Geração sem tesão
Na minha coluna "Por que os jovens não querem mais transar? O ‘apagão sexual’ da Geração Z", analisei pesquisas que mostram que os jovens da geração Z (nascidos entre 1995 e 2010) estão fazendo menos sexo do que seus pais e avós da geração X (nascidos entre 1965 e 1981) quando tinham a mesma idade. De acordo com a psicóloga Jean W. Twenge, da San Diego State University, os membros da geração X tiveram cerca de 10 parceiros sexuais ao longo da vida, enquanto os membros da geração Z estão tendo cerca de 5 parceiros.
De acordo com especialistas, a falta de sexo estaria associada ao tempo que os jovens ficam online e com o fácil acesso a sites de pornografia, entre outras razões (individualismo, isolamento social, conflitos familiares, vontade de ganhar dinheiro e de ser famoso etc.). No "mundo real", o sexo exige intimidade, esforço e desempenho, coisas que os jovens não precisariam ter no "mundo virtual". Vale a pena destacar que os brasileiros passam, em média, mais de nove horas por dia online.
No entanto, parece que não são somente os jovens que não querem transar. Na minha pesquisa atual, com mulheres de mais de 50 anos, também tenho encontrado um "apagão sexual", como revelou uma psicóloga de 53 anos.
"Estou sempre tão exausta e estressada que prefiro dormir a fazer sexo. A menopausa acabou com o meu tesão. Estou fazendo todos os tratamentos possíveis para que o tesão volte, mas está difícil". Ela acha "natural" perder o tesão na menopausa.
"Misturou tudo: menopausa, casamento de muitos anos, pandemia, perdas, lutos, doenças, crises sociais, guerras, polarização política. Já transei muito, agora é natural querer um pouco mais de paz e tranquilidade. Aliás, quem consegue ter tesão em um mundo tão caótico?".
Uma professora, de 63 anos, afirmou que se "aposentou sexualmente" depois da menopausa.
"Minha mãe nunca falou nada sobre menopausa. Sou de uma geração que passou pela menopausa sem dar nome a ela. Tive todos os sintomas, mas achava que era velhice: engordei, tenho uma insônia enlouquecedora, secura vaginal, ansiedade excessiva, depressão, falta absoluta de tesão. Só não tive os famosos fogachos. Minha filha está com 43 anos e diz que a sua falta de tesão é culpa da pré-menopausa. Com a idade dela eu tinha acabado de me divorciar e estava transando loucamente. Eu não sabia o que era menopausa, mas ela já sabe tudo sobre pré-menopausa. Minha filha e minha neta são muito mais caretas do que eu fui na juventude."
Nas minhas pesquisas anteriores, a falta de desejo sexual era apontada como uma consequência natural do envelhecimento ou como resultado de um relacionamento longo, rotineiro e insatisfatório. Hoje, como mostrou a professora, parece que a menopausa se tornou a principal "culpada" pela falta de desejo feminino.
"Mirian, adorei a sua coluna sobre o tesão na alma. Eu acredito, como disse Rita Lee, aos 73 anos, que velha não quer trepar, velha quer ter tesão na alma. Sou de uma geração em que o sexo foi uma verdadeira libertação. Hoje, para muitas mulheres, o sexo é uma prisão. Lógico que conheço mulheres da minha idade que ainda querem transar, não posso generalizar, mas eu valorizo muito mais o companheirismo, a amizade, as risadas, os meus projetos de vida. Estou no time da Rita Lee, não quero mais trepar, quero ter tesão na alma".
(*) Mirian Goldenberg, antropóloga, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autora de "A Invenção de uma Bela Velhice", através da Folha de S.Paulo
Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

