Trad aposta em Lula e discurso de mudança para enfrentar favoritismo de Riedel
Mesmo atrás nas pesquisas, petista aposta em novo modelo, articulação nacional e cenário ainda aberto em 2026

Pré-candidato ao governo de Mato Grosso do Sul pelo PT, o advogado e ex-deputado federal Fábio Trad entra na disputa ciente das dificuldades impostas pelo cenário eleitoral atual, mas sustenta que a eleição de 2026 ainda está longe de ser decidida. Em entrevista, ele afirma que sua candidatura nasce ancorada em dois eixos: a defesa de um novo modelo de Estado e a construção de um palanque claramente alinhado ao projeto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja participação direta na campanha considera decisiva.
RESUMO
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Pesquisa expõe desvantagem
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Trad reconhece que, no momento, enfrenta um quadro adverso. Pesquisa recente do Instituto Novo Ibrape, publicada com exclusividade pelo Campo Grande News, aponta o governador Eduardo Riedel (PP) com 44,1% das intenções de voto na pesquisa estimulada, contra 9,8% de Trad.
Na espontânea, a vantagem é maior: 11,5% a 0,2%, portanto, inferior a um dígito os entrevistados que lembraram do petista. Ainda assim, Fábio Trad surge à frente de figuras tradicionais da política estadual, como ex-governador Zeca do PT e seu irmão Nelsinho Trad, atualmente em campo oposto.
O pré-candidato relativiza os números e diz que eles não inviabilizam o projeto político. “Mesmo que o campo progressista tenha bons números agora, ele não pode deixar de apresentar uma mensagem democrática, progressista e alinhada aos ideais do governo Lula”, afirma.
Aposta em mudança gradual e crítica ao modelo de gestão atual
Para Trad, a candidatura não se constrói apenas a partir do desempenho momentâneo em pesquisas. Ele aposta na consolidação de um discurso de mudança gradual, que dialogue com setores hoje distantes do PT no Estado. “Se a candidatura se confirmar, vou propor um modelo de governo diferente do atual, que parte de uma outra concepção de Estado, onde desenvolvimento e justiça social caminhem juntos”, diz.
Segundo ele, a crítica ao governo Riedel não se dá apenas no campo ideológico, mas na forma como o Estado tem sido administrado. “É um governo que opera muito sob a lógica empresarial e que não conseguiu levar o povo para o centro do pacto político”, afirma.
Sem entrar em detalhes programáticos, Trad sustenta que sua proposta passa por maior transparência, políticas públicas avaliáveis e foco em resultados concretos, sobretudo em áreas sensíveis como segurança e educação. “Não é hora de descer a minúcias. A eleição está distante e esse debate precisa amadurecer”, diz, evitando antecipar bandeiras que possam virar munição para adversários.
Cenário nacional e papel de Lula como âncora eleitoral
Na leitura do cientista político Paulo Catanante Filho, diretor-presidente do Instituto Novo Ibrape, o cenário captado pela pesquisa reflete sobretudo o peso da máquina e do sentimento de continuidade. “Hoje, o governador tem avaliação positiva próxima de 80%. Em contextos assim, a tendência natural do eleitor é a manutenção do status quo”, explica. Segundo ele, pesquisas feitas com mais de um ano de antecedência tendem a favorecer quem já ocupa o cargo e é mais conhecido. “A estimulada, nesse momento, diz pouco sobre o resultado final”, pondera.
Ainda assim, Catanante reconhece que a pesquisa espontânea indica um favoritismo robusto. “Quando a espontânea dá 11,5 a 0,2, isso mostra que existe um favorito forte. Não significa que a eleição esteja decidida, mas aponta uma largada muito desigual”, afirma. Para o analista, Trad enfrenta obstáculos estruturais: o histórico recente de derrotas do PT no Estado, a ausência de prefeitos e a dificuldade de montar uma base municipal competitiva.
Esse diagnóstico dialoga com a própria avaliação do pré-candidato, que admite depender fortemente do cenário nacional. Trad afirma que terá uma reunião com Lula em janeiro e diz que a definição sobre o grau de envolvimento do presidente será determinante para sua decisão final. “Eu preciso saber se o presidente quer, de fato, que Mato Grosso do Sul tenha um palanque para sustentar as bandeiras do seu governo”, afirma.
Para Catanante, essa aposta faz sentido dentro do contexto atual. “A principal âncora competitiva do Fábio é o Lula. O PT, isoladamente, tem alta rejeição no Estado, mas Lula teve cerca de 40% dos votos no segundo turno. Existe uma base ali que pode ser trabalhada”, avalia. Segundo ele, o desafio está no fato de que Riedel não se apresentar como um governador ideologicamente radical, o que dificulta a polarização clássica. “Ele consegue dialogar com eleitores de diferentes campos”, diz.
Apesar do quadro desfavorável, o cientista político avalia os números com cautela. “Pesquisa é retrato do momento. A eleição depende de fatos novos, de alianças, do ambiente nacional e da definição do campo progressista”, afirma. Para ele, candidaturas como a de Trad podem ter objetivos que vão além da vitória imediata. “Na política, nem sempre se entra apenas para ganhar. Às vezes, o projeto é construir posição, fortalecer discurso ou preparar terreno para disputas futuras.”
Trad, por sua vez, reforça que vê a eleição como uma oportunidade de recolocar o debate sobre o papel do Estado e o alinhamento de Mato Grosso do Sul com o governo federal. “O Estado pode e deve se beneficiar mais das políticas nacionais. Isso exige coerência política e clareza de projeto”, afirma.
Com a eleição ainda distante e variáveis importantes em aberto — como a definição do palanque presidencial no Estado e o papel de lideranças nacionais na campanha —, tanto o pré-candidato quanto os analistas concordam em um ponto: o cenário atual é desafiador, mas está longe de ser definitivo.

