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Identificação animal como estratégia de defesa sanitária

Por Thaís Basso Amaral e Vanessa Felipe de Souza (*) | 28/07/2015 08:45

A globalização resultou no aumento da comercialização internacional de animais e de seus subprodutos. Porém, as doenças infecciosas são uma das principais barreiras para a expansão deste comércio. Todavia, para o Brasil se manter como o primeiro exportador mundial de carne bovina é necessário reforçar as medidas de controle sanitário, sendo o principal desafio manter e expandir a área livre de febre aftosa, especialmente porque outros países da América do Sul ainda são endêmicos ou apresentam surtos esporádicos da doença. Em países como o Brasil, cuja produção é caracterizada por deslocamentos entre propriedades e com distintos sistemas de criação, a identificação individual é importante para assegurar a rastreabilidade do processo produtivo. Para o produtor, antes mesmo da rastreabilidade em si, a identificação permite otimizar o controle interno da atividade pecuária, facilitando a gestão da propriedade rural.

Concomitante ao crescimento da pecuária brasileira, o mercado global está cada vez mais atento tanto à qualidade da carne, como à inocuidade do produto final, à eficiência do sistema de produção, bem como à atenção ao bem-estar animal. Essas demandas foram desencadeadas pela exigência da sustentabilidade da cadeia produtiva, e foram intensificadas com a descoberta da doença da vaca louca em 1996, na Europa, além do constante risco da ocorrência de febre aftosa. Em adição, o mercado consumidor passou a exigir o rastreamento do alimento na cadeia produtiva, além da transparência no processo. Assim, é estratégico para o País adotar ações padronizadas que resultem em alimentos seguros, com garantia de origem, e associados à sustentabilidade produtiva.

Para garantir a rastreabilidade de toda a vida do animal até a comercialização do produto final, qualquer sistema deve passar pelo controle individual. A identificação é a chave para o registro de todas as ocorrências e práticas de manejo.

É um procedimento essencial que possibilita a avaliação do desempenho do rebanho e sua higidez sanitária, o que contribuipara a tomada de decisões administrativas. Além disso, atende às normas e aos procedimentos em boas práticas agropecuárias, para garantir ao mercado alimentos de qualidade e livres de resíduos e contaminantes de qualquer natureza.

Destaca-se, ainda, seu papel no sucesso das ações de defesa sanitária animal que, dependendo do sistema de identificação utilizado, pode fornecer informações relevantes em tempo real. Outra vantagem é que a adoção de um sistema de rastreio eficiente atende às exigências de comércio internacional e condições sanitárias regulamentadas pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE).

Como exemplo desses benefícios, a identificação individual dos animais localizados na fronteira entre Paraguai e Mato Grosso do Sul resultou no reconhecimento do local como zona livre de febre aftosa com vacinação pela OIE, quatro anos após a implementação da Zona de Alta Vigilância (ZAV) nesta fronteira. Destaca-se que o Estado possui doze municípios na linha de fronteira com o Paraguai, o que corresponde a 30% do território e 17% de seus bovinos.

Entre os sistemas de identificação animal, a tatuagem na face interna do pavilhão auricular, marcas a ferro quente e brincos numerados são os mais utilizados. No entanto, a diversidade de raças e manejos, a tatuagem e marcação a ferro em animais de pelagem escura ou excesso de pelos, e os erros na transcrição manual de dados (associados ao labor e pouca eficiência) motivou a procura por métodos mais eficientes.

Em relação à marcação a ferro quente, além do desconforto causado ao animal, pode danificar o couro se não atendidas as recomendações da Lei nº 4.714, de 29 de junho de 1965, com consequente redução do valor desse. No caso dos brincos, a perda anual varia entre 3% e 15%, de acordo com a raça e o tipo de ambiente, o que favorece erros no processo de rastreabilidade e perdas para o produtor. O brinco pode causar ainda um processo traumático e lesões da pele, o que propicia a instalação de infecções e bicheiras.

Por outro lado, a utilização de dispositivos eletrônicos como transponders (RFID), balanças eletrônicas, GPS, leitores de códigos de barras, sensores de biometria, entre outros, é sem dúvida a forma mais segura e eficiente para identificação de animais, pois elimina erros na transcrição manual de dados, bem como a necessidade de contenção do animal.

Com informações sobre as ocorrências relevantes ao longo da vida do animal como vacinas, regime alimentar, variação de peso, indícios de febre, ocorrência de cio e parto, entre outras, é possível rastrear a origem de problemas ao longo da cadeia de produção, além de permitir o monitoramento da saúde do animal, ajustar o manejo, além de embasar com segurança a tomada de decisão quanto a compra e venda de animais, e estimar a previsão de lucros, por exemplo. Assim, é possível atingir o efetivo controle da produção desde o nascimento dos animais até o fornecimento do produto final na gôndola, melhorando a produtividade e a eficiência do processo produtivo.

Independente do método, a identificação individual de animais contribui de forma inconteste com informações para estratégias de combate a doenças, monitoramento da eficiência de vacinas, consolidação de sistemas de informação e vigilância nos âmbitos nacional e internacional, redução de inconsistências de identificação tanto durante a inspeção quanto em diagnóstico clínico e laboratorial, e otimização do efetivo controle de movimentação animal, seus produtos e subprodutos. É, portanto, elemento essencial em qualquer estratégia de segurança e defesa sanitária animal.

(*) Thaís Basso Amaral e Vanessa Felipe de Souza, pesquisadoras da Embrapa Gado de Corte

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