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Homossexualidade: os conceitos formados pelo “pré-conceito”

Por Vítor Sampaio (*) | 18/04/2012 14:53

Uma pesquisa realizada pelas Universidades de Rochester, Essex e Califórnia, nos Estados Unidos, baseada em diversos experimentos e com resultados alinhados a teorias psicanalíticas, concluiu que o comportamento agressivo de pessoas homofóbicas é uma maneira de esconder a atração por pessoas do mesmo sexo.

Não pretendo aqui questionar ou apoiar a pesquisa, muito menos dissertar longa e cansativamente sobre a temática homossexual apoiando-me em teorias psicológicas de qualquer espécie. Gostaria, antes e fundamentalmente, de pousar meu olhar sobre o preconceito de forma geral, para entendermos esta forma humana de “se relacionar” e seu prejuízo para nosso convívio.

Quando falamos em preconceito, devemos de imediato, identificar o significado da própria palavra. Se dividirmos a palavra preconceito ficamos com “pré-conceito”, ou seja, o que é “pré” concebido. Temos aí dois termos: o pré (previamente, anteriormente) e o conceito (reflexão, interpretação). Assim, para entendermos o preconceito, precisamos fazer uma rápida revisão quanto ao uso destes dois termos.

Como formamos um conceito? Como conceituamos alguma coisa ou alguém? Ao lembrarmos que a existência humana só se faz existente quando se efetua, ou seja, se relacionando com os outros e com o mundo, fica fácil entendermos que para conceituar algo ou alguém, isto só se torna possível no contato, no encontro. Outros podem dizer o que quiserem sobre esta pessoa, mas de fato só formarei meu conceito (sentimento, pensamento e opinião) a partir do momento em que conhecê-la, constatando que acho isso ou aquilo. Assim, temos mais claro o que é formar um conceito.

Agora, vamos nos debruçar sobre o termo previamente. Previamente nos fala de uma relação temporal, algo que vem antes. Um pré-conceito é um conceito que vem antes. Mas antes do que? Vem antes do próprio conceito. Só poderíamos formar um conceito, como dizer que uma pessoa “tem tal jeito”, entrando em contato com ela. Então, um pré-conceito é dizer que a pessoa “tem um determinado jeito” sem tê-la conhecido, tendo assim uma certeza sobre suas características sem nunca propriamente contatá-la.

Surge aqui todo o problema de um pré-conceito. Acontece que esta conceituação prévia faz com que o “encontrar-se com ela” nunca se dê de fato. Este encontro é descartado, pois já existe uma certeza sobre como a pessoa é, eliminando a necessidade de realmente estar com ela. Este encontro que permitirá uma conceituação precisa e responsável, ou seja, uma conceituação que levaria em conta apenas o sentimento envolvido naquele encontro, já não se dará e não permitirá a formação de um conceito, deixando espaço apenas para o pré-concebido.

Mas como posso emitir um conceito prévio sobre alguém que não entrei em contato de fato? O pré-conceito muitas vezes é advindo do contexto de onde a pessoa está ou foi criada e não sobre o que efetivamente sei sobre ela. Assim, digo que alguém é desse ou daquele jeito porque isto me foi dito, foi o que me contaram sobre aquela pessoa. Mas isto não é uma relação de causa e efeito, que fique claro!

Ou seja, isso não é uma desculpa, no sentido de dizer “foi assim que fui criado, logo não posso ser diferente”. Ao contrário, nossas demonstrações de preconceitos são indícios sobre a necessidade de um olhar profundo para nós mesmos e nossas relações com os outros e as outras coisas. Se antes de entrarmos em contato com alguém já damos a esta pessoa um título, não estamos apenas nos esquivando de entrar em contato com ela. Estamos também restringindo uma importante parte de nossa existência, estamos restringindo nosso contato, nosso estar aberto ao outro e a novas experiências.

Vale lembrar que, independente das pesquisas que possam trazer “luzes explicativas” sobre homofobia e preconceitos de qualquer espécie, o preconceito caracteriza-se por uma séria e importante restrição em nosso modo de nos relacionarmos com os outros humanos: a possibilidade de entrar em contato de forma aberta e disponível para o que os outros têm a nos oferecer em sua plenitude. Não seria melhor se conhecêssemos antes de julgar?

(*)Vitor Sampaio é psicólogo mestrando em Fenomenologia-Existencial, mostra como identificar e principalmente evitar esse problema que tanto limita o relacionamento humano.

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