publiquei um artigo alertando que, da maneira que a Lei de Ocupação e Uso do Solo Urbano foi sendo descaracterizada e a ARBORIZAÇÃO sendo destruída, era inevitável as enchentes.

É necessário um pouco de história.

Em 1.978 a cidade foi agraciada com um excelente Plano urbanístico elaborado por Jaime Lerner e que tive a felicidade de participar, com mais quatro profissionais da apresentação desse Plano.

Era baseado na ocupação e uso do solo que, por sua vez, lastreava a mobilidade urbana, outro tema complexo ao qual me dedico há quase 50 anos.

Esse plano, além da mobilidade, já previa a hoje famosa “cidade esponja” -atualmente atribuída erroneamente a um chinês – com a preservação dos fundos dos vales do Prosa e do Segredo (inicialmente) como grandes parques para absorção das águas pluviais.

Com exceção do Centro, àquela época já consolidado, todo o restante da cidade tinha uma taxa máxima de ocupação de 50%, isto é, só poderia ser ocupada com construção metade da área do terreno ou menos, como por exemplo, toda a área à esquerda do córrego Soter, onde hoje está o bairro Carandá, Mata do Jacinto.

Também no começo da década de 80, a cidade tem um estudo geológico de áreas frágeis, a exemplo dessa citada, extremamente arenosa.

Essa formatação permitia que essa área excedente do terreno fosse utilizada para permear a água da chuva.

Infelizmente, esse Plano foi gradativamente sendo desfigurado e destruído.

Os fundos de vale foram ocupados, muitas vezes por invasões “permitidas”, a taxa de ocupação dos lotes foi aumentada e permitiu-se a impermeabilização do solo e a derrubada da arborização.

Uma árvore de porte médio é capaz de reter até 20% do volume da chuva que incide sobre ela, segundo alguns estudos.

Vejam por exemplo, o Parque do Sóter: quando projetei a avenida em torno do Sóter, fiz questão de manter uma grande faixa ao longo do córrego e lembro, quando delimitei a área do Parque do Sóter, havia ali uma grande erosão, que foi transformada em lago e hoje novamente quase entupido de areia: esta areia provém do solo ainda nu e vai se depositar ao longo dos vales dos córregos, junto com toda a água que não conseguiu se infiltrar.

Vem aí uma nova Lei de Ocupação e Uso do Solo, e alerto: se não for bem elaborada e discutida, tendo em vista esses dois aspectos, das enchentes e da mobilidade urbana, a cidade vai sofrer mais ainda.

Sem ônibus e com enchentes.

Fayez José Rizk é arquiteto e urbanista.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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